Ao serviço de uma familia humana: o director da OCPM, Padre Rui Pedro, explica como
a Igreja em Portugal responde aos novos fluxos migratórios
(11/1/2007) A igreja em Portugal, a partir das estruturas criadas em 1962 - vésperas
do profético Concílio Vaticano II - tem procurado estar atenta às mudanças dos fluxos
migratórios de saída, permanência e de entrada que atravessam o nosso território,
cultura, mobilidade e espiritualidade. Um serviço que, conforme as orientações
do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes, deverá acontecer no “hoje
plural”, cada vez mais em contexto ecuménico, intercultural e inter-religioso para
a efectiva unidade da única família humana. Portugueses pelo mundo Para acompanhar
social e pastoralmente os portugueses, cuidando da fé, defendendo a família e valorizando
a cultura e língua, existe hoje ao serviço dos “Portugueses em Movimento” uma rede
de Missões Católicas ou outras Estruturas linguísticas em 21 nações. Esta obra de
evangelização é garantida, pelos próprios leigos emigrantes, com o presença de missionários
portugueses e lusodescendentes, que aceitam “ser migrantes com os migrantes” lá onde
a Igreja deles precisa. A responsabilidade pelos cristãos migrantes e seus “evangelizadores”
é tarefa primária da igreja de acolhimento, em colaboração com a igreja de origem,
sobretudo, nas primeiras fases do processo de integração. Actualmente a Comissão
Episcopal da Mobilidade Humana (CEMH) da CEP, através da OCPM, acompanha a “pastoral
portuguesa” mantendo laços com: 123 sacerdotes (37 na Europa, 4 em África, 77 na América,
5 na Ásia e Oceânia); com 30 religiosas (22 na Europa e 8 em África); com 22 diáconos
permanentes (7 na Europa, 15 na América); e, 30 Assistentes pastorais formados em
teologia (dos quais 19 na Europa). Além destes operadores portugueses ou lusodescendentes
cresce o número de sacerdotes de outras nacionalidades que acompanham as Comunidades
no espírito de universalidade que caracteriza a acção da Igreja. A última grande
reflexão da Igreja, motivada pela CEMH, sobre as “mutações qualitativas e quantitativas”
em acto nas Comunidades, ao inicio do Novo Milénio, aconteceu durante o I Encontro
Mundial das Comunidades Portuguesas, realizado em finais de Março de 2005, do qual
existe um Livro de Actas que pode ser solicitado à OCPM. Refugiados e imigrantes
no país Em Portugal continental e Regiões autónomas, têm sido acompanhados os
vários fluxos de refugiados (os das ex-colónias africanas, de Timor leste e dos Balcãs,
entre outros) através dos secretariados diocesanos de migrações, em parceria com as
Organizações Não Governamentais (ONG) vocacionadas e preparadas para este apoio. Todavia,
diante da situação de emergência social que tem caracterizado os fluxos de entrada
- alguns fortemente marcados pela irregularidade administrativa a que o país assiste
desde os anos 80 - a igreja tem procurado criar estruturas para o acolhimento na fé
e defesa dos valores da família dos imigrantes. Entende-se que ao favorecer a auto-organização
em comunidades de culto, ao valorizar a cultura e tradições religiosas através de
eventos específicos, ao apoiar a afinidade cultural dos mediadores pastorais, os imigrantes
e suas famílias podem continuar, não obstante as dificuldades inerentes à sua condição
de estrangeiros, o seu itinerário de fé e vida comunitária mediante um acompanhamento
específico e inculturado. Por isso, encontram-se em criação - numas dioceses mais
do que noutras - as capelanias para os católicos e a celebração de “protocolos” com
outras confissões religiosas para a cedência de espaços de culto e eventos de colaboração
ecuménica e inter-religiosa, a nível de boas práticas de integração social, religiosa
e consciente participação cívica. Actualmente a Comissão Episcopal da Mobilidade
Humana, após o levantamento nacional de 2006, tem conhecimento da existência de várias
capelanias/centros ao serviço da fé dos imigrantes cristãos em Portugal: 12 sacerdotes
(para 9 capelanias católicas linguísticas de rito latino); 07 sacerdotes, dos quais
3 casados (para 5 capelanias católicas linguísticas de rito oriental); e 10 sacerdotes,
dos quais 2 celibatários (para 8 capelanias linguísticas ortodoxas). Também a nível
das comunidades evangélicas surgiram ultimamente, sobretudo, nas grandes cidades estruturas
de maior acompanhamento da fé. Para assumir esta diversidade cultural e solidariedade
na fé em Jesus Cristo tem-se vindo a divulgar nas dioceses, sob indicação da CEMH,
a celebração anual da Festa dos Povos, envolvendo todas as comunidades migrantes e
religiosas, assim como ONG comprometidas com a defesa dos direitos humanos dos migrantes,
independentemente do seu estatuto jurídico. Famílias solidárias com a vida e amor
Tendo como ícone a experiência bíblica da família de Nazaré, relatada nos evangelhos,
forçada a refugiar-se no estrangeiro - no Egipto - para salvar a vida do menino Jesus
das mãos do opressor Herodes, as comunidades cristãs e movimentos eclesiais são, no
próximo Dia Mundial do Migrante e Refugiado, convidadas e a solidarizar-se com as
famílias migrantes a viver na área da paróquia, mediante gestos simples e concretos,
para que com as famílias portuguesas sejam “santuários” de vida, de amor e de identidade
numa sociedade portuguesa que dá sinais preocupantes de “desagregação” da família
e “profanação” da vida humana. Um simples e bonito gesto seria de, nas eucaristias
do próximo domingo dizer aos imigrantes que são muito bem-vindos.