2006-10-16 10:53:41

BENTO XVI CANONIZA QUATRO NOVOS SANTOS


Cidade do Vaticano, 15 out (RV) -A Igreja tem quatro novos santos. Bento XVI os proclamou nesta manhã de domingo durante uma solene celebração eucarística, na Praça São Pedro, na presença de aproximadamente 40 mil fiéis e peregrinos.

Os novos santos _ o bispo mexicano Rafael Guízar y Valencia, o sacerdote napolitano Filippo Smaldone, a religiosa italiana Rosa Venerini e outra francesa, Théodore Guérin _ abandonaram tudo para seguir Jesus _ disse o Papa _, amando-o nos mais pobres e sofredores, em meio a dificuldades e perseguições, totalmente confiados à Divina Providência.

No início de sua homilia, o papa falou de um jovem que não se fez santo porque simplesmente se limitava a observar os mandamentos. Partindo do evangelho deste 28º domingo do tempo comum (ano B), explicou o 'não' do jovem rico, a quem Jesus havia convidado a vender todas as suas riquezas e segui-lo. Ter rejeitado o convite lhe trouxe uma grande tristeza _ recordou o papa.

"Se o homem deposita a sua segurança nas riquezas deste mundo não alcança o sentido pleno da vida e a verdadeira alegria; se, ao invés, confiando na palavra de Deus, renuncia a si mesmo e a seus bens pelo Reino dos céus, aparentemente perde muito, mas na realidade, ganha tudo. Santo é justamente aquele homem, aquela mulher, que, respondendo com alegria e generosidade ao chamado de Cristo, deixa tudo para segui-lo."

"Os novos santos _ afirmou o Papa _ percorreram esse exigente, mas compensador itinerário evangélico, e receberam 'o cêntuplo' já na vida terrena junto com provas e perseguições, e depois a vida eterna. Jesus, portanto _ explicou o pontífice _, pode verdadeiramente garantir uma existência feliz e a vida eterna, mas por um caminho diferente do que imaginava o jovem rico, ou seja, não através de uma boa obra, de um cumprimento legal, mas na escolha do Reino de Deus comparado à 'pérola preciosa' pela qual vale a pena vender tudo o que se possui".

"O jovem rico não consegue dar esse passo. Embora tenha sido acolhido pelo olhar amoroso de Jesus, o seu coração não conseguiu se desapegar dos muitos bens que possuía. Eis então o ensinamento para os discípulos: 'Quão dificilmente aqueles que têm riquezas entrarão no reino de Deus!' As riquezas terrenas ocupam e preocupam a mente e o coração. Jesus não diz que elas são ruins, mas distanciam se não forem 'investidas' pelo Reino dos céus, isto é, usadas para ajudar quem se encontra na pobreza."

"Compreender isto _ acrescentou Bento XVI _ é fruto da sabedoria do coração" e "não pode ser reduzida unicamente à dimensão intelectual", mas "é um dom que vem do Alto… e se obtém com a oração". Essa sabedoria "é mais preciosa do que a prata e o ouro, aliás, mais do que a beleza, a saúde e a própria luz".

Por isso _ ressaltou o Santo Padre _, "para 'entrar na vida' é necessário observar os mandamentos… mas isso não é suficiente!", porque "a salvação não vem da lei, mas da graça" de Cristo. Cristo, porém, quando se dirige a uma pessoa, coloca-lhe uma condição exigente: 'vem e segue-me'.

"Os santos _ prosseguiu _ tiveram a humildade e a coragem de responder 'sim', e renunciaram a tudo para ser seus amigos, como o bispo mexicano Rafael Guízar y Valencia. É o primeiro bispo da América Latina a ser canonizado. Atuou no México no início do século XX, quando recrudescia a perseguição contra os católicos. Sofreu o exílio, correu o risco de ser assassinado, mas jamais deixou de anunciar o Evangelho. Era chamado o "bispo dos pobres".

"Imitando Cristo pobre, desprendeu-se de seus bens e nunca aceitou presentes dos poderosos, ou os passava adiante em seguida. Por isso recebeu 'cem vezes mais' e pôde assim ajudar os pobres, mesmo em meio a 'perseguições' sem trégua" _ ressaltou o Santo Padre.

O sacerdote napolitano Filippo Smaldone, que viveu entre os séculos XIX e XX, fundador da Congregação das Irmãs Salesianas dos Sagrados Corações, tinha "grande coração _ disse o Papa _ alimentado da oração constante e da adoração eucarística" e trabalhou, em particular, ajudando os surdos-mudos".

"São Filippo Smaldone via a imagem de Jesus refletida nos surdos-mudos, e costumava repetir que, do mesmo modo como se prostra diante do Santíssimo Sacramento, se deve ajoelhar diante de um surdo-mudo. Acolhamos de seu exemplo o convite a considerar sempre indissolúveis o amor pela Eucaristia e o amor pelo próximo. Aliás, a verdadeira capacidade de amar os irmãos pode nos vir unicamente do encontro com o Senhor no sacramento da Eucaristia."

Depois, o Santo Padre falou da religiosa italiana Rosa Venerini, que viveu nos séculos XVII e XVIII, fundadora da Congregação das Mestras Pias Venerini: atuou contra os preconceitos de seu tempo em favor da educação das jovens mais pobres, abrindo, dentre outros, a primeira escola pública feminina na Itália. Viveu todo sofrimento em união com a Paixão de Jesus.

Santa Rosa Venerini "gostava de dizer: 'Eu estou tão ligada à vontade divina, que não me importa nem morte, nem vida: quero viver o quanto Ele quiser, e quero servi-lo como é de seu agrado, e nada mais'".

Por fim, o Pontífice recordou a religiosa francesa Téodore Guérin, que viveu no século XIX, fundadora da Congregação das Religiosas da Providência de Saint-Mary-of-the-Woods. Com mais cinco co-irmãs partiu para a América em 1840, com apenas 25 anos de idade, para fundar escolas católicas e orfanatos. Após uma longa viagem por terra e por mar, o grupo das irmãs chegou ao estado norte-americano da Indiana.

"Lá, elas fundaram uma simples capela _ disse o Papa _, simples cabana de madeira no coração da floresta. Ajoelharam-se diante do Santíssimo Sacramento e renderam graças, pedindo que Deus guiasse a nova fundação. Com grande confiança na Divina Providência, Madre Théodore superou muitas dificuldades e perseverou no trabalho que o Senhor lhe havia confiado."

O testemunho exemplar desses novos santos _ concluiu Bento XVI _ "ilumine e encoraje especialmente os jovens, a fim de que se deixem conquistar por Cristo, por seu olhar cheio de amor", para que estejam "prontos a deixar tudo pelo Reino de Deus; dispostos a abraçar a lógica do dom e do serviço, a única lógica que salva o mundo".

No Angelus, ao término da Missa, o papa saudou em várias línguas, os diversos grupos de fiéis e peregrinos provenientes, em particular, dos países dos novos santos. Bento XVI pediu a intercessão da Virgem Maria "para que todo fiel responda com alegria e generoso empenho ao chamado que Deus lhe faz para ser sinal da sua santidade".

Terminada a recitação do Ângelus, o papa concedeu a todos a sua bênção apostólica. (RL)







All the contents on this site are copyrighted ©.