O apóstolo Bartolomeu, na catequese da audiência-geral da semana passada
"Não nos devemos contentar com palavras, na nossa relação com Jesus", advertiu Bento
XVI, na audiência geral desta quarta-feira, com dezenas de milhares de peregrinos
congregados na Praça de São Pedro, evocando a figura do apóstolo S. Bartolomeu. Estas
as palavras pronunciadas em português:"Dirijo uma saudação particular de boas-vindas
aos peregrinos do Brasil e de Portugal, nomeadamente aos grupos lisboetas de Carnide
e dos Anjos, com votos de que esta romagem fortaleça a vossa adesão a Jesus Cristo
e o desejo de O fazer amar na própria casa e na sociedade. O Pai do Céu derrame os
seus dons sobre vós e vossas famílias, que de coração abençoo." Tema da alocução
desta audiência geral foi a figura de São Bartolomeu, prosseguindo assim a catequese
que vem dedicando, nesta circunstância semanal, aos Apóstolos. O Papa observou
que, para além de constar na lista dos Doze que os Evangelhos apresentam, não existem
notícias seguras a seu respeito. É, contudo, tradicionalmente identificado com a figura
de Natanael, cuja vocação é referida no quarto Evangelho, no âmbito da chamada dos
primeiros apóstolos. As palavras que o evangelista João lhe atribui, “De Nazaré
pode vir algo de bom?” – observou Bento XVI – embora constituam uma espécie de contestação,
são importantes para nós pois “nos faz ver que, segundo as expectativas judaicas,
o Messias não podia provir de uma aldeia tão obscura como era Nazaré. Ao mesmo tempo,
porém, põe em evidência a liberdade de Deus, que surpreende as nossas expectativas
fazendo-se encontrar precisamente onde não esperaríamos encontrá-lo”. Aliás – observou
ainda – Jesus não era exclusivamente “de Nazaré”: tinha nascido em Belém. A objecção
de Natanael não tinha, portanto, valor, porque assente, como muitas vezes acontece,
numa informação incompleta”. Outra reflexão que os acontecimentos ligados a Natanael
sugeriram ao Papa, na catequese da audiência-geral desta semana, partiu das palavras
que Filipe lhe dirigiu: “Vem e vê!”. “Na nossa relação com Jesus – ponderou Bento
XVI – não devemos contentar-nos só com palavras”. “O nosso conhecimento de Jesus
tem sobretudo necessidade de uma experiência viva: é sem dúvida importante o testemunho
dos outros, pois geralmente a nossa vida cristã começa com o anúncio que chega até
nós graças a uma ou mais testemunhas. Mas depois devemos ser nós próprios a ser envolvidos
pessoalmente numa relação íntima e profunda com Jesus”. Como aconteceu também com
os samaritanos, quando, chamados pela mulher que conhecera Jesus junto do poço de
Jacob, exclamaram por fim: “Já não é pela tua palavra que nós acreditamos, mas sim
porque nós próprios ouvimos e sabemos que é verdadeiramente o salvador do mundo”. Bento
XVI evocou também a bela, “límpida”, profissão de fé que Natanael exprimiu com as
palavras: “Rabbi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!”. Embora sem a intensidade
da profissão de fé do apóstolo Tomé (Meu Senhor e meu Deus!), em todo o caso, – observou
o Papa – as palavras de Natanael põem em destaque uma duplo – complementar – aspecto
da identidade de Jesus: Ele é reconhecido tanto na sua relação especial com Deus Pai,
de que é Filo unigénito, como na relação com o povo de Israel, de que é declarado
rei, qualificaçao própria do Messias esperado”. “Nunca devemos perder de vista
nem uma nem a outra destas duas componentes, pois se proclamamos só a dimensão celeste
de Jesus, corremos o risco de fazer d’Ele um ser etéreo, evanescente; mas se, pelo
contrário, reconhecemos apenas a sua inserção concreta na história, acabamos por descurar
a dimensão divina que o qualifica apropriadamente”