Firmeza na identidade cristã, sem abandonar a via do diálogo encetada pelo Vaticano
II: Bento XVI na audiência geral desta quarta, 11 de Outubro
Uma multidão de peregrinos encheu a Praça de São Pedro para escutar o Papa, que se
centrou desta vez sobre a figura dos apóstolos Simão Cananeu e Judas Tadeu.
Estas
as palavras pronunciadas pelo Papa em língua portuguesa: "Amados Irmãos e Irmãs, A
catequese sobre o ensinamento dos Apóstolos considera hoje a Simão o Cananeu e a Judas
Tadeu, como homens que se dedicaram a servir a Deus com vivo ardor missionário. Que
estes discípulos da primeira hora nos ajudem a descobrir novamente, e a viver sem
esmorecimentos, a beleza da fé cristã, sabendo dar dela testemunho em nosso ambiente
familiar e social. Saúdo com especial afeto os peregrinos de língua portuguesa,
especialmente o grupo de portugueses da Paróquia de Queluz e os numerosos visitantes
brasileiros de Curitiba e de Cordeirópolis. Sejam bem-vindos. A vossa passagem por
Roma seja abençoada por Deus e por Maria Santíssima, Rainha do Santíssimo Rosário.
Com a minha Bênção Apostólica."
Um primeiro aspecto sublinhado pelo Papa,
na sua catequese mais desenvolvida, em italiano, teve como ponto de partido o facto
deste apóstolo Simão Cananeu ser também chamado “zelota”, no Evangelho de Lucas. Mesmo
se não pertencia propriamente ao movimento nacionalista dos zelotes, é provável –
observou – que se distinguisse pelo ardente zelo pela identidade judaica, e portanto
por Deus, pelo seu povo e pela lei divina. Estaria assim nos antípodas de Mateus,
o qual, pelo contrário, como publicano, provinha de um actividade considerada impura.
Daqui uma lição para nós hoje na Igreja:
“Jesus chama os seus discípulos e
colaboradores dos mais diversos extractos sociais ou religiosos, sem nenhum preclusão.
O que lhe interessa são as pessoas, não as etiquetas! E o belo é que, no grupo dos
que O seguiam, todos, embora diversos, coexistiam conjuntamente, superando as dificuldades
fáceis de imaginar: era de facto o próprio Jesus o motivo da coesão, em que todos
se reencontravam unidos. Isto constitui claramente uma lição para nós, muitas vezes
inclinados a sublinhar as diferenças e porventura mesmo as contraposições, esquecendo
que em Jesus Cristo nos é dada a força para integrar a nossa conflitualidade”.
Outro
ensinamento encontrou-o Bento XVI na única referência evangélica, em São João, a São
Judas Tadeu (“não o Iscariotes”), que perguntou a Jesus “Senhor, como é que acontece
que te deves manifestar a nós e não ao mundo”. Jesus responde: “Se alguém me ama,
observará a minha palavra, meu Pai o amará e veremos a ele e nele faremos a nossa
morada”. “A resposta indirecta de Jesus afirma uma verdade muito importante:
a plena manifestação de Jesus aos seus discípulos não é exterior, mas interior; está
condicionada pelo amor do discípulo por Jesus, um amor não só afectivo mas também
efectivo, que produz docilidade à palavra de Jesus, tornando portanto o discípulo
agradável ao Pai. Por conseguinte, o Pai e Jesus vêm habitar de modo estável no discípulo”.
Um último aspecto posto em destaque pelo Papa foi sugerida pela linguagem
directa e forte usada pela Epístola que “no passado foi atribuída ao apóstolo Judas
Tadeu”. “Hoje em dia – observou Bento XVI – já não estamos porventura habituados a
usar uma linguagem tão polémica, que aliás não deixar de exprimir com muita clareza
não só o que permanece distintivo do cristianismo, como aquilo que lhe é incompatível”.
“Sem dúvida que há que prosseguir com firme constância a via da indulgência
e do diálogo que o Concílio Vaticano em boa hora empreendeu. Contudo, isso não deve
fazer esquecer o dever de repensar e evidenciar sempre com idêntico vigor as linhas
mestras e irrenunciáveis da nossa identidade cristã. Por outro lado, há que ter bem
presente que esta nossa identidade não se joga num plano simplesmente cultural, nem
num nível superficial, mas exige a força, a clareza e a coragem da provocação próprios
da fé”.
“Que Simão Cananeu e Judas Tadeu – concluiu o Papa – nos ajudem a
redescobrir sempre de novo e a viver incansavelmente a beleza da fé cristã, dela sabendo
dar testemunho ao mesmo tempo forte e sereno”.