2007-02-21 14:26:49

Mensagem para a Quaresma do Administrador Apostólico do Porto: "arrependei-vos e acreditai no Evangelho"(Mat. 1,15)


(21/2/2007) Eis chegado o tempo favorável (1.ª Cor. 6,2).
Vamos iniciar um tempo novo, a Quaresma como caminho de preparação para a Páscoa. O tempo, visto com os olhos dos cristãos, é uma realidade ungida pelo Verbo de Deus. O “tempo sagrado” supõe que acreditamos no Deus da Criação que é o Senhor da história. Foi Jesus que deu ao tempo o sentido sagrado, ao assumir Ele mesmo a natureza humana. Então a ungiu e consagrou como oferta serena, purificada, entregue nas mãos do Pai. É dessa visão sagrada do tempo que deriva a beleza de cada acontecimento simples da vida humana.
A Quaresma, com as características particulares de outros tempos, em que tudo o que era profano parava, essa Quaresma deixou de existir. Agora é o ar renovado do Vaticano II que nos convida a ouvir o pregão que soava já nos tempos do Velho Testamento: Tocai a trombeta em Sião, ordenai o jejum, convocai a Assembleia.
Em Quarta-feira de Cinzas inicia-se uma caminhada pascal guiada por Cristo, através do deserto da Quaresma: Voltai para Mim de todo o coração com lágrimas, jejuns e lamentações (Joel, 2); Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás-de voltar (Génesis 3,19); Arrependei-vos e acreditai no Evangelho (Mat. 1,15).
No seguimento deste convite, o Evangelho de S. Mateus traça-nos o QUADRO programático da Quaresma: caridade desinteressada; oração sincera diante de Deus; jejum verdadeiro; maior atenção à Palavra de Deus (Mat. 6, 1-9.16-18).
João Paulo II, já em 1984, insistia em que dos Pastores da Igreja se espera uma CATEQUESE sobre a Reconciliação e a Penitência, sobretudo neste tempo forte da Quaresma, isto é: ir buscar às fontes bíblicas a necessidade de se reconciliar com Deus, com o próximo e com a própria natureza (Reconciliação e Penitência, 26).
Dos Pastores da Igreja espera-se também uma CATEQUESE sobre a Penitência, que é, antes de tudo, conversão, à imagem do Filho Pródigo, e, depois, é arrependimento sincero: Se teu irmão se arrepender (voltar a ti), perdoa-lhe.
Dos Pastores da Igreja espera-se ainda uma CATEQUESE sobre a consciência e a sua formação. A consciência é esse “santuário interior”, tantas vezes agredido, perturbado e obscurecido que precisa de esclarecimento e orientação sobre o sentido do pecado, da tentação e das tentações.
Bento XVI, por sua vez, propõe-nos para este ano de 2007, um itinerário quaresmal que nos conduza com Maria e João a contemplar a profundidade, a largura e a altura daquele AMOR de Deus que se revela em Cristo Jesus. Aí se manifesta o AMOR=Ágape de que Deus nos rodeia, sem esperar retribuição. Aí se manifesta também o AMOR=Eros que é nem mais nem menos do que a Paixão divina de Deus pelo homem que criou: O Criador aguarda o SIM das suas criaturas, como o jovem esposo aguarda o sim da sua noiva.
A este amor o homem fechou-se desde Adão. O mistério da Cruz revela que a morte do Filho de Deus é o acto supremo de amor e liberdade do novo Adão, Cristo. Na cruz manifesta-se o amor de Deus por nós. Na cruz, Jesus tem sede. Na cruz, Jesus morre derramando sangue e água, símbolos para os Padres da Igreja dos sacramentos do Baptismo e da Eucaristia.
Bento XVI convida-nos a viver a Quaresma como “tempo eucarístico”: acolhendo o amor de Jesus e aprendendo a devolvê-lo ao irmão por gestos e palavras.
Aqui tem lugar uma referência às práticas tradicionais da Igreja, para este tempo forte de preparação da Páscoa. Sintetizam-se em quatro: a Oração, a Abstinência, o Jejum e a Esmola.
Se nos temos descuidado em dar tempo a Deus na oração, a Quaresma é a altura de reparar essa falta, na convicção profunda de que sem Deus e a sua graça nada faremos de útil para a salvação.
Todas as sextas feiras da Quaresma são dias de abstinência, o que significa que nos devemos abster de carnes ou então optar por uma refeição pobre que evite os luxos dos sabores requintados.
Jejuar é fazer uma única refeição por dia ou então privar-se de alimento e bebida, de tal modo que isso constitua uma verdadeira penitência. Dias de jejum obrigatório são a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa.
A esmola, palavra que parece ter sofrido evolução semântica negativa, a esmola não é mais nem menos do que pôr em prática a partilha de bens com os mais necessitados, à semelhança da Comunidade primitiva: Vendiam as suas propriedades e bens e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um (Actos 2, 45).
Neste particular, é costume da Igreja, nos últimos anos, convidar os cristãos a oferecerem um contributo penitencial, que corresponde, em Portugal, à antiga Bula. Todas as paróquias são convidadas a dispor de um lugar devidamente identificado em cada Igreja ou Capela e no qual os fiéis depositam a sua parte de renúncia quaresmal em dinheiro. Em alternativa, ou em simultâneo, poderá fixar-se um dia no qual todos, no ofertório dominical, entregam a sua oferta para o fim indicados pelo Bispo.
Nesta Diocese do Porto, o Contributo Penitencial de 2007 destinar-se-á, depois de retirados 5% para a Conferência Episcopal poder apoiar causas idênticas, a duas finalidades: a Fundação “O Bom Samaritano” e a Diocese de Meliapor.
“O Bom Samaritano” é uma Instituição fundada por João Paulo II, agora sob administração do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde. Os bens que recolhe destinam-se a formar agentes para prevenir e assistir os que contraíram SIDA, principalmente em África. Só dois dados concretos: Em África, há oito países com mais de um milhão de doentes da Sida cada um; entre 2001 e 2003, o número de crianças órfãs, por causa da Sida, subiu para 15 milhões.
A Diocese de Meliapor fica na Índia. Foi diocese do Padroado português até 1950. Entre o século XVI e o século XX, teve à sua frente cerca de vinte Bispos portugueses. Entre eles esteve D. António Barroso, que depois foi Bispo do Porto. Pedem-nos agora ajuda para a construção de um Centro de Formação Laical e Casa de Retiros.
Vamos abrir as nossas bolsas para estas duas causas. E que Deus abra o nosso coração à alegria de dar e repartir do que nos sobra, quem sabe, do que nos faz falta.
Pode acontecer que esta disponibilidade de repartir esteja um pouco arrefecida. É preciso então reacender a chama do Amor fraterno nesta Quaresma de 2007, que nos vai conduzir à Páscoa da Ressurreição.
Eis o tempo favorável. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho!
Porto, 12 de Fevereiro de 2007
João Miranda Teixeira, Administrador Apostólico







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