Unificação europeia e pontes para a África: secretários das conferências episcopais
da Europa acompanham transformações no velho continente
(20/6/2007) D. Carlos Azevedo, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP),
considera que a presidência portuguesa da União Europeia pode criar "pontes" para
África, aproveitando a ligação especial do nosso país a este Continente. Após
ter participado no 35.º encontro anual de secretários das Conferências Episcopais
da Europa, que decorreu em Minsk, Bielorrússia, de 14 a 18 de Junho, este responsável
indicou à Agência ECCLESIA que, nesta reunião, se abordou a questão da presença cada
vez maior de populações de origem africana ou muçulmana, que coloca novos "problemas
pastorais". Num contexto de fortes movimentos migratórios, as comunidades cristãs
são chamadas a "denunciar os atentados contra os direitos humanos, assumindo uma posição
de crítica política, económica e social quanto ao tráfico de pessoas ou a prostituição".
Portugal, pela sua história e pelo seu presente, com milhões de emigrantes, deve saber
estar à altura dos desafios. O comunicado final deste encontro,, indica que este
fenómeno das migrações é um "sinal dos tempos", depois de ter sido proibido emigrar
sob alguns regimes comunistas ou de países como a Espanha (hoje com mais de 4 milhões
de imigrantes), locais de emigrantes, se transformarem em terras de imigração. "A
Igreja preocupa-se com os problemas sociais ligados ao fenómeno migratório: ilegalidade,
desemprego, envelhecimento das populações nos países de partida, tráfico de seres
humanos, desagregação das famílias, crianças que crescem longe dos seus pais", referem
os participantes. A nível interno, a assistência pastoral aos diversos grupos
étnicos coloca desafios próprios. D. Carlos Azevedo sublinha que é preciso encontrar
soluções em diálogo com os Bispos das comunidades locais e os das dioceses de origem.
"Tem de ser cada Bispo a pedir missionários, não as pessoas a virem com padres atrás",
indica. Unificação europeia Relativamente ao futuro da UE, D. Carlos
Azevedo fala das dúvidas que rodeiam o "mini-Tratado" que se discute, após o falhanço
da Constituição Europeia. "Está tudo muito em suspenso e notámos algum pessimismo
sobre a obtenção do consenso", lamenta. No ano do 50.º aniversário dos Tratados
de Roma, fundadores da Comunidade Europeia, o secretário da CEP entende que "só com
muita sorte se poderá chegar a um Tratado de Lisboa". Num último desenvolvimento
que confirma este cepticismo, o primeiro-ministro polaco, Jaroslaw Kaczynski, reafirmou
que a Polónia vai vetar a proposta de novo Tratado Europeu se não for reaberta a discussão
sobre o sistema de voto. D. Carlos Azevedo sublinha que "a Igreja tem sido das
instituições que mais apoia tudo o diz respeito à unificação europeia, mesmo quando
algumas populações manifestam mal-estar". Este responsável lamenta que alguma
legislação europeia seja marcada por um "espírito laicista" que a vai invadindo, "sobretudo
no sector da família e da cultura da vida". O futuro da Europa passa pela consciência
de que esta deve ser uma comunidade de "valores", que não esqueça a "cultura cristã".
"A Europa tem de salvaguardar os valores, essa é a grande questão", conclui. O
comunicado final do encontro sublinha a necessidade de promover uma rede europeia
de "leigos cristãos competentes, capazes de fazer ouvir a sua voz nas problemáticas
da UE, sobre as questões da bioética bem como sobre as questões sociais ou jurídicas".