COMITÊ CATÓLICO APONTA CÚMPLICES DE DITADORES QUE ROUBAM DINHEIRO PÚBLICO
Genebra, 31 mar (RV) - Governos e empresas dos países do Norte são apontados
como cúmplices de ditadores que roubam dinheiro público. A acusação consta no relatório
divulgado pelo Comitê Católico Contra a Fome e Para o Desenvolvimento (CCFD).
Numa
estimativa por baixo, o Comitê calcula que o valor dos desvios de verbas, nas últimas
décadas, é entre 100 a 180 milhões de dólares. Em alguns casos, o relatório aponta
roubos equivalentes ao PIB do Estado lesado, como aconteceu com Mobutu no ex-Zaire,
atual República Democrática do Congo.
A corrupção está ligada aos regimes autoritários,
mas as democracias dos países mais industrializados têm responsabilidades no perpetuar-se
de muitos desses regimes. O CCFD aponta o dedo aos Estados Unidos, França e Reino
Unido, que apoiaram a chegada ou a manutenção no poder, das ditaduras na Indonésia,
Filipinas, Nigéria, Chile, Haiti, Congo ou Costa do Marfim.
Isso talvez ajude
a explicar as reticências em devolver aos países espoliados, o dinheiro e os bens
dos ditadores, congelados pela Justiça, nos países ricos. Para o Comitê, esse castigo
aos antigos aliados poderia expor os países ricos às revelações de um passado que
preferem manter escondido. Por outro lado, a utilização dos paraísos fiscais dificulta,
ainda mais, a possibilidade de localizar os bens roubados e, conseqüentemente, de
cumprir a obrigação de restituí-los.
Para o CCFD, a legislação existente para
restituir os bens roubados pelas ditaduras dos países pobres foi reforçada nos últimos
anos, mas a falta de cooperação judicial entre países compromete esses esforços.
Nas
conclusões do relatório, uma citação dos magistrados signatários do apelo de Genebra,
de 1996: "As fronteiras já não existem para o dinheiro sujo, mas para a Justiça sim."
(AL)