Arusha, 14 dez (RV) - O Tribunal Penal Internacional de Ruanda (TPIR) condenou,
nesta quarta-feira, o sacerdote católico ruandês, Pe. Athanase Seromba, a 15 anos
de reclusão, por genocídio e crimes contra a humanidade, informou o porta-voz daquele
tribunal, Bocar Sy, segundo a agência de notícias portuguesa, LUSA.
Pe. Seromba
é o primeiro sacerdote da Igreja Católica a ser condenado por genocídio por um tribunal
internacional.
O TPIR, com sede em Arusha, na Tanzânia, condenou Pe. Seromba
por genocídio e por exterminação, categoria incluída nos crimes contra a humanidade,
absolvendo-o do crime de conspiração para cometer genocídio.
Em 1994, Pe. Athanase
Seromba tinha a seu cargo a paróquia de Nyange, na localidade de Kivumu, província
ocidental de Kibuye. Fugindo dos massacres, mais de duas mil pessoas, a maioria da
comunidade tutsi, encheram a igreja de Nyange que, a partir de 15 de abril de 1994,
foi alvo de ataques regulares, por parte de militares e milícias.
Segundo a
acusação, o sacerdote ordenou a destruição da igreja, com máquinas escavadoras, que
mataram os poucos sobreviventes aos ataques dos militares e das milícias.
De
500 mil a um milhão de tutsis e hutus moderados, segundo diferentes fontes, foram
mortos a machadadas e tiros, por milícias extremistas, soldados e pela própria população
civil, durante o genocídio em Ruanda. E muitos morreram nas igrejas onde se tinham
refugiado.
Em tribunais nacionais, a participação da Igreja Católica no genocídio
foi julgada na Bélgica, onde um tribunal condenou, em 2001, duas freiras ruandesas,
a 12 e 15 anos de prisão, por sua atuação durante o genocídio em Ruanda.
No
entanto, esta é a primeira vez que a Igreja Católica vê um de seus membros sentar-se
no banco do TPIR, que até agora só havia condenado outro religioso: o pastor da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, Elizaphan Ntakirutimana, a uma pena de dez anos de reclusão,
em fevereiro de 2003.
Pe. Seromba, de 43 anos, estava refugiado, desde 1997,
na Diocese italiana de Florença, mas se entregou voluntariamente ao tribunal, no dia
7 de fevereiro de 2002, devido à pressão da então procuradora do TPIR, Carla del Ponte,
sobre as autoridades eclesiásticas. (MZ)