BISPO ANGLICANO ADMITE EUTANÁSIA PASSIVA EM CERTOS CASOS
Londres, 13 nov (RV) - A Igreja Anglicana, pela primeira vez, considera a possibilidade
da eutanásia passiva, no caso de um recém-nascido ser portador de deficiências gravíssimas
e irremediáveis. Os anglicanos consideram que "para um cristão, existem situações
em que a compaixão deve prevalecer sobre o princípio segundo o qual a vida deva ser
preservada a qualquer custo".
A questão veio à tona há uma semana, quando o
"Royal College of Obstetricians and Gynaecologist" propôs a eutanásia para as crianças
que nascem com "devastante invalidez", e por causa disto fiquem condenadas a uma vida
vegetativa e freqüentemente de grande sofrimento.
Para os ginecologistas e
obstetras, o problema não é somente de natureza moral: os tratamentos dos casos mais
ou menos desesperadores, levam a um grande desperdício de preciosos recursos que seriam
muito mais úteis se fossem utilizados no tratamento de crianças com doenças curáveis.
Para
surpresa de muitos, o importante bispo anglicano Tom Butler, à frente da diocese de
Southwark, fez suas as preocupações e recomendações do "Royal College". Ele passou
a ser acusado de ter uma visão "nazistóide" da vida e de querer suprimir a vida dos
portadores de deficiências.
Em uma carta dirigida a uma comissão independente
de bioética que deve pronunciar-se sobre esta delicada e controversa matéria, além
de formular novas diretrizes para os médicos, o alto prelado afirma que "em algumas
circunstâncias pode ser justo interromper ou retirar um cuidado, um tratamento, mesmo
sabendo que é possível, provável e mesmo certo, que este ato provocará a morte".
O
bispo fez estas considerações não a título pessoal, mas em nome da Igreja anglicana.
Ele não precisa, entretanto, quais sejam as circunstâncias excepcionais na qual a
eutanásia poderia ser praticada. Por outro lado, ele ressalta que a decisão deve ser
tomada "com ressalvas", somente quando todas as outras possibilidades foram exploradas
e descartadas.
O tema ressurgiu na Grã-Bretanha devido a uma batalha judicial
para manter viva Charlotte Wyatt, hoje com três anos. Ela nasceu prematura de três
meses, pesando apenas cinqüenta gramas. Apesar do parecer negativo dos médicos, os
pais a mantiveram viva. Apesar dos graves danos no cérebro e nos pulmões, Charlotte
sobrevive, em estado vegetativo e alimentada artificialmente.
Neste meio tempo,
os pais de Charlotte se separaram, deixando a filha no hospital. Busca-se, agora.
uma família que a adote.
Na Holanda, país europeu onde mais é praticada a eutanásia,
as crianças que nascem com 25 semanas de antecedência são deixadas para morrer. (JK)