Cuiabá, 31 out (RV) - O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) entrará, até
a próxima segunda-feira, 06 de novembro, com um recurso judicial no Tribunal Regional
Federal da 1ª Região. O Conselho espera que a sentença emitida pelo júri popular do
Ministério Público sobre o primeiro julgamento da morte do missionário Vicente Cañas,
há quase 20 anos, seja reavaliada.
No último domingo, dia 29, o júri decidiu
que houve assassinato, no entanto, argumentou que as provas ainda não são suficientes
para condenar o réu Ronaldo Antônio Osmar, delegado de Juína, que terminou sendo inocentado.
A
sentença teve três quesitos. Por quatro votos a três, os jurados decidiram que os
ferimentos identificados no corpo de Vicente Cañas foram produzidos por terceiros,
fazendo uso de pedaço de pau e arma branca. Por cinco votos a dois, decidiram que
estas lesões causaram a morte do missionário. E por seis votos a um, inocentaram o
réu.
Do setor jurídico do CIMI, o advogado Paulo Machado informou que, de qualquer
forma, e apesar do longo tempo de espera, esta decisão teve seu lado positivo. No
decorrer do caso, os fatos e provas apresentadas em defesa do missionário Vicente
Cañas, que davam conta de que tinha acontecido um assassinato também eram consideradas
insuficientes. Um dos pontos levados pela acusação é que o laudo da perícia afirma
que a causa da morte era indeterminada.
Entrando com o novo recurso no Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, o advogado acredita que o processo poderá tomar outro
rumo, já que será julgado por um novo júri. "Estamos muito confiantes, acreditamos
que este júri vai rever com melhor desempenho, vai analisar de outra forma", complementa.
A
morosidade na Justiça tem sido o maior empecilho para a resolução do caso. Passados
19 anos e alguns meses, dos seis acusados do assassinato do religioso, dois já morreram,
e outros dois tiveram as acusações prescritas. A Justiça está avaliando então o envolvimento
de dois acusados: José Vicente da Silva e Ronaldo Antônio Osmar.
Comprometido
e envolvido com a luta do povo indígena Enawenê-Nawê, do Estado do Mato Grosso, o
missionário jesuíta, irmão Vicente Cañas enfrentava vários conflitos e ameaças por
parte de fazendeiros da região. Em 1987, foi morto a facadas e abandonado em frente
à sua casa. Seu corpo só foi encontrado 40 dias depois por missionários do CIMI. Segundo
testemunharam os indígenas, em sua casa, eram visíveis os sinais de luta. (CE)