SEIS MILHÕES DE CRIANÇAS POR ANO SOFREM ABUSOS NA AMÉRICA LATINA
Santiago, 15 mar (RV) - Mais de seis milhões de meninos e meninas sofrem graves
abusos, e 80 mil morrem, a cada ano, na América Latina, segundo um estudo feito por
várias agências das Nações Unidas e apresentado nesta quarta-feira, dia 14, em Santiago,
Chile.
O "Estudo do secretário-geral sobre a violência contra crianças" é a
primeira análise sobre o assunto e foi elaborado com a participação de especialistas
do UNICEF (Fundos das Nações Unidas para a Infância), do Alto Comissariado de Direitos
Humanos, da ONU, da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-americana
da Saúde (OPS).
O trabalho foi dirigido por Sergio Pinheiro, ex-secretário
de Estado para os Direitos Humanos, do Brasil. Ele destacou, na apresentação dos dados,
que o alto nível da violência contra as crianças na região está relacionado à desigualdade
econômica e à falta de mecanismos de proteção legal.
O documento contém perspectivas
de direitos humanos, saúde pública e proteção da infância, enfatizando os ambientes
em que surge a violência: a casa, a escola, instituições judiciais e de atendimento
a crianças, locais de trabalho e a comunidade.
Além disso, o relatório destaca
os prejuízos dos maus-tratos, ressaltando que eles podem repercutir no desenvolvimento,
na saúde e na capacidade de aprendizagem das crianças.
O relatório aponta que,
cerca de seis milhões de meninos e meninas sofrem abusos graves na América Latina,
e, a cada ano, 80 mil morrem, em virtude da violência familiar. Além disso, dois milhões
são vítimas de exploração sexual para fins comerciais.
"O castigo corporal
nos lares e na escola é uma prática comum em toda a região e em poucos países é proibido
pela lei" _ diz o texto.
Egídio Crotti, representante do UNICEF no Chile, ressaltou
que as crianças sofrem violência "nos lugares que deveriam ser de proteção, de estímulo
ao desenvolvimento integral e de proteção aos seus direitos".
"Os maus-tratos
às crianças nunca são justificáveis. É fundamental prevenir e é essencial a participação
de todos, para erradicar a violência contra meninos e meninas" _ afirmou Carmen Rosa
Villa, representante regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos.
Juan Manuel Sotelo, representante da Organização Mundial da Saúde
(OMS) e da Organização Pan-americana da Saúde (OPS) na região, destacou a existência
de formas de violência muitas vezes esquecidas, como a má nutrição das crianças, por
parte de seus pais.
O estudo propõe várias recomendações, como a criação de
estratégias nacionais de prevenção e luta contra a violência. Além disso, recomenda
aos Estados, medidas administrativas, legislativas e financeiras para proteger as
crianças.
O relatório também sugere a proibição legal de todas as formas de
maus-tratos contra meninos e meninas, inclusive os castigos corporais, além da criação
de sistemas nacionais de catalogação de dados confiáveis. (MZ)