2007-04-08 13:53:21

Uma Páscoa feliz com Cristo Ressuscitado: a saudação de Bento XVI, neste solene Domingo de Páscoa. A incapacidade de explicar a dor inocente, a incredulidade de quem se sente desiludido por Deus, pode ser o caminho que conduz a uma fé mais autentica


(8/4/2007) RealAudioMP3 Na sua mensagem Urbi et Orbi, o Santo Padre – sem esquecer os lugares e motivos de maior sofrimento e preocupação através do mundo, nomeadamente em África e em Timor Leste - recordou antes de mais as manifestações que os discípulos de Jesus tiveram do Senhor Ressuscitado, logo a partir da manhã da Páscoa. A começar por Maria Madalena e as outras mulheres que “ao dealbar do primeiro dia da semana acorreram ao sepulcro” ali escutando o grande anúncio: “Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou!”.
Depois do “escândalo da cruz” que abala os apóstolos e discípulos, deixando-os “perplexos e desorientados”, eis que o Ressuscitado em pessoa vem agora “ao encontro deles e da sua incrédula sede de certezas”.
"Aquele encontro não foi um sonho, nem uma ilusão ou imaginação subjetiva; foi uma experiência verdadeira, apesar de inesperada e, precisamente por isto, particularmente comovedora. “Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: ‘A paz esteja convosco! ’ Ao ouvirem estas palavras, reacende-se no seu espírito a fé quase extinta”. E os apóstolos referem a Tomé, que estava ausente, o qual não permanece porém duvidoso e perplexo. E quando Jesus se manifesta pela segunda vez, diz-lhe para pôr o seu dedo no lugar dos cravos e no lugar do lado aberto, no peito. A resposta do Apóstolo é uma comovedora profissão de fé. “Meu Senhor e meu Deus!”
“Meu Senhor, e meu Deus”! Renovemos também nós a profissão de fé de Tomé. Como felicitação pascal, este ano, quis escolher precisamente estas suas palavras, porque a humanidade de hoje espera dos cristãos um testemunho renovado da ressurreição de Cristo; necessita encontrá-Lo e poder conhecê-Lo como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Cada um de nós pode ser tentado pela incredulidade de Tomé. A dor, o mal, as injustiças, a morte, especialmente quando afetam os inocentes - por exemplo, as crianças vítimas das guerras e do terrorismo, das doenças e da fome - por acaso não submetem nossa fé à dura prova? No entanto, precisamente nestes casos, a incredulidade de Tomé nos é paradoxalmente útil e preciosa, porque nos ajuda a purificar toda falsa concepção de Deus e nos leva a descobrir seu rosto autentico: o rosto de um Deus que, em Cristo, carregou sobre si as chagas da humanidade ferida.
“Pelas suas chagas fomos curados” – é este o anúncio que Pedro dirigia aos primeiros convertidos – recordou o Papa. “Estas chagas… sinais de um aparente insucesso de Jesus, tornaram-se, no encontro com o Ressuscitado, provas de um amor vitorioso. Estas chagas que Cristo contraiu por nosso amor, ajudam-nos a compreender quem é Deus… “Só é digno de fé um Deus que ama até tomar sobre si as nossas feridas e o nosso sofrimento, sobretudo o sofrimento inocente”.
"Quantas feridas, quantas dores no mundo! Não faltam calamidades naturais e tragédias humanas que provocam numerosas vítimas e ingentes danos materiais. Penso no que aconteceu recentemente em Madagascar, nas Ilhas Salomão, na América Latina e em outras Regiões do mundo. Penso no flagelo da fome, nas doenças incuráveis, no terrorismo e nos seqüestros de pessoas, nos mil rostos da violência - às vezes justificada em nome da religião -, no desprezo da vida e na violação dos direitos humanos, na exploração da pessoa. Vejo com apreensão as condições em que se encontram tantas regiões da África: no Darfur e nos Países vizinhos persiste uma situação humanitária catastrófica e infelizmente menosprezada; em Kinshasa, na República Democrática do Congo, os choques e os saqueios das semanas passadas fazem temer pelo futuro do processo democrático congolês e pela reconstrução do País; na Somália a retomada dos combates afasta a perspectiva da paz e agrava a crise regional, especialmente no que se refere aos deslocamentos da população e ao tráfego de armas; uma grave crise aflige o Zimbábue, para a qual os Bispos do País, num recente documento, indicaram como única via de superação a oração e o compromisso compartilhado pelo bem comum.
De reconciliação e de paz necessita a população de Timor Leste, que se prepara a viver importantes convocatórias eleitorais. De paz necessitam também o Sri Lanka, onde só uma solução negociada porá ponto final ao drama do conflito que o ensangüenta, e o Afeganistão, marcado por uma crescente inquietação e instabilidade. No Oriente Médio, junto com sinais de esperança no diálogo entre Israel e a Autoridade palestinense, nada de positivo, infelizmente, vem do Iraque, ensangüentado por contínuas matanças, enquanto fogem as populações civis; no Líbano a paralise das instituições políticas põe em perigo o papel que o País está chamado a desempenhar na área do Oriente Médio e hipoteca gravemente seu futuro. Não posso esquecer, enfim, as dificuldades que as comunidades cristãs enfrentam quotidianamente e o êxodo dos cristãos daquela Terra bendita que é o berço da nossa fé. Àquelas populações renovo com afeto minha proximidade espiritual.
… l’esodo dei cristiani dalla Terra benedetta che è la culla della nostra fede. A quelle popolazioni rinnovo con affetto l’espressione della mia vicinanza spirituale.


Quase a concluir a sua mensagem Urbi et Orbi, Bento XVI observou ainda que “através das chagas de Cristo podemos ver com olhos de esperança estes males que afligem a humanidade. Ressuscitando, o Senhor, não retirou do mundo o sofrimento e o mal, mas venceu-os, na raiz, com a superabundância da sua Graça. À prepotência do Mal Ele opôs a omnipotência do seu Amor. Deixou-nos como caminho para a paz e para a alegria o Amor que não teme a morte. “Como eu vos amei – disse aos Apóstolos antes de morrer – assim também vós amai-vos uns aos outros”.
"Também nós, unidos a Ele, dispostos a gastar a nossa vida pelos nossos irmãos, tornemo-nos apóstolos de paz, mensageiros de uma alegria que não teme o sofrimento – a alegria da Ressurreição. Boa Páscoa a todos" - concluiu o Papa.
(texto integral da Mensagem em "documentos do Vaticano)












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