AJUDAR O ENCONTRO ENTRE AS CULTURAS E TRABALHAR PELA PAZ E RECONCILIAÇÃO: PROPÓSITO
DA VISITA DO PAPA À TURQUIA
Ancara, 28 nov (RV) - Minha viagem "não é uma viagem política, mas uma viagem
pastoral", sob o signo da paz e do diálogo". Com essas palavras, teve início a V Peregrinação
Apostólica Internacional de Bento XVI, que o levou à Turquia. O papa chegou ao aeroporto
internacional de Ancara, depois de duas e meia de vôo, a bordo de um Airbus da Alitalia,
tendo sido recepcionado pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan.
Na
tradicional troca de telegramas com os chefes de Estado dos países sobrevoados durante
o vôo Roma- Ancara, Bento XVI escreveu ao Presidente da Itália, Giorgio Napolitano,
que estava para "partilhar" com os católicos locais "momentos de forte espiritualidade"
e que queria "encorajar o diálogo ecumênico e inter-religioso". "Estou certo de que
a sua visita _ replicou o Presidente Napolitano _ oferecerá uma contribuição de extraordinário
valor à causa da irmandade e da paz entre os povos, reforçando as razões profundas
de mútua compreensão e de diálogo entre o cristianismo e o mundo islâmico."
"Turquia,
ponto de encontro e encruzilhada de religiões e culturas diversas": com essas palavras,
escritas em inglês no Livro de Ouro do Mausoléu de Atatϋrk, Pai da Turquia moderna,
Bento XVI dirigiu sua saudação ao país, após a chegada à capital, Ancara. "Nesta terra,
ponto de união entre a Ásia e a Europa _ são ainda palavras do pontífice _ faço minhas,
com satisfação, as palavras do fundador da república turca, para expressar o augúrio:
"Paz na Pátria, paz no mundo!"
Uma mensagem que encontrou ouvidos atentos a
escutá-la, como demonstrou a presença, no aeroporto, do Primeiro-ministro Erdogan,
com o qual o Papa se deteve em colóquio durante cerca de vinte minutos. No encontro
com Erdogan, na sala vip do aeroporto de Ancara, o papa estava acompanhado pelo cardeal
secretário de Estado, Tarcisio Bertone, pelo núncio apostólico na Turquia e Turcomenistão,
Dom Antonio Lucibello, e pela atriz turca, Serra Yilmaz, na qualidade de intérprete
da língua italiana.
Tratou-se de um colóquio cordial _ iniciado com um aperto
de mão e sorrisos _ que contribuiu para desfazer imediatamente, as dificuldades e
dúvidas da vigília, como transparece nas declarações que, após o encontro, o Primeiro-ministro
fez aos jornalistas.
O papa faz sua visita no momento justo, observou Erdogan,
"num mundo no qual a cultura da violência se difunde e as diversidades são ressaltadas;
é muito significativo que o papa venha a um país onde a maioria é muçulmana, a um
país leigo e democrático como a Turquia. Com a sua visita se pode dar uma mensagem
de paz e tolerância".
Erdogan acrescentou que o pontífice falou de modo positivo
a propósito do Islã e do ingresso da Turquia na União Européia. De fato, o líder turco
afirmou ter obtido o apoio de Bento XVI para a pretensão turca de fazer parte da UE.
"Pedi
seu apoio para a entrada da Turquia na União Européia. Ele respondeu: "Queremos que
a Turquia faça parte da União Européia" _ informou o premier turco. "Ouvir essas expressões
_ observou ele _ para mim, significa que o nosso encontro teve um êxito positivo."
A
imprensa turca também dirigiu, hoje, calorosas boas-vindas ao papa. O diário "Sabah"
formula a saudação em italiano e na primeira página. Outros jornais exibem a foto
do papa em primeira página, sorridente e de braços abertos. Todos trazem, nas páginas
internas, artigos dedicados à visita e _ embora ressaltando que se trata, em primeiro
lugar, de uma visita ao Patriarca Bartolomeu I para progredir no caminho ecumênico
_ fazem votos de que se possam superar as incompreensões do passado.
A pequena
comunidade turca, em seus diversos ritos, encontra-se recolhida em oração, pelo bom
êxito desta visita apostólica, da qual espera encorajamento e confiança, para olhar
com serenidade, o futuro daquele país.
