Ancara, 16 nov (RV) - Continuam na Turquia as manifestações de grupos nacionalistas
contrários à visita de Bento XVI, marcada para os dias 28 de novembro a 1º de dezembro.
Agora é a vez de uma foto, em circulação na Internet, que retrata o pontífice ao lado
do patriarca Bartolomeu I, com a legenda: "a aliança entre dois cristãos para agredir
o Islã".
A foto foi também publicada na primeira página do jornal de matriz
nacionalista Tercuman, com a manchete "Eis a ousadia do patriarca". O artigo prossegue
afirmando que o patriarca permitiu que o Hotel Hilton "se transformasse numa igreja
para os jornalistas que vão cobrir a viagem". O patriarca ortodoxo é acusado de "sede
de poder", já que "pela segunda vez, passa por cima do Estado turco, ditando regras
sobre o convite ao papa e o programa da visita". Realmente, foi o próprio Bartolomeu,
dois anos atrás, quem convidou pessoalmente o papa para o dia de Santo André, comemorado
em 30 de novembro. Na época, o Estado turco não oficializou o convite, fazendo-o somente
este ano.
O jornal acusa o patriarca de querer criar 'um Estado dentro do Estado',
e o que é mais grave, de ter concedido a exclusividade das imagens televisivas ao
patriarcado (e conseqüentemente, aos canais gregos). Além disso, todas as linhas telefônicas
e de Internet vão depender do patriarcado, e não do Estado turco. Com esta medida,
a BYEGM (Direção nacional para a Informação, imprensa, rádio e TV turcas) fica excluída
da cobertura, sem algum poder de opinião ou decisão. Ou seja, a mídia turca terá que
ser credenciada e pedir autorização ao patriarcado para usar os meios à disposição
da sala de imprensa, instalada também no Hotel Hilton.
O que se diz em Roma,
ao contrário, é que foi a TV turca que decidiu não transmitir ao vivo os eventos da
visita, abrindo espaço para os outros canais. A mesma coisa teria acontecido com a
sala de imprensa, em Istambul: as autoridades turcas não se organizaram para sua instalação,
e o patriarcado teve que tomar a iniciativa.
Depois das polêmicas e interpretações
do discurso de Bento XVI em Regensburgo, o clima estava aparentemente mais calmo.
Muitos jornais moderados tendem a tranqüilizar a população, explicando que a segurança
do papa será garantida com a mobilização da polícia e das forças da ordem. (CM)