"Caridade e justiça nas relações entre povos e nações": mensagem papal à Academia
de Ciências Sociais
(1/5/2007) Se não se vêem os seres humanos como pessoas dotadas de uma dignidade
inviolável, será muito difícil alcançar uma plena justiça no mundo: adverte o Papa,
numa mensagem por ocasião da assembleia plenária da Academia Pontifícia das Ciências
Sociais, que se concluiu nesta segunda-feira, no Vaticano, tendo como tema “Caridade
e justiça nas relações entre Povos e Nações”.
Na sua mensagem, enviada
à Professora Mary Ann Glendon, que preside à Academia Pontifícia das Ciências Sociais,
o Papa afirma que “prosseguir a justiça e a promoção da civilização do amor são aspectos
essenciais” da missão da Igreja, “ao serviço da anúncio do Evangelho de Jesus Cristo”.
Mas “mesmo na mais justa das sociedades, sempre haverá lugar para a caridade”, enquanto
“não há nenhum ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor”.
No
centro do magistério da Igreja, que – recorda o Papa – “se dirige não apenas aos crentes,
mas também a todos os homens de boa vontade”, está “o princípio da destinação universal
de todos os bens da criação. Segundo este princípio fundamental, tudo o que a terra
produz e tudo o que o homem transforma e confecciona, todo o seu conhecimento e tecnologia,
tudo está destinado a servir o desenvolvimento material e espiritual da família humana
e de todos os seus membros”.
Nesta perspectiva, o Papa faz referência a
três desafios que o mundo enfrenta hoje em dia: “o primeiro desafio diz respeito ao
ambiente e ao desenvolvimento sustentável . A comunidade internacional – afirma o
Papa - reconhece que os recursos do mundo são limitados e que cada povo tem o dever
de adoptar políticas visando a protecção do ambiente, a fim de prevenir a destruição
daquele património natural cujos frutos são necessários para o bem-estar da humanidade.
Bento XVI sublinha que na aplicação de soluções a nível internacional, “há que reservar
especial atenção ao facto que os países pobres são os que parecem destinados a pagar
o preço mais pesado pela deterioração ecológica”.
O segundo desafio diz
respeito ao conceito de pessoa humana. Há que reconhecer todos os seres humanos como
pessoas, dotadas de uma dignidade inviolável. Este reconhecimento há-de ter consequências
práticas sobre os problemas globais, como o crescente fosso entre países ricos e países
pobres, a desigualdade na distribuição dos recursos naturais e da riqueza produzida
pela actividade humana; a tragédia da fome, da sede e da pobreza num planeta onde
abunda a alimentação, a água e a prosperidade; etc.
O terceiro desafio
– recorda a Mensagem do Papa – corresponde aos valores do espírito. “Ao contrário
dos bens materiais, os bens espirituais, típicos do ser humano, expandem-se e multiplicam-se
quando se comunicam; e quanto mais partilhados, mais são interiorizados”. Há que desenvolver
uma maior consciência perante os desafios que se apresentam à própria identidade,
promovendo compreensão e reconhecimento dos verdadeiros valores, numa perspectiva
intercultural.
Só o amor para com o próximo – conclui Bento XVI, pode inspirar
em nós justiça ao serviço da vida e da promoção da dignidade humana. Só a caridade
pode encorajar-nos a pôr a pessoa humana cada vez mais no centro da vida na sociedade
e no centro de um mundo globalizado, governado pela justiça.