Uma Páscoa feliz com Cristo Ressuscitado: a saudação de Bento XVI, neste solene Domingo
de Páscoa. A incapacidade de explicar a dor inocente, a incredulidade de quem se sente
desiludido por Deus, pode ser o caminho que conduz a uma fé mais autentica
(8/4/2007) Na sua mensagem Urbi
et Orbi, o Santo Padre – sem esquecer os lugares e motivos de maior sofrimento e preocupação
através do mundo, nomeadamente em África e em Timor Leste - recordou antes de mais
as manifestações que os discípulos de Jesus tiveram do Senhor Ressuscitado, logo a
partir da manhã da Páscoa. A começar por Maria Madalena e as outras mulheres que “ao
dealbar do primeiro dia da semana acorreram ao sepulcro” ali escutando o grande anúncio:
“Porque procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressuscitou!”. Depois
do “escândalo da cruz” que abala os apóstolos e discípulos, deixando-os “perplexos
e desorientados”, eis que o Ressuscitado em pessoa vem agora “ao encontro deles e
da sua incrédula sede de certezas”. "Aquele encontro não foi um sonho, nem uma
ilusão ou imaginação subjetiva; foi uma experiência verdadeira, apesar de inesperada
e, precisamente por isto, particularmente comovedora. “Jesus veio e pôs-se no meio
deles. Disse-lhes ele: ‘A paz esteja convosco! ’ Ao ouvirem estas palavras, reacende-se
no seu espírito a fé quase extinta”. E os apóstolos referem a Tomé, que estava ausente,
o qual não permanece porém duvidoso e perplexo. E quando Jesus se manifesta pela segunda
vez, diz-lhe para pôr o seu dedo no lugar dos cravos e no lugar do lado aberto, no
peito. A resposta do Apóstolo é uma comovedora profissão de fé. “Meu Senhor e meu
Deus!” “Meu Senhor, e meu Deus”! Renovemos também nós a profissão de fé de Tomé.
Como felicitação pascal, este ano, quis escolher precisamente estas suas palavras,
porque a humanidade de hoje espera dos cristãos um testemunho renovado da ressurreição
de Cristo; necessita encontrá-Lo e poder conhecê-Lo como verdadeiro Deus e verdadeiro
Homem. Cada um de nós pode ser tentado pela incredulidade de Tomé. A dor, o mal, as
injustiças, a morte, especialmente quando afetam os inocentes - por exemplo, as crianças
vítimas das guerras e do terrorismo, das doenças e da fome - por acaso não submetem
nossa fé à dura prova? No entanto, precisamente nestes casos, a incredulidade de Tomé
nos é paradoxalmente útil e preciosa, porque nos ajuda a purificar toda falsa concepção
de Deus e nos leva a descobrir seu rosto autentico: o rosto de um Deus que, em Cristo,
carregou sobre si as chagas da humanidade ferida. “Pelas suas chagas fomos curados”
– é este o anúncio que Pedro dirigia aos primeiros convertidos – recordou o Papa.
“Estas chagas… sinais de um aparente insucesso de Jesus, tornaram-se, no encontro
com o Ressuscitado, provas de um amor vitorioso. Estas chagas que Cristo contraiu
por nosso amor, ajudam-nos a compreender quem é Deus… “Só é digno de fé um Deus que
ama até tomar sobre si as nossas feridas e o nosso sofrimento, sobretudo o sofrimento
inocente”. "Quantas feridas, quantas dores no mundo! Não faltam calamidades naturais
e tragédias humanas que provocam numerosas vítimas e ingentes danos materiais. Penso
no que aconteceu recentemente em Madagascar, nas Ilhas Salomão, na América Latina
e em outras Regiões do mundo. Penso no flagelo da fome, nas doenças incuráveis, no
terrorismo e nos seqüestros de pessoas, nos mil rostos da violência - às vezes justificada
em nome da religião -, no desprezo da vida e na violação dos direitos humanos, na
exploração da pessoa. Vejo com apreensão as condições em que se encontram tantas regiões
da África: no Darfur e nos Países vizinhos persiste uma situação humanitária catastrófica
e infelizmente menosprezada; em Kinshasa, na República Democrática do Congo, os choques
e os saqueios das semanas passadas fazem temer pelo futuro do processo democrático
congolês e pela reconstrução do País; na Somália a retomada dos combates afasta a
perspectiva da paz e agrava a crise regional, especialmente no que se refere aos deslocamentos
da população e ao tráfego de armas; uma grave crise aflige o Zimbábue, para a qual
os Bispos do País, num recente documento, indicaram como única via de superação a
oração e o compromisso compartilhado pelo bem comum. De reconciliação e de paz
necessita a população de Timor Leste, que se prepara a viver importantes convocatórias
eleitorais. De paz necessitam também o Sri Lanka, onde só uma solução negociada porá
ponto final ao drama do conflito que o ensangüenta, e o Afeganistão, marcado por uma
crescente inquietação e instabilidade. No Oriente Médio, junto com sinais de esperança
no diálogo entre Israel e a Autoridade palestinense, nada de positivo, infelizmente,
vem do Iraque, ensangüentado por contínuas matanças, enquanto fogem as populações
civis; no Líbano a paralise das instituições políticas põe em perigo o papel que o
País está chamado a desempenhar na área do Oriente Médio e hipoteca gravemente seu
futuro. Não posso esquecer, enfim, as dificuldades que as comunidades cristãs enfrentam
quotidianamente e o êxodo dos cristãos daquela Terra bendita que é o berço da nossa
fé. Àquelas populações renovo com afeto minha proximidade espiritual. … l’esodo
dei cristiani dalla Terra benedetta che è la culla della nostra fede. A quelle popolazioni
rinnovo con affetto l’espressione della mia vicinanza spirituale.
Quase
a concluir a sua mensagem Urbi et Orbi, Bento XVI observou ainda que “através das
chagas de Cristo podemos ver com olhos de esperança estes males que afligem a humanidade.
Ressuscitando, o Senhor, não retirou do mundo o sofrimento e o mal, mas venceu-os,
na raiz, com a superabundância da sua Graça. À prepotência do Mal Ele opôs a omnipotência
do seu Amor. Deixou-nos como caminho para a paz e para a alegria o Amor que não teme
a morte. “Como eu vos amei – disse aos Apóstolos antes de morrer – assim também vós
amai-vos uns aos outros”. "Também nós, unidos a Ele, dispostos a gastar a nossa
vida pelos nossos irmãos, tornemo-nos apóstolos de paz, mensageiros de uma alegria
que não teme o sofrimento – a alegria da Ressurreição. Boa Páscoa a todos" - concluiu
o Papa. (texto integral da Mensagem em "documentos do Vaticano)