CATEQUESE DE BENTO XVI: TRAIÇÃO DE JUDAS DEMONSTRA QUE DEUS RESPEITA A LIBERDADE HUMANA
Cidade do Vaticano, 18 out (RV) - "Quando pensamos no papel de Judas na história
de Jesus, devemos pensar na condução superior dos eventos por parte de Deus." Mistério
divino e ação histórica se entrelaçam na pessoa de Judas Iscariotes. Bento XVI dedicou
a audiência geral desta quarta-fera na Praça São Pedro ao apóstolo que traiu o Cristo:
um fato _ disse o Papa _ que exalta a grandeza da misericórdia de Deus e, ao mesmo
tempo, o seu respeito pela liberdade do homem.
Uma figura evangélica, um apóstolo,
do qual se recorda o ato de infâmia absoluta que fez dele um símbolo negativo, um
epíteto proverbial: Judas, o traidor. Ao mesmo tempo, Judas, com seu "gesto injustificável",
se insere no "misterioso projeto salvífico de Deus".
Bento XVI traçou, em sua
catequese, os dois extremos de uma história que toca as profundezas da fraqueza humana
e, ao mesmo tempo, os pontos altos da história da Salvação: "Então Judas, o traidor,
ao ver que Jesus fora condenado, sentiu remorso, e foi devolver as trinta moedas de
prata aos chefes dos sacerdotes e anciãos, dizendo: 'Pequei, entregando à morte sangue
inocente' (Mt 27, 3-4)."
Durante a catequese, o papa se deteve em duas perguntas
inevitáveis que brotam da leitura dos textos que narram a traição de Judas, definido
pelos evangelhos como "um dos doze". Por que Jesus depositou confiança em Judas? E,
sobretudo, por que Judas escolheu traí-lo?
No primeiro caso, observou o pontífice,
"o mistério da escolha permanece" e "aumenta ainda mais o mistério sobre a sua sorte
eterna, sabendo que Judas se arrependeu e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos
sacerdotes e aos anciãos, dizendo: ' Pequei, entregando à morte sangue inocente'.
Embora ele tenha se distanciado para enforcar-se, não cabe a nós julgar o seu gesto,
ocupando o lugar de Deus, infinitamente misericordioso e justo".
Sobre o motivo
pelo qual Judas escolheu trair Jesus, alguns exegetas afirmam que foi pela avidez
de dinheiro; ou mesmo, segundo outros, por uma "desilusão messiânica": Jesus não se
revelou o libertador político de Israel, que tantos esperavam.
Todavia _ recordou
o Papa _, os Evangelhos vão em outra direção: Judas cedeu a uma tentação do Maligno,
uma evidência que "vai além das motivações históricas" para investir a esfera da "responsabilidade
pessoal".
Também Pedro renegou Cristo, mas soube aceitar o perdão. Em Judas
_ observou o pontífice _, o arrependimento "degenera em desespero" e no final, num
ato de "autodestruição". "É para nós um convite a lembrar sempre que jamais devemos
perder a esperança na divina misericórdia. (...) Jesus respeita a nossa liberdade,
Ele espera a nossa disponibilidade ao arrependimento e à conversão. É rico de misericórdia
e de perdão."
Se "as possibilidades de perversão do coração humano realmente
são muitas", o "único modo de se desviar dela _ explicou ainda o Santo Padre _ consiste
em não cultivar uma visão individualista, autônoma das coisas, mas, ao contrário,
em colocar-se sempre e novamente do lado de Jesus, assumindo o seu ponto de vista".
Além
disso, o episódio de Judas tem um epílogo ulterior, representado pelo apóstolo Matias,
eleito após a Páscoa para assumir o lugar de Judas. Dele _ ressaltou o Papa _ se recorda
a grande fidelidade de testemunha que seguiu Cristo ao longo de toda a sua vida terrena.
O
exemplo negativo de Judas e o positivo de Matias se abrem a outro ensinamento: "Embora
na Igreja não faltem cristãos indignos e traidores, cabe a cada um de nós contrabalançar
o mal feito por esses com o nosso límpido testemunho de Jesus Cristo, nosso Senhor
e Salvador."
Ao término da audiência, Bento XVI recordou o evangelista São
Lucas, cuja festa a Igreja celebra neste dia, e saudou, em particular, os religiosos
de três famílias religiosas, empenhados nestes dias em seus respectivos capítulos
gerais: os Passionistas, os Irmãos de São João de Deus, e as Missionárias de Tutzing.
Por fim, o Papa dirigiu um pensamento de solidariedade às vítimas do acidente ocorrido
ontem no metrô de Roma.
Por fim, o Santo Padre saudou os fiéis e peregrinos
de língua portuguesa: "Saúdo o grupo de visitantes do Brasil e demais peregrinos
de língua portuguesa, a quem agradeço a presença e quanto a mesma significa de confissão
de fé e amor a Jesus Cristo vivo na sua Igreja. Que Deus vos guarde e abençoe!" (RL)