2006-12-11 17:51:26

BENTO XVI A JURISTAS CATÓLICOS: "IGREJA APÓIA UM SADIO LAICISMO" QUE NÃO EXCLUA DEUS E A RELIGIÃO DA VIDA


Cidade do Vaticano, 09 dez (RV) - Igreja apóia um "sadio laicismo" na relação entre Estado e Igreja; mas hoje, existe um laicismo que quer "excluir Deus de todos os âmbitos da vida", e negar à religião "toda e qualquer forma de relevância política e cultural". Foi o que afirmou, em síntese, o papa, recebendo, esta manhã, na Sala das Bênçãos, no Vaticano, os participantes do Congresso da União dos Juristas Católicos Italianos, em andamento em Roma.

A Igreja _ afirmou Bento XVI _ não faz nenhuma "indébita ingerência", quando proclama "com firmeza, os grandes valores que dão sentido à vida da pessoa e salvaguardam sua dignidade".

Ressaltando que hoje existem múltiplas e, por vezes, opostas e contraditórias "maneiras de entender e de viver a laicidade", o pontífice ilustrou o desenvolvimento histórico desse conceito, para explicar o significado autêntico da laicidade. A laicidade _ recordou _ "nasceu como indicação da condição do simples fiel cristão, não pertencente nem ao clero nem ao estado religioso", mas "durante a Idade Média revestiu-se de um significado de oposição entre os poderes civis e as hierarquias eclesiásticas".

Já nos tempos modernos _ continuou o Santo Padre em sua explicação _ a laicidade assumiu o significado de exclusão da religião e de seus símbolos da vida pública, mediante seu confinamento no âmbito do privado e da consciência individual.

Desse modo _ acrescentou Bento XVI _ ao termo laicidade foi atribuída uma acepção ideológica oposta à que tinha em sua origem", expressando hoje, "a total separação entre o Estado e a Igreja". Essa acepção, segundo certo pensamento laico e certa moral laica, não teria, assim, "nenhum título para intervir sobre uma temática relativa à vida e ao comportamento dos cidadãos".

"Na base de tal concepção, há uma visão não-religiosa da vida, do pensamento e da moral: isto é, uma visão na qual não há lugar para Deus, para um mistério que transcenda a pura razão, para uma lei moral de valor absoluto, vigente em todos os tempos e todas as situações. Somente se nos dermos conta disso, poderemos medir o peso dos problemas subjacentes a um termo como "laicidade", que parece ter-se tornado quase o emblema qualificador da pós-modernidade, em particular, da moderna democracia" _ ponderou Bento XVI.

É tarefa de todos os fiéis _ acrescentou o papa _ contribuir para elaborar um conceito de "sadia laicidade" que, de um lado, reconheça a Deus, à sua lei moral e à Igreja, "o lugar que lhes cabe na vida humana, individual e social; e, de outro lado, afirme e respeite a legítima autonomia das realidades terrenas". Trata-se _ precisou o pontífice _ de uma autonomia "da esfera eclesiástica" e "não certamente da ordem moral".

"Portanto, não pode ser a Igreja a indicar qual organização política e social deva ser a preferida, mas é o povo que deve decidir livremente, o modo melhor e mais apto para organizar a vida política. Toda e qualquer intervenção direta da Igreja em tal campo seria uma indébita ingerência. Por outro lado, a "sadia laicidade" comporta que o Estado não considere a religião como um simples sentimento individual, que se poderia confinar somente ao âmbito privado. Pelo contrário, a religião, sendo também organizada em estruturas visíveis, como se dá no caso da Igreja, deve ser reconhecida como presença comunitária pública" _ prosseguiu o Santo Padre.

"Além disso _ disse ainda _ isso comporta que, a cada confissão religiosa (desde que não esteja em contraste com a ordem moral e não seja perigosa para a ordem pública) seja garantido o livre exercício das atividades de culto _ espirituais, culturais, educativas e caritativas _ da comunidade dos fiéis."

Por isso _ ressaltou _ "não é certamente expressão de laicidade, mas sua degeneração em laicismo, a hostilidade a toda forma de relevância política e cultural da religião; a presença, em particular, de todo símbolo religioso nas instituições públicas". Assim como _ observou ainda o Papa _ não é sinal de sadia laicidade, a rejeição à comunidade cristã, e àqueles que legitimamente a representam, ao direito de pronunciar-se sobre problemas morais que hoje interpelam a consciência de todos os seres humanos, em particular dos legisladores e dos juristas".

"De fato, não se trata de indébita ingerência da Igreja na atividade legislativa, própria e exclusiva do Estado, mas da afirmação e da defesa dos grandes valores que dão sentido à vida da pessoa e salvaguardam sua dignidade. Esses valores, antes de serem cristãos, são humanos e, por isso mesmo, não podem deixar a Igreja indiferente e silenciosa. Ela tem o dever de proclamar com firmeza, a verdade sobre o homem e sobre seu destino."

Bento XVI exaltou "os progressos que a humanidade conquistou" neste período histórico, mas, ao mesmo tempo, advertiu para o fato que, por parte de alguns, se constate, hoje, "a tentativa de excluir Deus de todos os âmbitos da vida, apresentando-O como antagonista do homem".

"Cabe a nós, cristãos, mostrar que, ao invés, Deus é amor e quer o bem e a felicidade de todos os homens. É nosso dever fazer compreender que a lei moral que Ele nos deu, e que se manifesta a nós com a voz da consciência, tem a finalidade, não de oprimir-nos, mas de libertar-nos do mal e de tornar-nos felizes. Trata-se de mostrar que sem Deus, o homem está perdido, e que a exclusão da religião da vida social, em particular a marginalização do Cristianismo, mina as próprias bases da convivência humana. De fato, essas bases, antes de serem de ordem social e política, são de ordem moral." (RL)







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