Não tenhais medo da luz de Cristo! - Bento XVI na missa da Epifania, na basílica de
S. Pedro
Cristo, Luz de todas as gentes: este mistério central da fé cristã, fundamento da
missão universal da Igreja, foi solenemente evocado pelo Papa na Missa celebrada a
6 de Janeiro, solenidade da Epifania. Em que sentido Cristo é ainda hoje ‘lumen gentium’
– luz das gentes? – interrogou-se Bento XVI. A que ponto está este itinerário universal
dos povos em direcção a Ele? Em progressão ou em regressão? E quem são hoje em dia
os Magos? Como interpretar, pensando no mundo actual, estas misteriosas figuras evangélicas? O
Papa recordou que, não obstante os vinte séculos passados desde que foi revelado e
realizado em Cristo, o mistério da salvação universal ainda não chegou à sua realização
completa. Como escreveu João Paulo II, “a missão encontra-se ainda nos seus inícios”.
O próprio Concílio Vaticano II foi inteiramente impulsionado pelo desejo de anunciar
à humanidade contemporânea Cristo luz do mundo. “No coração da Igreja, a partir
da sua hierarquia, emergiu impetuosamente, suscitado pelo Espírito Santo, o desejo
de uma nova epifania de Cristo no mundo, um mundo que a época moderna tinha profundamente
transformado e que pela primeira vez na história se encontrava perante o desafio de
uma civilização global, cujo centro já não podia ser a Europa, nem sequer os chamados
Ocidente e Norte do mundo." Emergia a exigência de elaborar uma nova ordem mundial
política e económica, mas ao mesmo tempo e sobretudo espiritual e cultural, isto é,
um renovado humanismo”. A solenidade da Epifania oferece aos crentes em Cristo
uma perspectiva aberta e universal, “a partir da manifestação de um Deus que se revelou
na história como luz do mundo, para guiar e introduzir finalmente a humanidade na
terra da promessa, onde reinam liberdade, justiça e paz”. Cada vez mais (acrescentou
ainda, em à-parte improvisado, o Papa), vemos que não podemos sozinhos criar e encontrar
justiça e paz, se não à luz de um Deus que nos mostra o seu rosto, este rosto humilde
que nos aparece na mangedoura de Belém e na Cruz”: Passando depois à questão inicialmente
formulada (quem são hoje os “magos” e a que ponto está a sua – e nossa - “viagem”),
Bento XVI evocou as “Mensagens” finais que o Concílio Vaticano II dirigiu a toda a
humanidade, nomeadamente “aos governantes” e “aos homens de pensamento e de ciência”.
A estes dois grupos de pessoas – observou o Papa – haveria que acrescentar os “guias
espirituais das grandes religiões do mundo”, bem presentes aliás no espírito dos Padres
conciliares. “À distância de dois mil anos, podemos portanto reconhecer nas
figuras dos Magos uma espécie de prefiguração destas três dimensões constitutivas
do humanismo moderno: a dimensão política, científica e religiosa. A Epifania mostram-nas
em estado de ‘peregrinação’, isto é num movimento de busca que, em última análise,
tem o seu ponto de chegada em Cristo. Ao mesmo tempo mostra-nos Deus que por sua
vez vem em peregrinação ao encontro do homem: quem é de facto Jesus, se não Deus saído,
por assim dizer, de si mesmo, para vir ao encontro da humanidade? Foi por amor que
Ele se fez história na nossa história; por amor veio a trazer-nos o germe da vida
nova e a semeá-lo nos sulcos da nossa terra, para que germine, floresça e dê fruto”. A
concluir, o Papa evocou a representação dos Magos que adoram o Menino, uma imagem
que contém – sublinhou – “uma mensagem exigente e sempre actual”: “Exigente e sempre
actual antes de mais para a Igreja que, espelhando-se em Maria, está chamada a mostrar
aos homens Jesus, somente Jesus. Ele é de facto Tudo e a Igreja só existe para permanecer
unida a Ele e dá-lo a conhecer ao mundo. Ajude-nos a Mãe do Verbo incarnado a sermos
dóceis discípulos do seu Filho, Luz das gentes… A todos os homens do nosso tempo
quereria hoje repetir: não tenhais medo da luz de Cristo! A sua luz é o esplendor
da verdade. Deixai-vos iluminar por Ele, povos da terra; deixai-vos envolver pelo
seu amor e encontrareis a via da paz. Assim seja”.