(6/6/2007) Os Bispos católicos dos países mais industrializados do mundo escreveram
aos líderes do G8, pedindo soluções concretas para os principais problemas que afectam
o planeta. O desafio é lançado a poucos dias da cimeira do G8, marcada para Heiligendamm
(Alemanha), de 6 a 8 de Junho. Na missiva pedem-se "acções audazes para erradicar
a pobreza global" e actuar em áreas como a saúde, as mudanças climáticas, a paz e
a segurança. Este é mais um apelo a juntar à longa lista de intervenções dirigidas
ao G8, desde o Papa às organizações católicas de solidariedade. Os bispos louvam
a iniciativa do G-8 em Gleneagles (Escócia), no ano de 2005, quando os países mais
ricos do mundo se empenharam em investir, até o ano 2010, nos países em desenvolvimento,
50 mil milhões de dólares por ano, metade dos quais destinados à África. Os prelados
lamentam, todavia, que, durante todo o ano de 2006, as ajudas dos países industrializados
aos países em desenvolvimento tenham permanecido imutáveis. "Nós pedimos que ajam,
tendo em conta as obrigações morais que partilhamos, pelo bem-estar de cada pessoa
humana, mas também porque, ao substituirmos o desespero pela esperança, na África,
conseguiremos para todos um mundo mais seguro", exortam os presidentes dos Episcopados
dos países do G-8, em carta divulgada pela Rádio Vaticano. Entre os temas mais
urgentes, segundo os bispos, estão a prevenção da SIDA, as mudanças climáticas, o
respeito pelos recursos naturais do planeta, a crise humanitária na região sudanesa
do Darfur e a educação. "Rezamos para que o vosso encontro seja abençoado por
um espírito de colaboração que permita aos líderes do G-8 de trabalhar pelo bem comum,
adoptando medidas concretas, no que diz respeito à pobreza global, à prevenção na
área da saúde, às mudanças climáticas, à paz e à segurança", conclui a missiva. Antes
desta carta, já os participantes na Conferência de Aparecida tinham deixado um apelo
ao G8. “Embora os países do G8 não tenham um mandato para um governo global, as suas
decisões acarretam amplas consequências para a vida de milhões de pessoas em todo
o mundo", escreveram, num telegrama, os Bispos que participaram na V Conferência Geral
do episcopado latino-americano e caribenho. “Assumindo a nossa responsabilidade
de pastores dos nossos povos tão sofredores devido às injustas relações entre países
pobres e países ricos, apelamos aos chefes de Estado e de Governo do G8 que guiem
a economia mundial para um desenvolvimento humano, ecológico e sustentável, fundado
sobre a justiça, a solidariedade, e o bem comum global”, acrescentam. Em Maio,
um grupo de 11 Cardeais e Bispo de todo o mundo esteve em périplo pela Europa, numa
campanha de pressão sobre o G8. O Cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, que
liderou a comitiva, revelou aos jornalistas que Bento XVI estimulou o seu trabalho
e pediu aos presentes que continuassem "a fazer o bem pelo mundo". Este grupo
de Cardeais e Bispos apresentou uma declaração em Berlim, manifestando "desilusão"
pelo atraso dos países mais ricos em cumprir as promessas de ajuda ao desenvolvimento.
Antes da cimeira do G8, pediam-se garantias, com calendários "fiáveis" de financiamento
a meio termo, de que "os objectivos de utilizar 0,51% do PIB até 2010 e 0,7% do PIB
até 2015 para a cooperação em matéria de desenvolvimento sejam efectivamente atingidos".
