PAÍSES RICOS DEVEM MANTER PROMESSAS NA LUTA CONTRA POBREZA NO MUNDO: CARTA DE BENTO
XVI À CHANCELER ALEMÃ
Cidade do Vaticano, 23 abr (RV) - O objetivo de eliminar a pobreza extrema
no mundo, até 2015, é um dos mais importantes compromissos do nosso tempo. É o que
escreve o papa, numa carta enviada à chanceler alemã, Angela Merkel, em vista do próximo
encontro de cúpula do G-8 (o grupo dos 7 países mais industrializados do mundo e mais
a Rússia), que se realizará de 6 a 8 de junho próximo, em Heiligendamm, na costa báltica
da Alemanha.
A carta é datada de 16 de dezembro de 2006 e foi escrita por ocasião
do início da presidência de turno alemã da União Européia e do G-8. No dia 2 de fevereiro
sucessivo, Angela Merkel enviou uma carta em resposta ao Santo Padre. Hoje o jornal
vaticano "L'Ossservatore Romano" publica essa troca de correspondência.
Em
sua carta, Bento XVI manifesta o apreço e o encorajamento da Igreja Católica pela
intenção expressa pelo governo alemão _ e compartilhada pelos demais membros do G-8
_ de manter o tema da pobreza no centro do próximo encontro de cúpula de Heilingendamm,
com particular atenção para as ajudas à África.
Bento XVI recorda que a Alemanha,
como a Santa Sé, "se preocupa com a incapacidade dos países ricos, de oferecer aos
países pobres, em particular aos da África, adequadas condições financeiras e comerciais,
que tornariam possível a promoção de seu desenvolvimento duradouro".
Sem esquecer
que "os governos dos países pobres têm, por sua vez, a responsabilidade pela boa administração
e pela eliminação da pobreza, sendo nisso irrenunciável, porém, uma ativa colaboração
por parte dos parceiros internacionais".
"Aí, não se trata _ escreve o papa
_ de uma tarefa extraordinária ou de concessões que poderiam ser adiadas, por causas
de fortes interesses internacionais. Há, sobretudo, um grande dever moral e incondicionado,
baseado na comum pertença à família humana, bem como na comum dignidade e destino
dos países pobres e dos países ricos, mediante o processo de globalização, que devem
se desenvolver de modo sempre mais estreitamente interligados."
"Seria necessário
criar e garantir, para os países pobres, de modo confiável e duradouro _ continua
o pontífice _ condições comerciais favoráveis que, sobretudo, incluam um acesso amplo
e sem reservas aos mercados."
Para Bento XVI, é necessário tomar "providências,
para um rápido perdão completo e incondicionado da dívida externa dos países pobres
fortemente endividados e dos países menos desenvolvidos".
Ao mesmo tempo, "devem
ser tomadas medidas a fim de que esses países não acabem novamente numa situação de
dívida insustentável". "Além disso _ prossegue o papa _ os países industrializados
devem ser conscientes dos compromissos que assumiram no âmbito das ajudas ao desenvolvimento
e assumi-los plenamente."
"Também são necessários _ escreve ainda o papa em
sua carta à chanceler alemã _ amplos investimentos no campo da pesquisa e do desenvolvimento
de medicamentos para o tratamento da AIDS, da tuberculose, da malária e de outras
doenças tropicais."
Nessa ótica, exorta os países industrializados a afrontarem
"a urgente tarefa científica de criar, finalmente, uma vacina contra a malária" e
a "colocarem à disposição, tecnologias médicas e farmacêuticas bem como conhecimentos
derivados da experiência no campo da higiene, sem para isso fazer exigências jurídicas
ou econômicas".
A seguir, o Santo Padre afirma com veemência, que "a comunidade
internacional deve continuar atuando em favor de uma significativa redução do comércio
de armas, tanto legal quanto ilegal, do tráfico ilegal de matérias-primas preciosas
e da fuga de capital dos países pobres, e deve comprometer-se em prol da eliminação
tanto de práticas de lavagem de dinheiro como da corrupção de funcionários nos países
pobres".
Trata-se de desafios que devem ser afrontados por todos os Estados-membros
da comunidade internacional _ ressalta o papa _ mas "o G-8 e a União européia deveriam
desempenhar um papel-guia nessa questão".
Por fim, Bento XVI recorda que "membros
de diversas religiões e culturas do mundo inteiro estão convencidos de que o alcance
do objetivo de eliminar a pobreza extrema até 2015 seja um dos mais importantes compromissos
do nosso tempo" e "compartilham, além disso, a convicção de que essa meta está ligada
indissoluvelmente à paz e a à segurança no mundo".
Em sua resposta, agradecendo
pela carta enviada, Angela Merkel assegura ao papa que esses temas serão afrontados
tanto pela União Européia como no âmbito da próxima reunião do G-8, com os votos de
que, através de uma globalização "mais equânime", se possam "alcançar mais justiça
e paz" no mundo. (RL)