A conversão do jovem Francisco, aos 25 anos, estímulo e apelo para a juventude de
hoje
(17/6/2007) Segundo declarou o próprio Bento XVI, o seu encontro com os jovens, na
esplanada em frente à basílica de Santa Maria dos Anjos, ao fim da tarde deste domingo,
foi “pensado... quase como ponto culminante da jornada”, com “um significado particular”.
De facto, observou, se “São Francisco fala a todos”, ele “tem precisamente para os
jovens uma atracção especial”. “A sua conversão teve lugar quando estava no pleno
da sua vitalidade, das suas experiências, dos seus sonhos. Tinha passado 25 anos sem
conseguir descobrir o sentido da vida. Poucos meses antes de morrer, recordará aquele
período como o tempo em que estava nos pecados”. Em que pensava ele ao dizer
isto, de que “pecados” se tratava. Não é fácil determina-lo, reconheceu o Papa, referindo
os textos biográficos primitivos chegados até nós. Bento XVI tentou, ainda assim,
evocar alguns traços característicos da juventude de Francisco, antes da sua “conversão”,
há 800, reflectindo como esses elementos se encontram, de algum modo, nos jovens de
hoje. Por exemplo, quando ele, no seu tempo, passava a vida a girar, de dia e
de noite, divertindo como podia, dissipando tudo o que ganhava. Assim sucede com a
juventude de hoje, nomeadamente nos fins de semana, ou mesmo através “navegando” em
Internet. Uma busca de felicidade a todo o custo, que não fornece senão alguns vislumbres
de alegria, pois só o Infinito pode encher plenamente o coração. O mesmo se diga
do gosto inicial de Francisco por trajes sumptuosos, o mais possível originais, com
a sua boa dose de vaidade, coisa de que ninguém está isento. É o que hoje em dia se
diz “cuidar da imagem”. O que pode exprimir um inocente desejo de ser bem acolhido,
mas onde muitas vezes se insinua o orgulho, a procura de nós mesmos a qualquer preço,
o egoísmo, a vontade de prepotência. Ora – observou Bento XVI, dirigindo-se aos jovens
– “centrar a vida sobre si mesmo, é uma armadilha mortal: podemos ser nós próprios
só se nos abrirmos no amor, amando Deus e os nossos irmãos”. Outro “aspecto que
impressionava os contemporâneos de Francisco era também a sua ambição, a sua sede
de glória e de aventura”. E foi este aspecto (desejo de se afirmar) de que Deus se
serviu para o “apanhar”, apontando-lhe “o caminho de uma santa ambição, projectada
para o infinito”.
Passando depois a comentar algumas das perguntas que
os jovens lhe tinham dirigido, em vista deste encontro, o Papa começou pela “dificuldade
de discernir a verdade”.
“É uma questão que atravessa largamente a sociedade
e a cultura de hoje,. O Evangelho apresenta Jesus como verdade: verdade de Deus e
ao mesmo tempo verdade do homem. Como aconteceu com Francisco, também a nós Cristo
fala ao coração. Corremos o risco de passar uma vida inteira ensurdecidos por vozes
ruidosas mas vazias, corremos o risco de deixar fugir a sua voz, a única que conta,
porque é a única que salva. “Contentamo-nos com fragmentos de verdade ou deixamo-nos
seduzir por verdades que só o são na aparência. E havemos então de nos admirar se
nos sentimos no meio de um mundo contraditório que, não obstante tantas coisas belas,
tantas vezes nos desilude, com suas expressões de banalidade, injustiça, violência?
Sem Deus, o mundo perde o seu fundamento e a sua direcção de marcha. “Não tenhais
medo de imitar Francisco – exortou o Papa, dirigindo-se aos jovens – sobretudo na
capacidade de vos tornardes vós próprios. Ele soube fazer silêncio dentro de si, colocando-se
à escuta da Palavra de Deus. Passo a passo, deixou-se conduzir pela mão até o pleno
encontro com Jesus, até dele fazer o tesouro e a luz da sua vida.
Também
o encontro com os irmãos mais sofredores, colocando-se ao seu serviço, foi um encontro
com Jesus – fez notar o Papa, referindo a lugar de Rivotorto, para onde eram remetidos
os leprosos – os últimos, marginalizados, em relação aos quais Francisco experimentava
um irresistível sentido de rejeição. Mas tocado pela graça, abriu-lhes o seu coração…
beijando-os e servindo-os… E era assim que a graça ia plasmando Francisco. Tornou-se
capaz de fixar o seu olhar sobre o rosto de Cristo, escutando a sua voz – recordou
o Papa, referindo o Crucifixo de São Damião, que falou a Francisco, chamando à ousada
missão de reparar a sua casa, em ruínas. A “imagem do Crucificado/Ressuscitado, vida
da Igreja (fez notar aos jovens o Papa) continua a falar-nos a nós, como há dois mil
anos falou aos seus apóstolos e há oitocentos anos falou a Francisco. A Igreja vive
continuamente deste encontro”.
“Precisamente porque de Cristo,
Francisco é também homem da Igreja. Do Crucifixo de São Damião tinha tido a
indicação de reparar a casa de Cristo, que é precisamente a Igreja. Entre Cristo e
a Igreja existe uma relação íntima e indissolúvel. Ser chamado a repará-la implicava,
sem dúvida, na missão de Francisco, algo de próprio e de original. Ao mesmo tempo,
aquela tarefa mais não era, ao fim e ao cabo, senão a responsabilidade atribuída por
Cristo a todo o baptizado. A Igreja cresce e reforma-se sobretudo na medida em que
cada um de nós se converte e se santifica. E edifica-se através das muitas vocações,
a partir da vocação laical e familiar, até à vida de especial consagração, à vocação
sacerdotal”.
Bento XVI evocou a “grande veneração” que Francisco, diácono,
nutria em relação aos sacerdotes. “Embora sabendo que também nos ministros de Deus
há tanta pobreza e fragilidade, via-os como ministros do Corpo de Cristo, e isso bastava
para suscitar nele um sentido de amor, reverência e obediência”. “Afecto verdadeiramente
filial” era também o que tinha Francisco ao seu bispo de Assis. E “sentiu de modo
especial a missão do Vigário de Cristo, ao qual sujeito a sua Regra e confiou a Ordem.
Se os Papa tanto afecto têm mostrado a Assis, ao longo da história, trata-se num certo
sentido de recambiar o afecto que Francisco teve pelo Papa” – observou Bento XVI,
reafirmando-se na esteira dos seus predecessores, em especial de João Paulo II.