NÚNCIO APOSTÓLICO EM ISRAEL NÃO PARTICIPARÁ DA COMEMORAÇÃO DO HOLOCAUSTO, PARA DEFENDER
MEMÓRIA DE PIO XII
Tel Aviv, 12 abr (RV) - O núncio apostólico em Israel, Dom Antonio Franco,
delegado apostólico em Jerusalém e Palestina, não participará da cerimônia anual em
memória da Shoah, que se realizará nos dias 15 e 16 do corrente, no Yad Vashem, o
Museu do Holocausto, em Jerusalém.
A decisão do núncio foi tomada porque o
museu colocou em exposição, uma fotografia de Pio XII, com um texto que Dom Franco
considera agressivo. O núncio diz que o texto não é fiel à verdade histórica, pois
mostra o pontífice como aquele que manteve posições ambíguas em relação ao holocausto
dos judeus.
O próprio núncio confirmou sua decisão de não participar da cerimônia,
definindo-a uma dolorosa renúncia, e escreveu uma carta ao diretor do museu, ressaltando
sua posição contrária. Ele ressalta, todavia, que sua ausência à cerimônia não significa
falta de respeito para com as vítimas do holocausto.
"Basta com as falsas interpretações
sobre Pio XII" _ sublinhou Dom Franco, afirmando que recentes estudos históricos demonstram
o contrário.
O famoso historiador inglês Martin Gilbert, por exemplo, escreveu
um livro, em 2003, intitulado "Os justos", no qual ressalta tudo aquilo que Pio XII
e a Igreja Católica fizeram para ajudar os judeus. Existem ainda outros estudos históricos,
feitos por judeus, que atestam esse fato _ sublinhou o núncio.
"Minha carta
_ ressalta Dom Franco _ foi escrita para chamar a atenção sobre o problema, que deve
ser reconsiderado e aprofundado, mudando, assim, esse julgamento negativo sobre Pio
XII."
Em resposta à carta do núncio, alguns jornais israelenses afirmaram
que a verdade histórica não pode ser mudada. "É verdade, os fatos não podem ser mudados
_ ressaltou Dom Franco _ mas deles foi feita uma interpretação contrária, por parte
de uma historiografia que interpreta tudo a seu modo."
No ínterim, o processo
de beatificação de Pio XII está cada vez mais perto de se concretizar, com a entrega,
este mês, de um dossier de três mil páginas, à Congregação das Causas dos Santos _
segundo informou à agência de notícias ANSA, Pe. Peter Gumpel, relator da causa, introduzida
em 1965.
"Fiz meu trabalho, mas a decisão não depende mais de mim. Durante
os dois últimos anos, alguns estudos históricos, feitos por judeus, contribuíram com
os nossos estudos, para reforçar a consistência, no âmbito histórico, da atitude de
Pio XII diante dos fatos"_ concluiu Pe. Gumpel. (MJ)