Do aeroporto de Ancara, o Santo Padre
transferiu-se para o Mausoléu de Atatϋrk, onde depositou uma coroa de flores próximo
do túmulo do Mustafá Kemal Atatϋrk (Pai da Turquia).
A seguir, transferiu-se
de automóvel para o Palácio Presidencial de Ancara, onde teve lugar a cerimônia oficial
de boas-vindas, por parte do presidente da Turquia, Ahmet Necdet Sezer. A cerimônia
se realizou sem discursos oficiais.
Do Palácio Presidencial de Ancara, Bento
XVI transferiu-se, de automóvel, para a sede da Presidência para os Assuntos Religiosos,
"Diyanet", de Ancara. Ali o aguardava o presidente desse departamento, Prof. Ali Bardakoğlu.
Na ocasião, o papa proferiu i primeiro discurso desta sua visita apostólica: um discurso
muito esperado, não somente na Turquia _ como ressaltou o presidente da Comissão para
o Diálogo Inter-religioso da prestigiosa Universidade de Al Azhar, do Cairo.
"Sou
grato pela oportunidade de visitar esta terra, tão rica de história e de cultura,
para admirar as belezas naturais, para ver com os meus olhos a criatividade do povo
turco, e para apreciar a antiga cultura de vocês, bem como a sua longa história, quer
civil, quer religiosa" _ disse Bento XVI.
"À minha chegada à Turquia, fui gentilmente
recebido pelo Premier Erdogan e pelo Presidente Sezer. Ao saudá-los, tive o prazer
de expressar meu profundo respeito por todos os habitantes desta grande Nação, e de
homenagear, em seu Mausoléu, o fundador da moderna Turquia, Mustafá Kemal Atatϋrk"
_ acrescentou.
"Agora, tenho a alegria de encontrar o senhor presidente do
Departamento para os Assuntos Religiosos, a quem expresso meus sentimentos de estima,
reconhecendo suas grandes responsabilidades, e estendo minha sudação a todos os líderes
religiosos da Turquia, especialmente ao Grão-mufti de Ancara e Istambul. Em sua pessoa,
senhor presidente _ sublinhou o Santo Padre _ saúdo todos os muçulmanos da Turquia,
com particular estima e afetuosa consideração."
"Seu país é muito caro aos
cristãos; muitas das primitivas comunidades da Igreja foram fundadas aqui, e aqui
alcançaram a maturidade, inspiradas pela pregação dos apóstolos, particularmente São
Paulo e São João. A tradição que nos chegou, afirma que Maria, a Mãe de Jesus, viveu
em Éfeso, na casa do apóstolo São João."
"Ademais _ continuou o papa _ esta
nobre terra viu um notável florescimento da civilização islâmica nos mais variados
campos, incluída a literatura e a arte, bem como as instituições. Existem muitíssimos
monumentos cristãos e muçulmanos que testemunham o glorioso passado da Turquia. Disso
vocês são justamente orgulhosos, preservando-os para a admiração de um número sempre
crescente de visitantes que aqui acorrem numerosos."
Depois de ter-se referido
a palavras de João XXIII, que foi núncio apostólico na Turquia, e de seu imediato
predecessor, João Paulo II, Bento XVI mencionou a declaração conciliar "Nostra Aetate",
do Concílio Vaticano II, para ressaltar que "como homens e mulheres de religião, somos
colocados diante do desafio da difusa aspiração à justiça, ao desenvolvimento, à solidariedade,
à liberdade, à segurança, à paz, e à defesa do ambiente e dos recursos da terra".
"Somos
chamados a trabalhar juntos _ acrescentou _ de modo a ajudar a sociedade a se abrir
ao transcendente, reconhecendo a Deus onipotente o lugar que Lhe cabe. O modo melhor
para seguir em frente é o de um diálogo autêntico, entre cristãos e muçulmanos, baseado
na verdade e inspirado pelo sincero desejo de nos conhecermos melhor, uns aos outros,
respeitando as diferenças e reconhecendo aquilo que temos em comum."
"A liberdade
de religião _ defendeu o papa _ garantida institucionalmente e efetivamente respeitada,
tanto para os indivíduos quanto para as comunidades, constitui para todos os fiéis,
a condição necessária para sua real contribuição à edificação da sociedade, em atitude
de autêntico serviço, especialmente em relação aos mais vulneráveis e aos pobres."
Bento
XVI concluiu, invocando a bênção de Deus para todos os cristãos e muçulmanos. (RL)