Riqueza por descobrir: D. António Marto critica deturpações e instrumentalizações
do último documento de Bento XVI , "Sacramento da Caridade"
(27/3/2007) D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, foi um dos representantes portugueses
na XI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que decorreu no Vaticano de
2 a 23 de Outubro de 2005. Agora, após a publicação da Exortação Apostólica pós-sinodal
de Bento XVI, “Sacramento da Caridade”, observa que a mesma reflecte "tudo o que se
passou no Sínodo" e assume "todas as proposições feitas pelos padres sinodais". Da
Eucaristia como "mistério acreditado" trata uma parte mais doutrinal e teológica,
que passa para o "mistério celebrado" e o "mistério vivido e testemunhado". D. António
Marto revê-se em "duas ou três indicações que propus e foram aceites", ligadas às
questões da Beleza e da "cultura eucarística". "Falamos da Beleza do mistério,
não se trata apenas de um aspecto decorativo, mas o que a Beleza do amor eterno e
santo, que na pessoa de Cristo ressuscitado nos é oferecida na Eucaristia", refere
à Agência ECCLESIA. Daqui parte "um convite a descobrir esta Beleza que atrai e que
fascina". Há, depois, um aspecto litúrgico-celebrativo da própria celebração,
na qual se abordam vários níveis de linguagem, como "o canto, a palavra, os gestos,
os símbolos e o silêncio", de modo a que este mistério "possa atrair a pessoa na sua
totalidade". Quanto à dimensão da cultura eucarística, ela significa que "a celebração
não é um acto fechado em si mesmo, mas inclui a vida toda, dando origem a um conjunto
de atitudes e comportamentos pessoais e sociais, como a experiência do acolhimento,
da fraternidade, da partilha e da solidariedade". "Considero este documento muito
bom e belo, só lamento que tenha sido tergiversado, instrumentalizado, deixando de
ler o todo e fixando-se às vezes numa pequenina parte, e mesmo essa distorcida, chegando
mesmo a inventar coisas que não vêm lá no texto", aponta o prelado. Nesse sentido,
D. António Marto defende que há um trabalho de recepção do documento por parte de
todos, "até porque a primeira apresentação que foi feita por muitos meios de comunicação
social foi redutora e distorcida, a meu ver até intencionalmente, porque falta à verdade".
"Fico com a impressão de que se quis transmitir, em muitos casos, a imagem de
uma Igreja museu de antiguidades e afectar a imagem do próprio Papa, como se ele quisesse
regressar a um arcaismo de velhos tempos, o que lá não está", lamenta. O Bispo
de Leiria-Fátima vinca que "há uma dimensão social e cósmica da Eucaristia com afirmações
que fazem tremer quem as lê com um pouco de fé", como quando se fala do fosso cada
vez maior entre ricos e pobres. Agora, sublinha, é preciso trazer a mensagem às
comunidades e, para D. António Marto, há uma oportunidade importante, que é a Quinta-Feira
Santa", em que se celebra a instituição da Eucaristia.