BENTO XVI INAUGURA ANO ACADÊMICO DA UNIVERSIDADE LATERANENSE
Roma, 21 out (RV) - Num mundo em "crise de cultura e de identidade", o ensinamento
da verdade que vem de Deus, através da palavra de Cristo, é uma raiz de liberdade
para todo ser humano. Foi o ensinamento central que o Santo Padre deixou às autoridades
acadêmicas e aos estudantes da Pontifícia Universidade Lateranense, visitada esta
manhã pelo Papa por ocasião do início do novo ano acadêmico. Bento XVI, acolhido com
repetidas manifestações de afeto, abençoou as dependências reestruturadas da universidade,
entre as quais a biblioteca e a nova sala magna, que a partir de hoje tem o seu nome.
Logo
na chegada o Santo Padre fez uma saudação a todos os presentes. "Estou feliz de estar
aqui na 'minha' Universidade, porque esta é a Universidade do Bispo de Roma. Sei que
aqui se busca a verdade e assim, em última instância, se busca a Cristo, porque Ele
é a Verdade em pessoa. Este caminho para a verdade _ buscar conhecer melhor a verdade
em todas as suas expressões _ é de fato, um serviço fundamentalmente eclesial."
E
o Santo Padre continuou: "Um grande teólogo belga escreveu um livro: 'O amor pelas
letras e o sonho de Deus', e mostrou que na tradição monástica as duas coisas vão
juntas, porque Deus é Palavra e nos fala por meio da Escritura. Portanto _ concluiu
o Papa _ é de se supor que comecemos a ler, a estudar, a aprofundar o conhecimento
das letras e assim aprofundemos o conhecimento da Palavra. Neste sentido, a abertura
da Biblioteca é um acontecimento tanto universitário, acadêmico, como também espiritual
e teológico, porque lendo. Caminhando para a verdade, estudando as palavras para encontrar
a Palavra, estamos a serviço do Senhor. Um serviço do Evangelho para o mundo, porque
o mundo tem necessidade da verdade. Sem a verdade não existe liberdade, não estamos
completamente na idéia originária do Criador."
Por fim, Bento XVI fez seu agradecimento
pessoal: "Obrigado pelo vosso trabalho! O Senhor vos abençoe durante todo este ano
acadêmico."
A seguir, acompanhado pelo seu Vigário para a Diocese de Roma,
cardeal Camillo Ruini, também grão-chanceler da Universidade pontifícia, e pelo Reitor,
dom Salvatore Fisichella, o Papa deu início ao ato acadêmico propriamente dito, descerrando
uma lápide comemorativa da visita de hoje e, sucessivamente, abençoou a reestruturada
biblioteca dedicada ao Bem-aventurado Pio IX _ nome de seu fundador.
O Papa
entrou, depois, na nova Sala magna, momento celebrado com um anúncio particular feito
pelo Reitor da Universidade, dom Fisichella: "O Senado acadêmico deliberou por unanimidade
que esta Sala magna seja dedicada a partir de hoje à sua pessoa. Obrigado por ter
aceitado que isso se realizasse."
Dois anos atrás, a antiga Sala magna fora
fechada para reformas imediatamente após ter acolhido em suas dependências um debate
que se tornou célebre. Era o dia 13 de dezembro de 2004, quando o então cardeal Joseph
Ratzinger e o então Presidente do Senado italiano, Marcello Pera, conduziram uma reflexão
e debate sobre a Europa, relativismo e raízes cristãs. Quase no eco das palavras expressas
na ocasião, Bento XVI retomou uma citação pronunciada então e que se tornou central
para muitos cristãos de hoje: 'veluti si Deus daretur', "viver como se Deus existisse".
"Deus
é a verdade última à qual toda razão naturalmente tende, impelida pelo desejo de realizar
plenamente o percurso a ela confiado. Deus não é uma palavra vazia nem uma hipótese
abstrata; pelo contrário, é o fundamento no qual construir a própria vida. Viver no
mundo 'veluti si Deus daretur' comporta a assunção de uma responsabilidade que sabe
empenhar-se em tomar todos os percursos possíveis para aproximar-se o mais possível
dele, que é o fim para o qual tudo tende" _ disse o Santo Padre em sua conferência.
Portanto,
um dos ensinamentos fundamentais de Bento XVI ressoou mais uma vez na "sua" Universidade.
O papa pediu ao corpo de professores _ aproximadamente uns 200 _ a partir de suas
atribuições teológicas, filosóficas e jurídicas, que seja promotor da verdade, conhecida
"em todas as suas expressões" e a defenda "de interpretações redutivas e distorcidas"
"Colocar
no centro o tema da verdade não é um ato meramente especulativo, restrito a um pequeno
círculo de pensadores; pelo contrário _ afirmou Bento XVI _, é uma questão vital para
dar profunda identidade à vida pessoal e suscitar a responsabilidade nas relações
sociais. De fato, se se deixa suplantar a pergunta sobre a verdade e a concreta possibilidade
a toda pessoa de poder alcançá-la, a vida acaba reduzida a um leque de hipóteses,
desprovidas de referências certas."
O Papa havia iniciado o seu discurso examinando
a relação entre a "crise de cultura e de identidade" que caracteriza os nossos tempos
e a pergunta fundamental que as novas gerações continuam fazendo sobre o "sentido
da própria existência".
"Esta expectativa não pode ser desiludida. O contexto
contemporâneo parece dar o primado a uma inteligência artificial que se torna cada
vez mais submissa à técnica experimental e esquece desse modo que toda ciência deve
sempre salvaguardar o homem e promover a sua inclinação ao bem autêntico. Superestimar
o 'fazer', deixando de lado o 'ser', não ajuda a recompor o equilíbrio fundamental
de que todos precisam para dar à própria existência um sólido fundamento e uma válida
finalidade."
Ao término da visita, Bento XVI saudou longamente os docentes
e os estudantes da Universidade Lateranense, após a abertura oficial do ano acadêmico
2006-2007, no ano de nº 234 desde sua fundação. (RL)