FIM DA DIVISÃO ENTRE ORTODOXOS RUSSOS: ASSINADO "ATO CANÔNICO DE COMUNHÃO"
Moscou, 17 mai (RV) - Os ortodoxos russos puseram fim a 80 anos de divisão
com a assinatura, nesta quinta-feira, em Moscou, do "Ato Canônico de Comunhão" entre
o Patriarcado de Moscou e a Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, fundada por sacerdotes
e fiéis que fugiram da Rússia após a revolução bolchevique de 1917.
O documento
foi assinado pelo patriarca da Igreja Ortodoxa russa, Aleksej II, e pelo primeiro
hierarca da Igreja Ortodoxa Russa no Exterior, o metropolita Lavr, em cerimônia realizada
na Catedral de Cristo Salvador, com a presença do presidente russo, Vladímir Putin,
e de outras altas autoridades do país.
"A alegria ilumina nossos corações.
Ocorreu um acontecimento histórico que esperamos há longos anos. A unidade da Igreja
Russa foi recuperada. Foram superadas as divisões eclesiásticas e o confronto social
herdados dos tempos da revolução", disse Aleksej II. "Quando se fortalece a Igreja,
renasce também nossa pátria", acrescentou o patriarca.
Após assinarem o Ato,
Aleksej II e o metropolita Lavr se beijaram três vezes e, depois, o primeiro hierarca
da Igreja Russa no Exterior beijou a mão do Patriarca de Moscou e de todas as Rússias,
em sinal de reconhecimento de sua maior hierarquia.
A divisão dos ortodoxos
russos ocorreu em 1927, dez anos depois da revolução bolchevique, quando a Igreja
Ortodoxa no Exterior rompeu com o Patriarcado de Moscou, que tinha assinado uma declaração
de lealdade ao regime soviético.
Com o fim da União Soviética, em 1991, foi
obtido o acesso a alguns arquivos do KGB (Comitê Estatal de Segurança) e aumentaram
as denúncias de que altos hierarcas da Igreja Ortodoxa Russa colaboraram com os serviços
secretos.
Segundo o padre e ex-deputado, Gleb Yakunin, que fez parte do movimento
democrático que levou Boris Yeltsin ao poder em 1991, Aleksej II colaborou com o KGB.
"Hoje,
após décadas de separação, se pode afirmar com certeza: neste conflito político-eclesiástico
não houve vencedores", disse Putin em discurso na Catedral do Cristo Salvador.
O
chefe do Estado ressaltou que o renascimento da unidade da Igreja é "a condição mais
importante para a recuperação da unidade do mundo russo, cujo pilar espiritual sempre
foi a fé ortodoxa".
Putin destacou que a assinatura do Ato Canônico de Comunhão
na Catedral do Cristo Salvador é um "símbolo do renascimento e do florescimento da
Igreja Ortodoxa Russa".
Segundo o documento, o Patriarcado de Moscou reconhece
a autonomia da Igreja Ortodoxa Russa no Exterior em assuntos pastorais, administrativos,
patrimoniais, mas "em unidade canônica com toda a Igreja Ortodoxa Russa".
Agora,
a Igreja no Exterior elegerá o primeiro hierarca de acordo com seu próprio regulamento,
mas essa escolha deverá ser ratificada pelo patriarca e pelo Sínodo do Patriarcado
de Moscou. (*PL)