2006-11-29 19:30:22

AJUDAR O ENCONTRO ENTRE AS CULTURAS E TRABALHAR PELA PAZ E RECONCILIAÇÃO: PROPÓSITO DA VISITA DO PAPA À TURQUIA


Ancara, 28 nov (RV) - Minha viagem "não é uma viagem política, mas uma viagem pastoral", sob o signo da paz e do diálogo". Com essas palavras, teve início a V Peregrinação Apostólica Internacional de Bento XVI, que o levou à Turquia. O papa chegou ao aeroporto internacional de Ancara, depois de duas e meia de vôo, a bordo de um Airbus da Alitalia, tendo sido recepcionado pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan.

Na tradicional troca de telegramas com os chefes de Estado dos países sobrevoados durante o vôo Roma- Ancara, Bento XVI escreveu ao Presidente da Itália, Giorgio Napolitano, que estava para "partilhar" com os católicos locais "momentos de forte espiritualidade" e que queria "encorajar o diálogo ecumênico e inter-religioso". "Estou certo de que a sua visita _ replicou o Presidente Napolitano _ oferecerá uma contribuição de extraordinário valor à causa da irmandade e da paz entre os povos, reforçando as razões profundas de mútua compreensão e de diálogo entre o cristianismo e o mundo islâmico."

"Turquia, ponto de encontro e encruzilhada de religiões e culturas diversas": com essas palavras, escritas em inglês no Livro de Ouro do Mausoléu de Atatϋrk, Pai da Turquia moderna, Bento XVI dirigiu sua saudação ao país, após a chegada à capital, Ancara. "Nesta terra, ponto de união entre a Ásia e a Europa _ são ainda palavras do pontífice _ faço minhas, com satisfação, as palavras do fundador da república turca, para expressar o augúrio: "Paz na Pátria, paz no mundo!"

Uma mensagem que encontrou ouvidos atentos a escutá-la, como demonstrou a presença, no aeroporto, do Primeiro-ministro Erdogan, com o qual o Papa se deteve em colóquio durante cerca de vinte minutos. No encontro com Erdogan, na sala vip do aeroporto de Ancara, o papa estava acompanhado pelo cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, pelo núncio apostólico na Turquia e Turcomenistão, Dom Antonio Lucibello, e pela atriz turca, Serra Yilmaz, na qualidade de intérprete da língua italiana.

Tratou-se de um colóquio cordial _ iniciado com um aperto de mão e sorrisos _ que contribuiu para desfazer imediatamente, as dificuldades e dúvidas da vigília, como transparece nas declarações que, após o encontro, o Primeiro-ministro fez aos jornalistas.

O papa faz sua visita no momento justo, observou Erdogan, "num mundo no qual a cultura da violência se difunde e as diversidades são ressaltadas; é muito significativo que o papa venha a um país onde a maioria é muçulmana, a um país leigo e democrático como a Turquia. Com a sua visita se pode dar uma mensagem de paz e tolerância".

Erdogan acrescentou que o pontífice falou de modo positivo a propósito do Islã e do ingresso da Turquia na União Européia. De fato, o líder turco afirmou ter obtido o apoio de Bento XVI para a pretensão turca de fazer parte da UE.

"Pedi seu apoio para a entrada da Turquia na União Européia. Ele respondeu: "Queremos que a Turquia faça parte da União Européia" _ informou o premier turco. "Ouvir essas expressões _ observou ele _ para mim, significa que o nosso encontro teve um êxito positivo."

A imprensa turca também dirigiu, hoje, calorosas boas-vindas ao papa. O diário "Sabah" formula a saudação em italiano e na primeira página. Outros jornais exibem a foto do papa em primeira página, sorridente e de braços abertos. Todos trazem, nas páginas internas, artigos dedicados à visita e _ embora ressaltando que se trata, em primeiro lugar, de uma visita ao Patriarca Bartolomeu I para progredir no caminho ecumênico _ fazem votos de que se possam superar as incompreensões do passado.

A pequena comunidade turca, em seus diversos ritos, encontra-se recolhida em oração, pelo bom êxito desta visita apostólica, da qual espera encorajamento e confiança, para olhar com serenidade, o futuro daquele país.

