O Natal cristão ofende? Crise de identidade ou "fundamentalismo que pretende excluir
a religião?
(22/12/2006) Em várias partes do mundo nos últimos dias e semanas têm-se verificado
de episódios com polémica à volta da celebração do Natal. Presépios deitados fora,
cânticos e festejos natalícios proibidos, filmes que não podem ser exibidos: o Ocidente
deixa-se dominar pelo medo e esconde os símbolos cristãos, invocando a laicidade e
a necessidade de não ofender os que não professam essa fé.O jornal português “Público”,
na sua edição desta sexta feira, procura explicações para o facto. Alfredo Teixeira,
professor de Antropologia e Sociologia da Religião na Universidade Católica, identifica
diferentes fenómenos a partir dos episódios conhecidos. Re-significação das práticas
natalícias, invasão do espaço público pelo Estado, rejeição da narrativa simbólica
do Natal enquanto património cultural comum de uma sociedade que "não é pertença de
ninguém" - são algumas das ideias avançadas para explicar os episódios que têm surgido
a público. Paulo Mendes Pinto, professor de História das Religiões na Universidade
Lusófona, que se assume como ateu - "para se ser ateu, é necessária alguma religiosidade",
diz -, considera que se está perante um "fundamentalismo" que pretende "excluir a
religião". Ao longo das últimas semanas, muitas foram as história rocambolescas que
vieram a lume, a respeito da “não celebração” do Natal cristão. O Fórum Andaluz da
Família concedeu o Prémio Herodes 2006 à directora de uma escola pública em Mijas
(Málaga, Espanha), que colocou no lixo um presépio feito por alunos da disciplina
de Religião, argumentando que numa escola pública de um país laico "não são permitidos
símbolos religiosos". Também em Espanha, na escola Hilarion Gimeno (Saragoça), foi
decidido que não haveria festa de Natal, para não correr o risco de ofender crianças
não-cristãs.No dia 1 de Dezembro, em Inglaterra, diversos responsáveis muçulmanos
e cristãos afirmaram que as empresas que "interditam" o Natal, receando ofender crentes
não-cristãos, arriscam-se a provocar reacções anti-muçulmanas. De acordo com a AFP,
o Fórum de Cristãos e Muçulmanos dirigiu uma carta a presidentes de câmara apelando
a que não sejam abandonados os símbolos cristãos do Natal. Há oito anos, a câmara
de Birmingham (centro de Inglaterra) decidiu mesmo renomear o tempo natalício como
"Winterval" - ou intervalo de Inverno. Numa feira tradicional de Natal, em Chicago,
as autoridades municipais tinham objectado à exibição de vídeos promocionais do filme
recém-estreado O Nascimento de Cristo (The Nativity Story) no Christkindlmarket alemão,
por considerar que o filme poderia ofender os não-cristãos.O jornal do Vaticano, L’Osservatore
Romano, apresentou Domingo uma peça em que apelava à defesa dos símbolos do Natal,
em especial o presépios, criticando os que procura apagar "todas as suas tradições"
e fazer da época "uma simples festa de prazeres e indiferença".Num artigo assinado
pelo jornalista Mario Gabriele Giordano pode ler-se que na Europa, "e particularmente
em Inglaterra, assiste-se a uma verdadeira "guerra contra o Natal"."Uma guerra que
tende a apagar todas as tradições de Natal", refere o jornal. "O que suscita mais
a perplexidade é o desaparecimento definitivo de qualquer referência religiosa" em
cartões impressos para a época, substituídos por "bonecos de neve e renas, e já não
a estrela do presépio, os magos ou outras imagens do género"."Quando se rompe o silêncio
circunspecto que envolve esta ‘guerra contra o Natal’, afirma-se que tudo é justificado
pela necessidade de não ofender a sensibilidade dos não-crentes ou de fiéis de outras
religiões", acrescenta o texto.Do “Bom Natal” às “Boas Festas”, do presépio à Árvore
de Natal, a substituição dos símbolos natalícios tradicionais é objecto de preocupação
junto do Vaticano. O “Natal sem Jesus” é, para o jornalista, um sinal de “hipocrisia
e de medo”. ( Ecclesia)