NENHUM CONTRASTE ENTRE FÉ E CIÊNCIA: BENTO XVI RECEBE MEMBROS DA PONTIFÍCIA ACADEMIA
DAS CIÊNCIAS
Cidade do Vaticano, 06 nov (RV) - Não há nenhum contraste entre fé e ciência,
mas o progresso técnico-científico não deve levar o homem a pensar que não precisa
mais de Deus a ponto de privar o ser humano da sua própria humanidade e dignidade.
Foi o que, em síntese, disse o papa, recebendo esta manhã, na Sala Clementina, no
Vaticano, os participantes da Assembléia Geral da Pontifícia Academia das Ciências,
que se realizou no Vaticano com o tema "A previsibilidade na ciência, cuidados e limites".
A
assembléia geral afrontou questões complexas: das previsões meteorológicas às mudanças
climáticas, da previsão dos terremotos à queda dos corpos celestes e até o problema
da difusão de pandemias _ como a gripe aviária ou o vírus SARS (Síndrome Respiratória
Aguda Grave).
O papa esclareceu que não há nenhum conflito entre ciência e
fé se se olha para as grandes conquistas científicas em favor da humanidade. Mas ressaltou
que o "progresso da ciência e especialmente a sua capacidade de dominar a natureza
com a técnica, foi por vezes ligado a um correspondente regresso da filosofia, da
religião e até mesmo da fé cristã".
De fato, alguns viram no progresso da ciência
moderna e da técnica uma das principais causas da secularização e do materialismo:
por que _ se perguntam esses _ "invocarmos a autoridade de Deus" sobre a natureza
"quando a ciência se mostrou capaz de fazer a mesma coisa?"
"O homem _ acrescentou
o pontífice _ não pode colocar na ciência e na técnica uma confiança tão radical e
incondicional a ponto de acreditar que o progresso científico e tecnológico possa
explicar todas as coisas e realizar completamente as suas necessidades espirituais
e existenciais. A ciência não pode dar uma resposta exaustiva às perguntas fundamentais
da vida humana, tais como sobre o sentido da vida e da morte, sobre os valores últimos
e sobre a natureza do próprio progresso."
"Os métodos científicos de pesquisa
_ disse o papa citando o Concílio Vaticano II _ podem ser erroneamente elevados a
norma suprema de busca da verdade" criando "o perigo de que o homem, confiando demasiadamente
nas descobertas de hoje, pense bastar a si mesmo e não busque mais os valores superiores".
Em
seguida, Bento XVI ressaltou a questão das responsabilidades éticas da ciência: "as
suas conclusões _ frisou ele _ devem ser guiadas no respeito pela verdade e pela honesta
consciência quer dos cuidados, quer dos limites inevitáveis do método científico".
Certamente
_ prosseguiu o Santo Padre _, "isso significa evitar previsões inutilmente alarmantes
quando estas não têm o suporte de dados suficientes (...), mas significa também evitar
o contrário, isto é, o silêncio, provocado melo medo, diante de verdadeiros problemas".
Em
seguida, o pontífice referiu-se à influência dos cientistas "na formação da opinião
pública", um papel que não deve ser enfraquecido "pela pressa indevida ou pela busca
de publicidade superficial".
Citando João Paulo II, Bento XVI observou que
"os cientistas justamente porque sabem mais, são chamados a servir mais", usando seus
conhecimentos "sabiamente, para o bem de toda a família humana".
Depois, o
pontífice ressaltou as expectativas atuais da humanidade em relação às "ameaças constantes
ao ambiente que atingem populações inteiras", e a "necessidade urgente de descobrir
recursos energéticos alternativos seguros, disponíveis a todos".
"Os cientistas
_ completou o papa _ encontrarão o apoio da Igreja nesta matéria." "A ciência, por
sua vez _ advertiu ele _ jamais seja utilizada contra a vida humana e a sua dignidade";
deve, ao invés, "colocar-se sempre a seu serviço". (RL)