2007-04-22 12:37:35

A “conversão” cristã nunca está completada. Para além da conversão inicial, o cristão há-de viver toda a existência como um caminho de crescente conformação a Cristo.


(22/4/2007) Esta a reflexão e exortação de Bento XVI, na homilia da Missa deste domingo de manhã, em Pavia. Partindo das leituras proclamadas, nomeadamente dos Actos dos Apóstolos - Pedro que prega Jesus Salvador, convidando à conversão – o Papa centrou toda a sua atenção sobre a palavra-chave “conversão”, começando por sublinhar que se trata sempre de um caminho pessoal, segundo as circunstâncias que a cada um é dado viver. Ainda assim – observou – “no decurso da história da cristandade, o Senhor deu-nos modelos de conversão”, pontos de referência. A começar pelo próprio apóstolo Pedro e Paulo de Tarso e incluindo “um dos grandes convertidos da história da Igreja – Santo Aurélio Agostinho”, de que fala precisamente a cidade de Pavia.


“Seguindo atentamente o curso da vida de Santo Agostinho, pode-se ver que a conversão não foi um acontecimento de um só momento, mas sim um caminho. E pode-se ver que este caminho não estava concluído na fonte baptismal.
Como antes do Baptismo, também depois a vida de Agostinho continuou a ser, embora de modo diferente, um caminho de conversão – até à sua última doença … … quando se auto-excluiu de receber a Eucaristia, para voltar a percorrer uma vez mais o caminho da penitência para receber a salvação das mãos de Cristo como dom das misericórdias de Deus. Podemos portanto falar das ‘conversões’ de Agostinho que, na realidade, foram uma única grande conversão, procurando o Rosto de Cristo e caminhando depois juntamente com Ele”.


Bento XVI desenvolveu então, de modo catequético, as três grandes etapas deste caminho de conversão, as três “conversões” exemplificadas na vida de Santo Agostinho:


A primeira conversão fundamental foi o caminho interior foi o caminho interior em direcção ao cristianismo, até ao sim da fé e do Baptismo… … Vivia como todos os outros, e contudo havia nele algo de especial: sempre foi uma pessoa em busca… Queria encontrar o caminho recto, não se contentando em viver às cegas, sem sentido e sem meta. A paixão pela verdade é a verdadeira palavra-chave da sua vida.


"A segunda conversão de Santo Agostinho – prosseguiu o Papa – foi a que ele descreve no final do II Livro das suas “Confissões”. Quando, escolhido para o episcopado, foi constrangido a abandonar o pequeno mosteiro que, cinco anos antes, tinha criado com os seus amigos, para se dar totalmente ao colóquio com Deus e à contemplação da beleza e da verdade da sua Palavra. Nesse momento, dissipou-se para Agostinho o sonho de uma vida contemplativa. De agora em diante, tinha que viver com Cristo para todos. Tinha que traduzir os seus conhecimentos e pensamentos sublimes no pensamento e na linguagem da gente simples da sua cidade… (Como escreveu o próprio Agostinho), ‘continuamente pregar, debater, retomar, edificar, estar à disposição de todos – é uma carga pesada, um grande peso, uma fadiga ingente’."


Foi esta a segunda conversão que este homem, lutando e sofrendo, teve que realizar continuamente: sempre de novo estar ali, para todos; sempre de novo, juntamente com Cristo, doar a própria vida, para que os outros pudessem encontrá-lo a Ele, a verdadeira Vida.


Mas houve “ainda uma terceira etapa decisiva no caminho de conversão de Santo Agostinho”. No final da sua existência, após vinte anos de ministério episcopal, escreve as suas “Retratacções”, em que passa em resenha a sua obra anterior. “Relativamente ao ideal de perfeição expresso nas suas homilias sobre o Sermão da montanha”, ele próprio escreve:


"Entretanto compreendi que só um é verdadeiramente perfeito e que as palavras do Sermão da montanha se realizaram totalmente apenas num só: o próprio Jesus Cristo. Por sua vez toda a Igreja – todos nós, incluindo os Apóstolos – temos que rezar em cada dia “perdoa as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Agostinho tinha aprendido o último grau de humildade – não só a humildade de inserir o seu grande pensamento na fé da Igreja, não só a humildade de traduzir os seus grandes conhecimentos na simplicidade do anúncio, mas também a humildade de reconhecer que a ele próprio e a toda a Igreja peregrinante era continuamente necessária a misericórdia de um Deus que perdoa; e nós – acrescentava – tornamo-nos semelhantes a Cristo, o Perfeito, na maior medida possível, quando nos tornamos, como Ele, pessoas de misericórdia."








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