REPRESENTANTE DA SANTA SÉ NA ONU CONVIDA OS ESTADOS A RETOMAREM AS NEGOCIAÇÕES SOBRE
O COMÉRCIO INTERNACIONAL
Nova York, 18 out (RV) - A Santa Sé denuncia o impasse nas negociações internacionais
sobre o comércio, com graves conseqüências para os países mais pobres e para a paz
e a estabilidade mundial. Foi o que disse ontem, terça-feira, o observador permanente
da Santa Sé na Onu, arcebispo Celestino Migliore, na sede do organismo, em Nova York,
durante os trabalhos da Assembléia Geral das Nações Unidas.
Dom Migliore ressaltou
o fato de que "enquanto nos últimos cinco anos foram tomadas diversas iniciativas
e empreendidas operações militares de vastas proporções, não foram feitos progressos
substanciais na reforma do comércio internacional", iniciada nas negociações de Doha,
no Catar, em 2001, causando graves conseqüências nos países em desenvolvimento.
Segundo
o prelado, "os interesses de alguns setores dos maiores países desenvolvidos prevaleceram
sobre o bem comum, aumentando a já preocupante distância que separa países ricos e
países pobres. Desse modo, existe hoje pouca esperança de se alcançar os objetivos
de desenvolvimento do milênio até 2015", que compreendem, entre outras coisas, a redução
pela metade dos pobres no mundo.
"A atual situação mundial _ afirmou o arcebispo
_ apresenta desigualdades que exigem uma reflexão urgente." O observador permanente
da Santa Sé na ONU criticou o apoio dado pelos países ricos "ao próprio setor agrícola"
cujo montante (280 bilhões de dólares por ano) "é dez vezes maior do que o total de
ajudas destinadas anualmente à África e é equivalente à renda total da África subsaariana".
Trata-se
de uma política que favorece a exportação dos produtos dos países ricos e acaba "enfraquecendo
a agricultura" dos países pobres. "A liberdade nos intercâmbios não é igual se não
é subordinada às exigências da justiça social" _ acrescentou dom Migliore, citando
Paulo VI.
A Santa Sé faz votos de que os Estados retomem as negociações "prontos
a fazer os sacrifícios necessários para a instauração de relações comerciais mais
justas" para dar "uma contribuição substancial à causa da paz e da estabilidade no
mundo".
O alcance de um acordo é urgente: "é um imperativo moral _ concluiu
dom Migliore _ que não pode ser adiado", porque do contrário "poderiam verificar-se
graves conseqüências: movimentos incontrolados de populações, danos ambientais irreparáveis
e, por fim, a difusão do terrorismo e dos conflitos armados". (RL)