Bento XVI intervém Perspectivando o encontro de Heiligendamm, Bento XVI escreveu
à Chanceler da Alemanha, Angela Merkel. O Papa considera que a eliminação da pobreza
constitui "uma das tarefas mais importantes do nosso tempo". Nesta carta, pede
"condições comerciais favoráveis" para os países pobres, incluindo "um acesso amplo
e sem reservas ao mercado", bem como o perdão "completo e incondicional" da dívida
externa. Esta medida, acrescenta, deve ser acompanhada de outras que assegurem que
os países pobres não acabem, novamente, "em situações de dívida insustentável". A
missiva tem data de 16 de Dezembro de 2006. Para Bento XVI, é fundamental que não
se perca de vista o problema da pobreza e se coloque o continente africano "no centro
das negociações políticas internacionais". Neste contexto, tanto a UE como o G8 devem
"desempenhar um papel chave". "Pessoas de diferentes religiões e culturas de todo
o mundo estão convencidas de que o objectivo de eliminar a pobreza até 2015 é um dos
mais importantes do nosso tempo", refere o Papa. Permitir que os países mais pobres
se desenvolvam de uma foram cada vez mais interligada com os países ricos, no processo
da globalização, é para Bento XVI "um dever moral, grave e incondicional, baseado
sobre a pertença comum à família humana". A carta apela aos países ricos para
que assumam os seus compromissos no âmbito da ajuda ao desenvolvimento, pedindo um
maior investimento "no campo da pesquisa e do desenvolvimento de fármacos para o tratamento
da Sida, da tuberculose, da malária e de outras doenças tropicais". Assim, convida
a "enfrentar a urgente tarefa científica de criar uma vacina contra a malária". Entre
os outros pedidos do Papa à comunidade internacional estão uma redução significativa
do comércio de armas, um combate ao "tráfico ilegal de matérias-primas" e da fuga
de capitais dos países pobres, bem como da "lavagem de dinheiro". Fazer a Ajuda
Funcionar Também por causa da Cimeira do G8, a CIDSE (Cooperação Internacional
para o Desenvolvimento e Solidariedade) e a Caritas Internacionalis, as duas maiores
redes de organizações católicas para o Desenvolvimento da Europa, uniram-se para lançar
a Campanha "Make Aid Work" (www.make-aid-work.org/portugues/home.html) Este movimento
das organizações católicas para o desenvolvimento europeias tem como principal objectivo
sensibilizar a opinião pública, em especial os mais de mil milhões de católicos em
todo o mundo, para que se manifeste a favor do cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento
do Milénio, assinados em 2000, na Cimeira do Milénio. Uma faixa com a inscrição
"Make Aid Work" será colocada amanhã junto da Basílica de São Pedro, pelos participantes
na 18ª Assembleia Geral da Confederação Internacional da Cáritas. A Cáritas vai
aproveitar esta oportunidade para chamar a atenção da comunidade internacional para
o fracasso que representam os países mais ricos do mundo, ao não cumprirem os compromissos
assumidos há dois anos, no sentido de aumentarem, em 50 000 milhões de dólares, as
ajudas aos países pobres do mundo. O secretário-geral da Caritas Internationalis
afirmou que “a Cáritas deseja que os países do G-8 cumpram a sua promessa de aumentar
as ajudas aos países pobres, bem como garantirem que essas ajudas sejam utilizadas
de forma eficaz, por forma a pôr fim à pobreza”. Duncan MacLaren alertou, ainda, para
o facto de milhões de pessoas irem "sofrer consequências irreparáveis se essas promessas
não forem cumpridas”. As organizações católicas do Norte e do Sul interpelam os
governos dos países do G8 e os governos de países em desenvolvimento para que cumpram
sua responsabilidade na luta eficaz contra a pobreza, a fome e a doença: mais de 100
milhões de crianças nos países em desenvolvimento carecem da oportunidade de frequentar
uma escola; em cada ano, 500 000 mulheres morrem no parto, por falta de atendimento
médico adequado; só na África, há 4 milhões de pessoas com SIDA que não têm acesso
aos medicamentos de que necessitam. Nos 50 países mais pobres do mundo a situação
ainda é mais dramática: um terço da população adulta não sabe ler nem escrever, uma
em três pessoas sofre de desnutrição e a esperança média de vida não vai além dos
52 anos. Em Portugal, tanto a Cáritas como a Fundação Evangelização e Culturas
apoiam esta campanha.