Cidade do Vaticano, 15 out (RV) -A Igreja tem quatro novos santos. Bento XVI
os proclamou nesta manhã de domingo durante uma solene celebração eucarística, na
Praça São Pedro, na presença de aproximadamente 40 mil fiéis e peregrinos.
Os
novos santos _ o bispo mexicano Rafael Guízar y Valencia, o sacerdote napolitano
Filippo Smaldone, a religiosa italiana Rosa Venerini e outra francesa,
Théodore Guérin _ abandonaram tudo para seguir Jesus _ disse o Papa _, amando-o
nos mais pobres e sofredores, em meio a dificuldades e perseguições, totalmente confiados
à Divina Providência.
No início de sua homilia, o papa falou de um jovem que
não se fez santo porque simplesmente se limitava a observar os mandamentos. Partindo
do evangelho deste 28º domingo do tempo comum (ano B), explicou o 'não' do jovem rico,
a quem Jesus havia convidado a vender todas as suas riquezas e segui-lo. Ter rejeitado
o convite lhe trouxe uma grande tristeza _ recordou o papa.
"Se o homem deposita
a sua segurança nas riquezas deste mundo não alcança o sentido pleno da vida e a verdadeira
alegria; se, ao invés, confiando na palavra de Deus, renuncia a si mesmo e a seus
bens pelo Reino dos céus, aparentemente perde muito, mas na realidade, ganha tudo.
Santo é justamente aquele homem, aquela mulher, que, respondendo com alegria e generosidade
ao chamado de Cristo, deixa tudo para segui-lo."
"Os novos santos _ afirmou
o Papa _ percorreram esse exigente, mas compensador itinerário evangélico, e receberam
'o cêntuplo' já na vida terrena junto com provas e perseguições, e depois a vida eterna.
Jesus, portanto _ explicou o pontífice _, pode verdadeiramente garantir uma existência
feliz e a vida eterna, mas por um caminho diferente do que imaginava o jovem rico,
ou seja, não através de uma boa obra, de um cumprimento legal, mas na escolha do Reino
de Deus comparado à 'pérola preciosa' pela qual vale a pena vender tudo o que se possui".
"O
jovem rico não consegue dar esse passo. Embora tenha sido acolhido pelo olhar amoroso
de Jesus, o seu coração não conseguiu se desapegar dos muitos bens que possuía. Eis
então o ensinamento para os discípulos: 'Quão dificilmente aqueles que têm riquezas
entrarão no reino de Deus!' As riquezas terrenas ocupam e preocupam a mente e o coração.
Jesus não diz que elas são ruins, mas distanciam se não forem 'investidas' pelo Reino
dos céus, isto é, usadas para ajudar quem se encontra na pobreza."
"Compreender
isto _ acrescentou Bento XVI _ é fruto da sabedoria do coração" e "não pode ser reduzida
unicamente à dimensão intelectual", mas "é um dom que vem do Alto… e se obtém com
a oração". Essa sabedoria "é mais preciosa do que a prata e o ouro, aliás, mais do
que a beleza, a saúde e a própria luz".
Por isso _ ressaltou o Santo Padre
_, "para 'entrar na vida' é necessário observar os mandamentos… mas isso não é suficiente!",
porque "a salvação não vem da lei, mas da graça" de Cristo. Cristo, porém, quando
se dirige a uma pessoa, coloca-lhe uma condição exigente: 'vem e segue-me'.
"Os
santos _ prosseguiu _ tiveram a humildade e a coragem de responder 'sim', e renunciaram
a tudo para ser seus amigos, como o bispo mexicano Rafael Guízar y Valencia.
É o primeiro bispo da América Latina a ser canonizado. Atuou no México no início do
século XX, quando recrudescia a perseguição contra os católicos. Sofreu o exílio,
correu o risco de ser assassinado, mas jamais deixou de anunciar o Evangelho. Era
chamado o "bispo dos pobres".
"Imitando Cristo pobre, desprendeu-se de seus
bens e nunca aceitou presentes dos poderosos, ou os passava adiante em seguida. Por
isso recebeu 'cem vezes mais' e pôde assim ajudar os pobres, mesmo em meio a 'perseguições'
sem trégua" _ ressaltou o Santo Padre.
O sacerdote napolitano Filippo Smaldone,
que viveu entre os séculos XIX e XX, fundador da Congregação das Irmãs Salesianas
dos Sagrados Corações, tinha "grande coração _ disse o Papa _ alimentado da oração
constante e da adoração eucarística" e trabalhou, em particular, ajudando os surdos-mudos".
"São
Filippo Smaldone via a imagem de Jesus refletida nos surdos-mudos, e costumava repetir
que, do mesmo modo como se prostra diante do Santíssimo Sacramento, se deve ajoelhar
diante de um surdo-mudo. Acolhamos de seu exemplo o convite a considerar sempre indissolúveis
o amor pela Eucaristia e o amor pelo próximo. Aliás, a verdadeira capacidade de amar
os irmãos pode nos vir unicamente do encontro com o Senhor no sacramento da Eucaristia."
Depois,
o Santo Padre falou da religiosa italiana Rosa Venerini, que viveu nos séculos
XVII e XVIII, fundadora da Congregação das Mestras Pias Venerini: atuou contra os
preconceitos de seu tempo em favor da educação das jovens mais pobres, abrindo, dentre
outros, a primeira escola pública feminina na Itália. Viveu todo sofrimento em união
com a Paixão de Jesus.
Santa Rosa Venerini "gostava de dizer: 'Eu estou tão
ligada à vontade divina, que não me importa nem morte, nem vida: quero viver o quanto
Ele quiser, e quero servi-lo como é de seu agrado, e nada mais'".
Por fim,
o Pontífice recordou a religiosa francesa Téodore Guérin, que viveu no século
XIX, fundadora da Congregação das Religiosas da Providência de Saint-Mary-of-the-Woods.
Com mais cinco co-irmãs partiu para a América em 1840, com apenas 25 anos de idade,
para fundar escolas católicas e orfanatos. Após uma longa viagem por terra e por mar,
o grupo das irmãs chegou ao estado norte-americano da Indiana.
"Lá, elas fundaram
uma simples capela _ disse o Papa _, simples cabana de madeira no coração da floresta.
Ajoelharam-se diante do Santíssimo Sacramento e renderam graças, pedindo que Deus
guiasse a nova fundação. Com grande confiança na Divina Providência, Madre Théodore
superou muitas dificuldades e perseverou no trabalho que o Senhor lhe havia confiado."
O
testemunho exemplar desses novos santos _ concluiu Bento XVI _ "ilumine e encoraje
especialmente os jovens, a fim de que se deixem conquistar por Cristo, por seu olhar
cheio de amor", para que estejam "prontos a deixar tudo pelo Reino de Deus; dispostos
a abraçar a lógica do dom e do serviço, a única lógica que salva o mundo".
No
Angelus, ao término da Missa, o papa saudou em várias línguas, os diversos grupos
de fiéis e peregrinos provenientes, em particular, dos países dos novos santos. Bento
XVI pediu a intercessão da Virgem Maria "para que todo fiel responda com alegria e
generoso empenho ao chamado que Deus lhe faz para ser sinal da sua santidade".
Terminada
a recitação do Ângelus, o papa concedeu a todos a sua bênção apostólica. (RL)