2007-06-06 15:47:58

Igreja pressiona G8:


(6/6/2007) Os Bispos católicos dos países mais industrializados do mundo escreveram aos líderes do G8, pedindo soluções concretas para os principais problemas que afectam o planeta. O desafio é lançado a poucos dias da cimeira do G8, marcada para Heiligendamm (Alemanha), de 6 a 8 de Junho.
Na missiva pedem-se "acções audazes para erradicar a pobreza global" e actuar em áreas como a saúde, as mudanças climáticas, a paz e a segurança. Este é mais um apelo a juntar à longa lista de intervenções dirigidas ao G8, desde o Papa às organizações católicas de solidariedade.
Os bispos louvam a iniciativa do G-8 em Gleneagles (Escócia), no ano de 2005, quando os países mais ricos do mundo se empenharam em investir, até o ano 2010, nos países em desenvolvimento, 50 mil milhões de dólares por ano, metade dos quais destinados à África. Os prelados lamentam, todavia, que, durante todo o ano de 2006, as ajudas dos países industrializados aos países em desenvolvimento tenham permanecido imutáveis.
"Nós pedimos que ajam, tendo em conta as obrigações morais que partilhamos, pelo bem-estar de cada pessoa humana, mas também porque, ao substituirmos o desespero pela esperança, na África, conseguiremos para todos um mundo mais seguro", exortam os presidentes dos Episcopados dos países do G-8, em carta divulgada pela Rádio Vaticano.
Entre os temas mais urgentes, segundo os bispos, estão a prevenção da SIDA, as mudanças climáticas, o respeito pelos recursos naturais do planeta, a crise humanitária na região sudanesa do Darfur e a educação.
"Rezamos para que o vosso encontro seja abençoado por um espírito de colaboração que permita aos líderes do G-8 de trabalhar pelo bem comum, adoptando medidas concretas, no que diz respeito à pobreza global, à prevenção na área da saúde, às mudanças climáticas, à paz e à segurança", conclui a missiva.
Antes desta carta, já os participantes na Conferência de Aparecida tinham deixado um apelo ao G8. “Embora os países do G8 não tenham um mandato para um governo global, as suas decisões acarretam amplas consequências para a vida de milhões de pessoas em todo o mundo", escreveram, num telegrama, os Bispos que participaram na V Conferência Geral do episcopado latino-americano e caribenho.
“Assumindo a nossa responsabilidade de pastores dos nossos povos tão sofredores devido às injustas relações entre países pobres e países ricos, apelamos aos chefes de Estado e de Governo do G8 que guiem a economia mundial para um desenvolvimento humano, ecológico e sustentável, fundado sobre a justiça, a solidariedade, e o bem comum global”, acrescentam.
Em Maio, um grupo de 11 Cardeais e Bispo de todo o mundo esteve em périplo pela Europa, numa campanha de pressão sobre o G8. O Cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, que liderou a comitiva, revelou aos jornalistas que Bento XVI estimulou o seu trabalho e pediu aos presentes que continuassem "a fazer o bem pelo mundo".
Este grupo de Cardeais e Bispos apresentou uma declaração em Berlim, manifestando "desilusão" pelo atraso dos países mais ricos em cumprir as promessas de ajuda ao desenvolvimento. Antes da cimeira do G8, pediam-se garantias, com calendários "fiáveis" de financiamento a meio termo, de que "os objectivos de utilizar 0,51% do PIB até 2010 e 0,7% do PIB até 2015 para a cooperação em matéria de desenvolvimento sejam efectivamente atingidos".
Bento XVI intervém
Perspectivando o encontro de Heiligendamm, Bento XVI escreveu à Chanceler da Alemanha, Angela Merkel. O Papa considera que a eliminação da pobreza constitui "uma das tarefas mais importantes do nosso tempo".
Nesta carta, pede "condições comerciais favoráveis" para os países pobres, incluindo "um acesso amplo e sem reservas ao mercado", bem como o perdão "completo e incondicional" da dívida externa. Esta medida, acrescenta, deve ser acompanhada de outras que assegurem que os países pobres não acabem, novamente, "em situações de dívida insustentável".
