Um grande teólogo tem a humildade de aceitar as próprias debilidades e as da Igreja:
Bento XVI na audiência geral, a propósito de Tertuliano. No final, os pais de Madeleine
McCann, menina britânica desaparecida a 3 de Maio no sul de Portugal mostraram ao
Papa a fotografia da menina, pedindo-lhe que reze por ela.
(30/5/2007) “Um grande teólogo tem a humildade de aceitar as próprias debilidades
e as da Igreja; caso contrário perde a própria grandeza”: observou Bento XVI, na audiência
geral desta quarta feira, numa Praça de São Pedro repleta de dezenas de milhares de
peregrinos. O Papa falava de Tertuliano, o importante escritor cristão, o primeiro
de língua latina, ao qual se deve a definição da Trindade como “uma só substância
e três pessoas”, mas que depois – referiu Bento XVI – “uma investigação demasiado
individual da verdade e intemperanças de carácter levaram fora da Igreja, aderindo
à heresia dos “montanistas” e fundando mais tarde uma sua seita. Foi neste contexto
que, recordando porventura a sua experiência de teólogo e os vinte anos de responsável
pela Doutrina da Fé, o Papa comentou: “Um grande teólogo há-de caracterizar pela humildade
de aceitar as debilidades da Igreja e as suas próprias, só Deus é Todo Santo, nós
temos sempre necessidade de perdão”.
Os desvios revelados, a partir de certa
altura, por Tertuliano não impediram que a sua obra exercesse uma influência notável
e fecunda, nomeadamente sobre São Cipriano – reconheceu Bento XVI. Os seus escritos,
essencialmente apologéticos, defendem não apenas a fé contra as acusações injustiças,
mas apresentam também de maneira positiva o conteúdo da fé, num diálogo rigoroso com
a cultura do seu tempo. Contribuiu, além disso, para o desenvolvimento do dogma trinitário.
Importante também a sua cristologia, assim como os textos sobre a Igreja, a conduta
moral dos cristãos, a vida futura, as referências a Maria, e o que escreve sobre a
Eucaristia, o Matrimónio, a Reconciliação, o primado de Pedro, a oração e a ressurreição
– tudo pontos fundamentais da fé dos cristãos. “Tertualiano é uma interessante
testemunha dos primeiros tempos da Igreja, quando os cristãos se encontram a ser sujeitos
de uma “nova cultura, entre a herança clássica e a mensagem evangélica”.
O
Papa observou ainda que desde as suas origens a fé cristã propõe a não violência,
facto que mantém hoje em dia toda a actualidade, também à luz do aceso debate sobre
as religiões. Bento XVI referia-se a uma afirmação de Tertuliano, aliás baseada no
Evangelho, segundo a qual o cristão não pode odiar nem sequer os seus inimigos. Uma
exigência moral incontornável da opção da fé, que propõe a não violência como regra
de vida. Não há quem não veja a dramática actualidade deste ensinamento, nomeadamente
à luz do vivo debate em curso sobre as religiões – observou o Papa. Nos escritos de
Tertuliano, muitos são os temas que ainda hoje nós somos chamados a enfrentar, e que
exigem uma fecunda busca interior à qual – disse – convido todos os fiéis, para conseguirem
exprimir de modo cada vez mais convincente a regra da fé, segundo a qual – como escrevia
Tertuliano – nós acreditamos que há um só Deus e nenhum outro fora do Criador do
mundo, que tirou do nada todas as coisas por meio do seu Verbo gerado antes de todas
as coisas.
Não faltou uma saudação em língua portuguesa: A minha saudação
a todos os peregrinos de língua portuguesa, de modo especial aos brasileiros da cidade
Ana Rech, no Rio Grande do Sul, conhecida também pelo nome de “Vila dos Presépios”,
devido à ressonância que dela emana este símbolo natalício em honra de Deus humanado.
Com sua vinda, a nossa pobre humanidade tornou-se morada da Santíssima Trindade. Por
Ela, sejam abençoadas as vossas famílias e comunidades com o dom da unidade e da vida
plena, na solidariedade e na paz".
No final da audiência geral na Praça de
São Pedro os pais de Madeleine McCann, menina britânica desaparecida a 3 de Maio num
aldeamento turístico do sul de Portugal puderam conversar durante breves momentos
com Bento XVI, mostrando-lhe a fotografia da menina e pedindo-lhe que reze por ela. Bento
XVI procurou confortar os pais da pequena Maddie, visivelmente emocionados. O secretário
pessoal do Papa, Georg Gaenswein, guardou a foto da pequena Maddie, sobre a qual Bento
XVI tinha feito um pequeno gesto de bênção. Um gesto de proximidade espiritual,
de oração, de atenção por este caso particular mas também e também pelos tantos pais
de crianças desaparecidas. O Padre Frederico Lombardi ,director da Sala de Imprensa
da Santa Sé comentou assim este encontro do Papa com os pais de menina Madeleine.
Bento XVI quis mostrar a sua atenção, a sua proximidade e o seu apoio espiritual. Um
facto significativo, um acto de apoio aos pais de Madeleine e a todos aqueles que
se empenham na busca e no combate ao fenómeno criminal dos raptos O casal McCann
visitara nos dias passados o Santuário de Fátima, onde estivera em oração, pedindo
pelo regresso da sua filha. Esta visita a Roma dos pais de Madeleine marca
o início de um périplo por várias capitais europeias que a família McCann programou
para divulgar a imagem da filha e recolher informações que levem à sua descoberta.
O casal McCann tem previstas deslocações a Madrid, sexta-feira, e Berlim, na segunda-feira.