Mensagem da Caritas Portuguesa ás Caritas diocesanas de Dili e Baucau
(10/3/2007) Se há acontecimentos paradoxais no mundo, os conflitos armados que se
geram, entre concidadãos, dentro dos próprios países são um exemplo por excelência.
A fractura de populações que têm um passado comum, que contribuíram para a mesma História
e que deveriam querer o melhor para a sua Pátria não é facilmente compreensível, para
quem acompanha, de fora, tais acontecimentos. Mas, infelizmente, é o que acontece
em muitos Países e culturas. Em Timor-Leste também? – A Caritas Portuguesa, interpretando
o sentimento de todas as Cáritas diocesanas, tem esperança de ainda ir a tempo de
afirmar: Não! E queremos contribuir para isso, como fizemos noutros momentos da história
daquele país do sol-nascente. Se o contributo para a construção da paz é dever
de todas as mulheres e homens, ainda mais dos cristãos. Porque receberam, como maior
legado do seu Deus, a Ele próprio que é Amor. E amar, para os cristãos, é amar “também
os inimigos”. Foi esse um dos mais difíceis desafios que Jesus Cristo lançou a todos
os que se disponibilizam a segui-Lo (cf. Lc 6, 27). Esta “Regra de Ouro” fundamenta
a paz, a construção da cidadania, a promoção da justiça. É nessa regra que se alicerça
uma atitude nem sempre em sintonia com a natureza humana: a capacidade de perdoar.
Na Mensagem para a Quaresma deste ano, os Bispos de Timor-Leste sugerem o perdão
como o caminho para a pacificação da sociedade timorense. Convidam “os filhos e as
filhas de Timor - Leste a promover o perdão e a reconciliação em todos os níveis”,
nas famílias, nos locais públicos, na sociedade. “Deste modo, toda a nação evitará
toda forma de violação da vida e da dignidade humana e poderá construir uma cultura
da vida e da paz”. Seguindo com atenção a história contemporânea de Timor-Leste,
a Caritas Portuguesa manifesta a sua preocupação e apela aos cristãos que dêem o primeiro
passo. Para isso é necessário muita coragem. Numa jovem democracia, que se vê invadida
de um clima de guerrilha interna, onde os comportamentos individuais e de grupos se
fundamentam na reacção sem qualquer reflexão e não têm em conta o futuro do País,
é necessário que apareçam sinais de maturidade pessoal e social; é necessário afirmar
que os problemas não se resolvem com o recurso à violência; é necessário demonstrar
que vale a pena renunciar ao bem pessoal para dar lugar ao bem comum, ao bem comum
dos timorenses e de Timor-Leste. Com os Bispos de Timor-Leste, a Cáritas Portuguesa
afirma: “Em nome de Deus, que durante o tempo da Quaresma nos chama a realizar a viagem
de uma autêntica conversão ao amor de Cristo, nós fazemos um apelo especial para que
triunfe a não-violência”. Lisboa, 9 de Março de 2007