A missiva tem data de 16 de Dezembro de 2006. Para Bento XVI, é fundamental que não se perca de vista o problema da pobreza e se coloque o continente africano "no centro das negociações políticas internacionais". Neste contexto, tanto a UE como o G8 devem "desempenhar um papel chave".
"Pessoas de diferentes religiões e culturas de todo o mundo estão convencidas de que o objectivo de eliminar a pobreza até 2015 é um dos mais importantes do nosso tempo", refere o Papa.
Permitir que os países mais pobres se desenvolvam de uma foram cada vez mais interligada com os países ricos, no processo da globalização, é para Bento XVI "um dever moral, grave e incondicional, baseado sobre a pertença comum à família humana".
A carta apela aos países ricos para que assumam os seus compromissos no âmbito da ajuda ao desenvolvimento, pedindo um maior investimento "no campo da pesquisa e do desenvolvimento de fármacos para o tratamento da Sida, da tuberculose, da malária e de outras doenças tropicais".
Assim, convida a "enfrentar a urgente tarefa científica de criar uma vacina contra a malária". Entre os outros pedidos do Papa à comunidade internacional estão uma redução significativa do comércio de armas, um combate ao "tráfico ilegal de matérias-primas" e da fuga de capitais dos países pobres, bem como da "lavagem de dinheiro".
Fazer a Ajuda Funcionar
Também por causa da Cimeira do G8, a CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade) e a Caritas Internacionalis, as duas maiores redes de organizações católicas para o Desenvolvimento da Europa, uniram-se para lançar a Campanha "Make Aid Work" (www.make-aid-work.org/portugues/home.html)
Este movimento das organizações católicas para o desenvolvimento europeias tem como principal objectivo sensibilizar a opinião pública, em especial os mais de mil milhões de católicos em todo o mundo, para que se manifeste a favor do cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, assinados em 2000, na Cimeira do Milénio.
Uma faixa com a inscrição "Make Aid Work" será colocada amanhã junto da Basílica de São Pedro, pelos participantes na 18ª Assembleia Geral da Confederação Internacional da Cáritas.
A Cáritas vai aproveitar esta oportunidade para chamar a atenção da comunidade internacional para o fracasso que representam os países mais ricos do mundo, ao não cumprirem os compromissos assumidos há dois anos, no sentido de aumentarem, em 50 000 milhões de dólares, as ajudas aos países pobres do mundo.
O secretário-geral da Caritas Internationalis afirmou que “a Cáritas deseja que os países do G-8 cumpram a sua promessa de aumentar as ajudas aos países pobres, bem como garantirem que essas ajudas sejam utilizadas de forma eficaz, por forma a pôr fim à pobreza”. Duncan MacLaren alertou, ainda, para o facto de milhões de pessoas irem "sofrer consequências irreparáveis se essas promessas não forem cumpridas”.
As organizações católicas do Norte e do Sul interpelam os governos dos países do G8 e os governos de países em desenvolvimento para que cumpram sua responsabilidade na luta eficaz contra a pobreza, a fome e a doença: mais de 100 milhões de crianças nos países em desenvolvimento carecem da oportunidade de frequentar uma escola; em cada ano, 500 000 mulheres morrem no parto, por falta de atendimento médico adequado; só na África, há 4 milhões de pessoas com SIDA que não têm acesso aos medicamentos de que necessitam.
Nos 50 países mais pobres do mundo a situação ainda é mais dramática: um terço da população adulta não sabe ler nem escrever, uma em três pessoas sofre de desnutrição e a esperança média de vida não vai além dos 52 anos.
Em Portugal, tanto a Cáritas como a Fundação Evangelização e Culturas apoiam esta campanha.








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