“O rico tesouro do continente latino-americano, o seu mais valioso património” é
“a fé em Deus Amor: Bento XVI na Missa deste domingo, em Aparecida, concelebrando
com os bispos da América Latina, na abertura da respectiva Conferência Geral.
(13/5/2007) O Papa quis entregar-lhes de novo, “idealmente”, a Encíclica “Deus caritas
est”, publicada no ano passado, com a qual – recordou – “quis indicar a todos o que
é essencial na mensagem cristã”. Bento XVI começou por considerar “dom especial
da Providência” o “tempo” e o “lugar” desta celebração eucarística: no período que
antecede de pouco o Pentecostes, quando “a Igreja é convidada a intensificar a invocação
ao Espírito Santo”; e no santuário de Nossa Senhora Aparecida, “coração mariano do
Brasil”. “Maria nos acolhe neste Cenáculo – observou – e, como Mãe e Mestra, nos ajuda
a elevar a Deus uma prece unânime e confiante”.
Recordando que a Eucaristia
é “Sacramentum caritatis” (sacramento da caridade), o Papa sublinhou que “só a caridade
de Cristo, emanada pelo Espírito Santo, pode fazer desta reunião um autêntico acontecimento
eclesial, momento de graça para este Continente e para o mundo inteiro”. As leituras
da Missa eram as do próprio deste sexto domingo do Tempo Pascal. Comentando a primeira
Leitura, dos Actos dos Apóstolos, referente ao chamado “Concílio de Jerusalém” e à
decisão tomada, comentou o Papa: Esta página
dos Actos nos é muito apropriada, por termos vindo aqui para uma reunião eclesial.
Fala-nos do sentido do discernimento comunitário em torno dos grandes problemas que
a Igreja encontra ao longo do seu caminho e que vem a ser esclarecidos pelos “Apóstolos”
e pelos “anciãos” com a luz do Espírito Santo, o qual, como nos narra o Evangelho
de hoje, lembra o ensinamento de Jesus Cristo, ajudando assim a comunidade cristã
a caminhar na caridade em busca da verdade plena. Os chefes da Igreja discutem e se
defrontam, sempre porém em atitude de religiosa escuta da Palavra de Cristo no Espírito
Santo. Por isso, no final podem afirmar: «Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós ...».
/ Este é o “método” com o qual nós agimos na Igreja, tanto nas pequenas como nas grandes
assembleias. Não é uma simples questão de procedimento; é o resultado da mesma natureza
da Igreja, mistério de comunhão com Cristo no Espírito Santo.
Sublinhando
que “a missão de Cristo se realizou no amor” e que “é o amor que dá a vida”, pelo
que “a Igreja é convidada a difundir no mundo a caridade de Cristo”, Bento XVI quis
confiar solenemente a todos os Bispos da América Latina a sua Encíclica sobre Deus–Amor
(como fez ainda recentemente em Pavia, junto ao túmulo de Santo Agostinho): A vós também,
que representais a Igreja na América Latina, tenho a alegria entregar de novo idealmente
a minha Encíclica Deus caritas est, com a qual quis indicar a todos o que é essencial
na mensagem cristã. A Igreja se sente discípula e missionária desse Amor : missionária
somente enquanto discípula, isto é capaz de deixar-se sempre atrair, com renovado
enlevo, por Deus que nos amou e nos ama por primeiro. A Igreja não faz proselitismo.
Ela cresce muito mais por “atracção”: como Cristo “atrai todos a si” com a força do
seu amor, que culminou no sacrifício da Cruz, assim a Igreja cumpre a sua missão na
medida em que, associada a Cristo, cumpre a sua obra conformando-se em espírito e
concretamente com a caridade do seu Senhor. Passando, na parte final da homilia,
a usar o espanhol, língua da maioria dos países latino-americanos, o Papa quis insistir
no “autêntico fundamento da esperança” cristã, correspondente ao verdadeiro tesouro
e património deste continente – a fé em Deus Amor: Éste es el rico tesoro del continente
Latinoamericano; éste es su patrimonio más valioso: la fe en Dios Amor, que reveló
su rostro en Jesucristo. Vosotros creéis en el Dios Amor: ésta es vuestra fuerza que
vence al mundo, la alegría que nada ni nadie os podrá arrebatar, ¡la paz que Cristo
conquistó para vosotros con su Cruz! Ésta es la fe que hizo de Latinoamérica el “Continente
de la Esperanza “É este o rico tesouro do continente Latino-americano; é este o
seu mais valioso património: a fé em Deus Amor, que revelou o seu rosto em Jesus Cristo.
Vòs acreditais no Deus Amor: esta é a vossa força que vence o mundo, a alegria que
nada nem ninguém vos poderá arrebatar, a paz que Cristo conquistou para vós com a
sua Cruz! Esta é a fé que fez da América Latina o ‘continente da esperança’. No
es una ideología política, ni un movimiento social, como tampoco un sistema económico;
es la fe en Dios Amor, encarnado, muerto y resucitado en Jesucristo, el auténtico
fundamento de esta esperanza que produjo frutos tan magníficos desde la primera evangelización
hasta hoy. “Não é uma ideologia política, nem um movimento social, nem tão pouco
um sistema económico; é a fé em Deus Amor, encarnado, morto e ressuscitado em Jesus
Cristo, o autêntico fundamento desta esperança que produziu tão magníficos frutos,
desde a primeira evangelização, até hoje”. O Papa concluiu a sua homilia (de novo
em português) com uma referência à segunda Leitura, do Livro do Apocalipse, que apresenta
a grandiosa visão da Jerusalém celeste: Uma Igreja
inteiramente animada e mobilizada pela caridade de Cristo, Cordeiro imolado por amor,
é a imagem histórica da Jerusalém celeste, antecipação da Cidade santa, resplandecente
da glória de Deus. Ela emana uma força missionária irresistível, que é a força da
santidade. A Virgem Maria alcance para a América Latina e no Caribe ser abundantemente
revestida da força do alto para irradiar no Continente e em todo o mundo a santidade
de Cristo. A Ele seja dada glória, com o Pai e o Espírito Santo, nos séculos dos séculos.
Amém.