Os "desertos " da sociedade e da Igreja na primeira catequese quaresmal do Cardeal
D. José Policarpo, na Sé de Lisboa.
(26/2/2007) “A voz que clama no deserto” foi o tema da primeira catequese quaresmal
do Cardeal Patriarca de Lisboa. D. José Policarpo foi á Sé de Lisboa fazer um diagnóstico
de alguns males do mundo actual como o individualismo, a permissividade e o naturalismo,
como sintomas de uma sociedade que precisa de novas propostas da Igreja para se regenerar
e encontrar valores éticos e morais fundamentais. O Cardeal-Patriarca começou
por uma reflexão sobre os "desertos" da sociedade e da Igreja, pedindo aos católicos
que sintam a necessidade de "rasgar caminhos novos". "A própria Igreja, na sua
complexa realidade, pode constituir, também ela, esse “deserto” onde é preciso rasgar
caminhos para a Palavra do Senhor", referiu, na Sé Patriarcal. Segundo o Patriarca
de Lisboa, é preciso encontrar caminhos novos numa Igreja "onde uma religiosidade
tradicional não exprime a exigência inovadora da Páscoa de Cristo, onde o abandono
progressivo da prática religiosa, o divórcio entre fé e moral, isto é, a falta de
coerência para se viver segundo a fé que se professa, a pobreza de uma autêntica cultura
religiosa". Estas questões, assinalou, "exigem uma pastoral profética que rasgue caminhos
para um seguimento de Cristo, transformador da vida". "Isto exige aos cristãos
que aprofundem as razões da sua fé. Esta não é, apenas, um sentimento ou uma tradição;
é adesão da inteligência e do coração e encontra fundamento e apoio na razão", acrescentou.
D. José Policarpo defendeu que "a missão da Igreja na sociedade em que vivemos
se realiza na tensão de amar o mundo, sem se identificar com ele, e que a mensagem
de que a Igreja é portadora tem de ter a capacidade de surpreender, rasgando caminhos
para a surpresa da fé e da esperança". O Cardeal-Patriarca alertou que "não há
convergência espontânea entre a visão da vida veiculada pela fé cristã e a que é proposta
pela sociedade em que vivemos, o que exige da Igreja “um remar contra a corrente”,
na expressão de João Paulo II". Como principais sinais do "«deserto» da sociedade
em que vivemos", D. José Policarpo apontou o naturalismo, o racionalismo, o individualismo
e a permissividade. "Apesar de ter muitas reminiscências cristãs na sua cultura, a
nossa sociedade não se abre facilmente à verdade do Evangelho, com tendência a isolar
a fé cristã da racionalidade humana, relegando-a para o campo da subjectividade individual",
explicou. Por isso, apontou D. José Policarpo, "é preciso mostrar que há razões
para acreditar, que a fé não violenta a razão e que esta, no seu dinamismo profundo,
é uma abertura a Deus e à Sua Palavra".