Díli, 26 mar (RV) - O administrador apostólico emérito de Díli, Dom Carlos
Filipe Ximenes Belo, assegurou hoje, diante da Comissão de Verdade e Amizade, que
os soldados indonésios e seus aliados paramilitares locais queimaram igrejas e assassinaram
sacerdotes, depois que Timor-Leste votou a favor da independência, no referendo de
autodeterminação realizado em setembro de 1999.
Em suas declarações à comissão
instituída pelos dois países _ Indonésia e Timor-Leste _ para determinar os fatos
de 1999, Dom Ximenes Belo, Prêmio Nobel da Paz-1996, por sua resistência à ocupação
indonésia, afirmou que, embora prefira olhar para o futuro, não se pode esquecer o
passado.
"É importante reconhecer, como pessoas humanas e como cidadãos, que
não fomos capazes de proteger os direitos humanos, a tolerância e a solidariedade"
_ afirmou Dom Ximenes Belo à comissão, composta por cinco indonésios e cinco timorenses,
e que foi duramente criticada pelas organizações de direitos humanos, por pretender
relativizar o papel da Indonésia nos massacres. "Isso não significa que queiramos
reabrir velhas feridas ou atiçar o ódio" _ acrescentou o bispo.
Dom Ximenes
Belo explicou como as tropas indonésias e seus aliados paramilitares assassinaram
sacerdotes, atacaram igrejas e queimaram documentos religiosos. No dia 6 de setembro
de 1999, os militares lançaram coquetéis "molotov" contra sua própria casa, onde havia
acolhido refugiados _ explicou.
Até este momento, apenas uma pessoa foi condenada
pelos conflitos que eclodiram após o referendo de oito anos atrás, nos quais morreram
aproximadamente mil pessoas. Os soldados e seus aliados paramilitares foram acusados
de numerosos homicídios, saques e incêndios.
A classe política dos dois países
mostrou-se pouco decidida a resolver o assunto e as Nações Unidas sugeriram inclusive,
a eventual criação de um tribunal internacional para julgar os fatos e processar os
responsáveis. (MZ)