Moscou, 27 mar (RV) – A exposição intitulada "Arte proibida 2006", inaugurada
recentemente no Museu e Centro Social Sájarov de Moscou desatou violentos protestos
de organizações de fiéis e da Igreja Ortodoxa Russa, que consideram o evento sacrílego.
Recomendada
somente para maiores de 16 anos, a exposição reúne obras que foram censuradas em 2006
por diretores de museus e galerias de arte moscovitas e inclui imagens de Mickey,
Lenin, sexo e lendas grosseiras que têm como fundo crucifixos e outros objetos de
culto, como por exemplo Lenin crucificado e Cristo McDonalds.
Os trabalhos
se encontram escondidos atrás de uma parede falsa com buracos à altura dos olhos para
que possam ser observadas pelos visitantes.
"Estou convencido de que esta gente
é absolutamente imoral", declarou o chefe adjunto de Relações Internacionais do Patriarcado
de Moscou, Vsiévolod Chaplin. Chaplin fez um apelo para que "não se estenda a mão
aos sacrílegos", em alusão aos organizadores da exposição.
Chaplin sublinhou
que, a partir da informação recebida pelos meios de comunicação social, a exposição
"Arte proibida 2006" é uma ofensa contra os sentimentos religiosos das pessoas, ou
seja, "um delito que as autoridades devem punir". "Não estranharei se os fiéis ortodoxos
apresentarem denúncias à Procuradoria", acrescentou.
A União de Cidadãos Ortodosos
(UCO) qualificou a exposição de "provocação irreverente contra o cristianismo" e fez
um apelo aos fiéis para que lutem para, por meios legais, fechar a mostra.
Em
2003, o Centro Sájarov, que exibia a exposição de pintura "Cuidado com a religião",
foi atacado por dezenas de fiéis radicais. Embora os autores fossem levados aos tribunais,
os juízes consideraram que os responsáveis dos fatos não foram os assaltantes, mas
os organizadores da mostra, acusados de semear hostilidade por motivos religiosos.
Desta
vez, a UCO pediu aos fiéis que se abstenham de toda ação ilegal em relação aos organizadores
da exposição e se concentrem numa solução jurídica do problema. O diretor do Centro
Sájarov, Yuri Samodúrov, declarou à rádio Eco de Moscou "Se você não gosta, não veja
ver a exposição", comentando o mal-estar criado pela "Arte Proibida 2006".
Segundo
Samodúrov, um dos objetivos da exposição é apresentar uma panorâmica das obras que
foram proibidas pelos museus e galerias de arte e suscitar o debate o que deve ser
proibido e por qual razão.
O responsável da polêmica exposição, Andréi Yeroféyev,
que é diretor do departamento de Novíssimas Tendências da Galeria Estatal Tretiakóvskaya,
defende que o objetivo da "Arte proibida 2006" é determinar o círculo de temas que
os especialistas rechaçam. "Constatamos que a cultura russa é mais ampla que a tolerância
da sociedade. Os temas políticos não suscitam nenhum protesto. A mentalidade russa
censura sempre que três temas foram atingidos: o sexo, a linguagem de baixo calão
e a blasfêmia", assinalou Yeroféyev ao diário digital "Expert.ru".
Segundo
o especialista nas novas tendências da arte, as declarações dos membros do clero e
da União de Cidadãos Ortodoxos "não fazem mais que chamar a atenção do público para
uma exposição concebida inicialmente para profissionais".
Yeroféyev se converteu
no principal alvo das críticas do clero: o diácono Andréi Kurayev, professor da Academia
Ortodoxa de Moscou, chegou a propor que seja proibido organizar exposições por mandato
judicial.
"Se a censura social é apoiada pelo Estado, este fato será uma linha
a mais no diagnóstico que estamos tentando fazer", declarou Yeroféyev. (MZ)