2007-06-01 11:57:50

Conferência de Aparecida entra para a história: Chegou ao fim a V Conferência Geral dos Episcopados da América Latina, o novo coração da


(1/6/2007) Com um apelo em favor da defesa da vida e dos mais desprotegidos, na sociedade, e da valorização da diversidade de carismas, dentro da Igreja, chegou hoje ao fim a V Conferência Geral dos Episcopados Latino-Americanos e Caribenhos.
A reunião magna da Igreja Católica na região decorreu de 13 a 31 de Maio, em Aparecida (Brasil), juntando 266 participantes. Representantes de 22 conferências episcopais procuraram, com a ajuda de convidados, especialistas e observadores, responder às interrogações que se colocam sobre o futuro da Igreja num espaço geográfico que engloba quase metade dos católicos de todo o mundo.
A cerimónia eucarística que encerrou o encontro foi presidida pelo Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Arcebispo de Santiago (Chile) e Presidente do Conselho Episcopal da América Latina (CELAM).
Este responsável desafiou os católicos a serem "peregrinos e missionários", enviados pelo Senhor para "a vida do mundo".
O Cardeal Errázuriz agradeceu o acolhimento que foi prestado aos participantes e, também, aos jornalistas que acompanharam os trabalhos. No final da celebração, os presidentes das 22 conferências episcopais presentes desfilaram, em procissão, ao lado das bandeiras dos seus países.
Os bispos aprovaram a "Grande Missão Continental", cujos detalhes serão discutidos na reunião de presidências episcopais do CELAM, no mês de Junho, em Bogotá (Colômbia).
"Será um novo Pentecostes que nos impulsione a ir, de modo especial, em busca dos católicos afastados e dos que pouco ou nada conhecem Jesus Cristo, para que formemos com alegria a comunidade de amor do nosso Deus e Pai", asseguram.
Opção pelos pobres
Como tinham feito Paulo VI em Medellin (1968) e João Paulo II em Puebla (1979) e Santo Domingo (1992), Bento XVI inaugurou os trabalhos da Conferência, encontro que se realizou apenas pela quinta vez em mais de meio século (neste mesmo período houve seis Papas, por exemplo), deixando perspectivas para a próxima década.
Perante problemas sociais graves e o avanço das seitas, o Papa considerou que Deus e a evangelização são as respostas para os desafios da América Latina e os Bispos foram desafiados a centrarem a sua acção na figura de Jesus para fazer face a um "certo enfraquecimento" da vida cristã, fenómeno que acontece, segundo Bento XVI, "devido ao secularismo, ao hedonismo, ao indiferentismo e ao proselitismo de numerosas seitas, de religiões animistas e de novas expressões pseudo-religiosas".
Questões como a ecologia, a defesa das minorias, a renovação das estruturas eclesiais ou as consequências da globalização sobre as populações da região fazem parte das preocupações dos 266 participantes. Juntamente com a síntese do Documento Final (ver notícia relacionada), que o Papa receberá no próximo dia 11 de Junho, aqueles que estiveram presentes na Conferência enviaram uma mensagem aos povos da região, onde asseguram que a Igreja Católica quer estar ao lado das pessoas e de braços abertos.
Para além de reafirmar a opção preferencial pelos pobres, os Bispos indicam que "com firmeza e decisão, continuaremos a exercer a nossa tarefa profética discernindo onde está o caminho da verdade e da vida, levantando a nossa voz nos espaços sociais dos nossos povos e cidades, especialmente a favor dos excluídos da sociedade".
"Compromete-nos a defender os mais fracos, especialmente as crianças, os doentes, os incapacitados, os jovens em situações de risco, os idosos, os presos, os migrantes. Velamos pelo respeito ao direito que têm os povos de defender e promover 'os valores subjacentes em todos os estratos sociais, especialmente nos povos indígenas'. Queremos contribuir para garantir condições de vida digna: saúde, alimentação, educação, habitação e trabalho para todos", assinala a Mensagem, citando Bento XVI.
Além desta palavra em favor dos direitos dos povos indígenas, os Bispos convocam as forças vivas da sociedade "para cuidar da nossa casa comum, a Terra, ameaçada de destruição". "Queremos favorecer um desenvolvimento humano e sustentável, baseado na justa distribuição das riquezas e na comunhão dos bens entre todos os povos", pode ler-se.
Na linha das preocupações apresentadas por Bento XVI, os participantes querem "estimular a formação de políticos e legisladores cristãos para que contribuam na construção de uma sociedade justa e fraterna, de acordo com os princípios da Doutrina Social da Igreja".
O texto estimula a combater "os males que causam dano ou destroem a vida, como o aborto, as guerras, os sequestros, a violência armada, o terrorismo, a exploração sexual e o narcotráfico".
"Convidamos todos os dirigentes das nossas nações a defender a verdade e a velar pelo inviolável e sagrado direito à vida e à dignidade da pessoa humana, da concepção até a morte natural", acrescentam os Bispos.
Mudança de época
Os delegados dos episcopados latino-americanos e caribenhos à Conferência de Aparecida, sublinharam, por diversas vezes, a "mudança de época" que se vive na região, com impacto na realidade social, política, económica e religiosa.
Presente como convidado, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga destacou em conferência de imprensa essa percepção de uma "mudança de época". “São tempos diferentes. Temos de mudar. Se não mudarmos estaremos condenados a passar despercebidos”, disse.
O Arcebispo de Braga recordou que discípulos e missionários somos todos e manifestou que o desafio é a renovação das estruturas da Igreja. “Estar mais perto da gente, de maneira especial dos pobres. Sair de uma Igreja refugiada em si mesmo, para uma Igreja que dá a cara e sai ao encontro do irmão”, apontou.
D. Jorge Ortiga precisou que os tempos actuais não são de doutrinas nem de linguagens dogmáticas. “Há que falar menos e viver com mais amor. A Igreja deve estar ao serviço da Vida", concluiu.
A Mensagem Final da Conferência assume o desafio de dar "um novo impulso e vigor" à missão da Igreja, perante os desafios desta "nova época".
"O chamamento a ser discípulos-missionários exige de nós uma decisão clara por Jesus e seu Evangelho, coerência entre a fé e a vida, encarnação dos valores do Reino, inserção na comunidade, e ser sinal de contradição e novidade num mundo que promove o consumismo e desfigura os valores que dignificam o ser humano", refere.
Num olhar mais virado para o interior, os Bispos referem que "estamos chamados a ser Igreja de braços abertos, que sabe acolher e valorizar cada um dos seus membros. Por isso, alentamos os esforços que são feitos nas paróquias para ser 'casa e escola de comunhão', animando e formando pequenas comunidades e comunidades eclesiais de base, assim como nas associações de leigos, movimentos eclesiais e novas comunidades".
Ao lado deste esforço de integração da diversidade eclesial, é lançado um apelo para tornar visível o amor e a solidariedade fraterna, promovendo o diálogo com os diferentes protagonistas sociais e religiosos.
Por isso, a Mensagem encerra com uma série de objectivos que passam, entre outros, por "formar comunidades vivas", "promover um laicado amadurecido","impulsionar a participação activa da mulher", "trabalhar com todas as pessoas de boa vontade na construção do Reino", "valorizar e respeitar" os povos indígenas e afro-descendentes, "avançar no diálogo ecuménico", "cuidar da criação" e "colaborar na integração dos povos da América Latina e do Caribe".








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