Do aeroporto de Ancara, o Santo Padre transferiu-se para o Mausoléu de Atatϋrk, onde depositou uma coroa de flores próximo do túmulo do Mustafá Kemal Atatϋrk (Pai da Turquia).

A seguir, transferiu-se de automóvel para o Palácio Presidencial de Ancara, onde teve lugar a cerimônia oficial de boas-vindas, por parte do presidente da Turquia, Ahmet Necdet Sezer. A cerimônia se realizou sem discursos oficiais.

Do Palácio Presidencial de Ancara, Bento XVI transferiu-se, de automóvel, para a sede da Presidência para os Assuntos Religiosos, "Diyanet", de Ancara. Ali o aguardava o presidente desse departamento, Prof. Ali Bardakoğlu. Na ocasião, o papa proferiu i primeiro discurso desta sua visita apostólica: um discurso muito esperado, não somente na Turquia _ como ressaltou o presidente da Comissão para o Diálogo Inter-religioso da prestigiosa Universidade de Al Azhar, do Cairo.

"Sou grato pela oportunidade de visitar esta terra, tão rica de história e de cultura, para admirar as belezas naturais, para ver com os meus olhos a criatividade do povo turco, e para apreciar a antiga cultura de vocês, bem como a sua longa história, quer civil, quer religiosa" _ disse Bento XVI.

"À minha chegada à Turquia, fui gentilmente recebido pelo Premier Erdogan e pelo Presidente Sezer. Ao saudá-los, tive o prazer de expressar meu profundo respeito por todos os habitantes desta grande Nação, e de homenagear, em seu Mausoléu, o fundador da moderna Turquia, Mustafá Kemal Atatϋrk" _ acrescentou.

"Agora, tenho a alegria de encontrar o senhor presidente do Departamento para os Assuntos Religiosos, a quem expresso meus sentimentos de estima, reconhecendo suas grandes responsabilidades, e estendo minha sudação a todos os líderes religiosos da Turquia, especialmente ao Grão-mufti de Ancara e Istambul. Em sua pessoa, senhor presidente _ sublinhou o Santo Padre _ saúdo todos os muçulmanos da Turquia, com particular estima e afetuosa consideração."

"Seu país é muito caro aos cristãos; muitas das primitivas comunidades da Igreja foram fundadas aqui, e aqui alcançaram a maturidade, inspiradas pela pregação dos apóstolos, particularmente São Paulo e São João. A tradição que nos chegou, afirma que Maria, a Mãe de Jesus, viveu em Éfeso, na casa do apóstolo São João."

"Ademais _ continuou o papa _ esta nobre terra viu um notável florescimento da civilização islâmica nos mais variados campos, incluída a literatura e a arte, bem como as instituições. Existem muitíssimos monumentos cristãos e muçulmanos que testemunham o glorioso passado da Turquia. Disso vocês são justamente orgulhosos, preservando-os para a admiração de um número sempre crescente de visitantes que aqui acorrem numerosos."

Depois de ter-se referido a palavras de João XXIII, que foi núncio apostólico na Turquia, e de seu imediato predecessor, João Paulo II, Bento XVI mencionou a declaração conciliar "Nostra Aetate", do Concílio Vaticano II, para ressaltar que "como homens e mulheres de religião, somos colocados diante do desafio da difusa aspiração à justiça, ao desenvolvimento, à solidariedade, à liberdade, à segurança, à paz, e à defesa do ambiente e dos recursos da terra".

"Somos chamados a trabalhar juntos _ acrescentou _ de modo a ajudar a sociedade a se abrir ao transcendente, reconhecendo a Deus onipotente o lugar que Lhe cabe. O modo melhor para seguir em frente é o de um diálogo autêntico, entre cristãos e muçulmanos, baseado na verdade e inspirado pelo sincero desejo de nos conhecermos melhor, uns aos outros, respeitando as diferenças e reconhecendo aquilo que temos em comum."

"A liberdade de religião _ defendeu o papa _ garantida institucionalmente e efetivamente respeitada, tanto para os indivíduos quanto para as comunidades, constitui para todos os fiéis, a condição necessária para sua real contribuição à edificação da sociedade, em atitude de autêntico serviço, especialmente em relação aos mais vulneráveis e aos pobres."

Bento XVI concluiu, invocando a bênção de Deus para todos os cristãos e muçulmanos. (RL)







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