Vontade politica, social e económica para aliviar o drama dos refugiados.
As numerosas vidas que se estão a perder por causa da «desesperada busca de uma existência
mais segura e decente» constituem uma chamada de atenção ao fracasso da comunidade
internacional em «manter os seus objectivos de solidariedade e protecção», alertou
o arcebispo Silvano Maria Tomasi, observador permanente da Santa Sé na Sede das Nações
Unidas de Genebra. O prelado interveio nestes termos em 4 de Outubro passado, durante
a 57ª sessão do Comité Executivo do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados), celebrada na cidade suíça. Para o prelado, uma «consciência mais ampla»
da responsabilidade de protecção «deveria estimular um esforço acrescentado para aliviar
a gravidade da situação dos solicitantes de asilo» que subsistem dispersos em diferentes
regiões do planeta. Citou o exemplo dos «recentes deslocamentos de iraquianos pelo
Oriente Médio». «Eles são particularmente vulneráveis --advertiu--. Os conflitos
impedem-nos de regressar e no país de residência temporária o seu status não é adequadamente
reconhecido; é quase o de apátridas.» Afirmou também que já é «óbvio» que se precisam
de mais recursos para ir ao encontro de todas as necessidades de protecção e centrar-se
não só nas populações que estão num estado de deriva, mas também nos «5,7 milhões
dos 9 milhões de refugiados no mundo em situações prolongadas» como tais, os mais
de 4 milhões de refugiados palestinianos e «os aproximadamente 24 milhões de desalojados
internos». «Se a solidariedade internacional aumentasse a seu orçamento de ajuda ao
refugiado uma pequena proporção do aumento em gastos de armamento --de 1996 a 2005,
o gasto militar aumentou 34%- dar-se-ia um grande passo rumo a uma resposta adequada
à dor da humanidade desarreigada», propôs o prelado. Mas o aspecto financeiro não
basta. «É necessária uma vontade política para que a responsabilidade de protecção
seja suficientemente ampla como para abarcar a prevenção das tragédias dos desabrigados
forçosos», sublinhou o arcebispo Tomasi, indicando que «o caminho do diálogo e do
respeito dos direitos humanos deve substituir o do conflito». Neste contexto, apontou
que «os campos de refugiados, oficiais ou não, não deverão permanecer mais no mapa
mundial». A tarefa actual «é a dissolução destes campos através das clássicas estratégias
de repatriação voluntária, integração local e reassentamento», mas o arcebispo Tomasi
observou, em nome da delegação da Santa Sé, que, «devido a algumas situações complexas
do presente, a opção do reassentamento deverá ser revisada». «Um grande número de
países pode dar as boas-vindas a muitos refugiados ansiosos por começar uma nova vida
de liberdade e autonomia», assinalou. Na preparação dos refugiados para o reassentamento,
as organizações não-governamentais ou confessionais podem colaborar e dar ajuda competente,
considera o prelado. Nesta tarefa, na sua opinião, «de fato, como expressão da sociedade
civil, as ONGs podem ser bons companheiros pela sua proximidade da realidade no terreno,
a sua experiência e a sua capacidade de criar uma opinião pública favorável para com
os recém-chegados». Também «a sociedade em geral deverá renovar o seu sentido de responsabilidade
na protecção», e isso, em primeiro lugar, através da educação, que «pode transmitir
os valores da solidariedade e da hospitalidade», salientou o arcebispo Tomasi. Em
conjunto, sindicatos, empregadores, escolas e comunidades de crentes podem preparar-se
para «um encontro cada vez mais frequente com pessoas necessitadas e dar-lhes as boas-vindas
para construir um futuro comum», convidou. «Mantendo a pessoa humana e sua dignidade
no centro de atenção, a responsabilidade de protecção continuará a encontrar a capacidade
criativa de responder de forma humana e justa aos novos acontecimentos», concluiu.