"Viver em conformidade com o que se professa": primeira conferência quaresmal do
Bispo da Guarda
(28/2/2007) Professar a fé não consiste em enunciar apenas um conjunto de verdades,
mas antes viver em conformidade com o que se professa. Os critérios para avaliar a
autenticidade da fé são “frutos da justiça e da caridade que existem ou não existem
no dia a dia”, aponta D. Manuel Felício no “primeiro degrau da caminhada para a Páscoa”.
Esta avaliação, que o Bispo da Guarda apontou na primeira conferência quaresmal,
deve pautar o caminho quaresmal. Professar a fé implica a superação de muitas tentações,
que também “cristãos e comunidades cristãs terão de saber enfrentar e vencer no mundo
actual”. A tentação do poder e do domínio sobre o mundo e sobre os homens, a tentação
materialista e a tentação de “instrumentalizar Deus e a religião colocando-as ao serviço
de interesses pessoais”, são provas pelas quais “Jesus teve que passar, mas que não
perderam a sua actualidade nos dias de hoje”, sublinha D. Manuel Felício. O Bispo
da Guarda constata que na cultura actual não é fácil professar e viver a fé. “As raízes
cristãs estão a ser abaladas com a introdução de novos hábitos, de novos critérios
de comportamentos que não dignificam e respeitam a pessoa na sua autêntica verdade”.
As referências cristãs são “sujeitas a utilizações e interpretações desligadas da
sua raiz”. A profissão de fé nas circunstâncias actuais “implica necessariamente dar
nova vida a um mundo descristianizado, afastado da prática cristã”, aponta. A
Quaresma é um tempo de “exame de consciência”, para reflectir sobre as novas formas
de “fazer compreender Cristo e a sua Mensagem ao espírito moderno”. Esta análise implica
“assumir com coragem as nossas responsabilidades de cidadãos e de cristãos”, mostrando
às pessoas que “a raiz do seu valor e da sua dignidade está no facto de serem imagem
e semelhança de Deus”, sublinha D. Manuel Felício, pois as culturas serão tanto mais
humanas e humanizantes “quanto mais conseguirem traduzir esta dimensão transcendente
dos seres humanos”. Intervir socialmente e na opinião pública para denunciar e
corrigir agressões “é também um professar a nossa fé”. O Bispo da Guarda afirma que
“não são as culturas que determinam a natureza do homem, mas é a natureza humana que
é a medida da cultura” por isso nenhum ser humano deve ser “prisioneiro de modelos
de comportamento humano e social impostos por culturas em contradição com aspirações
mais profundas”. No contexto actual da sociedade portuguesa, D. Manuel Felício
afirma que “devemos resistir à tentação de adaptar o nosso comportamento aos modelos
sociais e à mentalidade dominante só para sermos modernos, actualizados, prejudicando
a fidelidade ao valores da fé e aos valores humanos fundamentais”. A formação
permanente na fé, através da catequese, é apontado por D. Manuel Felício como a forma
de “iluminar as realidades humanas actuais com uma linguagem actual”.