BISPO FRANCÊS PARTE CIVIL EM PROCESSO CONTRA SACERDOTE ACUSADO DE ABUSOS
Meaux, 20 out (RV) - Pela primeira vez, na França, um bispo se constitui como
parte civil num processo contra um pároco de sua diocese, acusado de abusar de menores.
O
gesto, silencioso e discreto do bispo de Meaux, dom Albert-Marie de Monleon, na região
parisiense de Ile-de-France, pré-anuncia _ segundo o semanário L'Express _ a "negação
daquele comportamento cúmplice que hoje não é mais sustentável".
Nos próximos
dias 24 e 25, o bispo vai ser representado por um advogado, na justiça, no processo
contra o sacerdote de sua diocese acusado de abusos no período entre 1995 e 1998.
Na época, dom Monleon não era ainda bispo, e não estava a par dos episódios
de abusos _ informa ainda o L'Express. "Para dom Monleon, a Igreja deve estar ao lado
de quem sofre" _ declarou o advogado à revista. A reportagem sugere que o bispo conta
com o apoio de sua hierarquia, o que demonstra que a Igreja católica está decidida
a enfrentar a infâmia da pedofilia em sua estrutura.
Vale recordar que a própria
Conferência Episcopal Francesa publicou em 2002 um panfleto esclarecendo que o segredo
da confissão 'não deve funcionar como um estado de omissão, ou uma escapatória das
responsabilidades jurídicas e morais'. Naquele documento, os bispos frisavam que nos
episódios de pedofilia, o silêncio "desempenha um papel particularmente perverso".
L' Express conclui a reportagem com alguns dados: desde 2002, mais de mil
padres foram condenados nos EUA, uma centena apenas na diocese de Dublin, na Irlanda,
sem contar os casos verificados na Bélgica e na Áustria. Em 2001, a Congregação para
a Doutrina da Fé anunciou um endurecimento nas sanções para casos de pedofilia, e
o Vaticano decidiu suspender o ministério de alguns padres na Irlanda e nos EUA. (CM)