BENTO XVI A EMBAIXADORES DE PAÍSES ISLÂMICOS: DIÁLOGO COM ISLÃ É NECESSIDADE VITAL
PARA O FUTURO DO MUNDO
Castel Gandolfo, 25 set (RV) - O diálogo entre cristãos e muçulmanos é uma
necessidade vital para o futuro do mundo: trabalhemos juntos pela paz, no respeito
à identidade e à liberdade de cada um. Foi o que disse o Papa, em síntese, a seus
hóspedes, ao receber, esta manhã, em Castel Gandolfo, os embaixadores dos países de
maioria muçulmana acreditados junto à Santa Sé, e alguns expoentes das comunidades
muçulmanas na Itália.
Um encontro voltado a "consolidar os laços de amizade
e de solidariedade" entre a Santa Sé e o mundo islâmico, após as reações suscitadas
por uma incorreta interpretação do discurso de Bento XVI na Universidade de Regensburg.
A
audiência, transmitida ao vivo também pela TV árabe do Catar, "Al Jazeera", contou
com a presença de 22 diplomatas e cerca de 20 expoentes de comunidades muçulmanas
na Itália. Encontrava-se presente também o presidente do Pontifício Conselho para
o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Paul Poupard.
O Papa saudou cordialmente,
um por um, os diplomatas e os representantes muçulmanos. O encontro transcorreu numa
atmosfera serena e amistosa, com muitos sorrisos e apertos de mão.
Na esteira
do Concílio Vaticano II, Bento XVI reiterou "toda a estima e o profundo respeito"
que nutre em relação aos fiéis muçulmanos "que adoram o Deus Único".
"Desde
o início de meu pontificado _ disse o Santo Padre _ fiz votos de que se continuem
consolidando os pontos de amizade com os fiéis de todas as religiões, com um apreço
particular pelo crescimento do diálogo entre muçulmanos e cristãos."
Recordando
as palavras proferidas no encontro com os representantes islâmicos em Colônia, Alemanha,
em agosto de 2005, Bento XVI ressaltou que "o diálogo inter-religioso e intercultural
entre cristãos e muçulmanos não pode reduzir-se a uma escolha do momento". "Trata-se,
efetivamente, de uma necessidade vital, da qual depende em grande parte o nosso futuro"
_ ressaltou.
"Num mundo marcado pelo relativismo e que muitas vezes exclui
a transcendência da universalidade da razão _ acrescentou _ precisamos absolutamente,
de um diálogo autêntico entre as religiões e as culturas", para construir juntos,
um "mundo de paz e de fraternidade" e, nesse âmbito _ observou _ "os nossos contemporâneos
esperam de nós, um testemunho eloqüente, capaz de indicar a todos, o valor da dimensão
religiosa da existência".
Bento XVI se posicionou em continuidade com a obra
iniciada por João Paulo II, fazendo calorosos votos de que "as relações inspiradas
na confiança, que se instauraram há diversos anos, entre cristãos e muçulmanos, não
somente prossigam, mas se desenvolvam num espírito de diálogo sincero e respeitoso".
Um diálogo "fundado num conhecimento recíproco, sempre mais autêntico, que, com alegria,
reconheça os valores religiosos comuns e, com lealdade, assuma as diferenças e as
respeite".
O Papa afirmou a necessidade de que, "fiéis aos ensinamentos de
suas respectivas tradições religiosas, cristãos e muçulmanos aprendam juntos, como
já acontece em diversas experiências comuns, para evitar toda forma de intolerância
e opor-se a todas as manifestações de violência".
A esse propósito _ ressaltou
_ é "imperioso" que as autoridades religiosas e os responsáveis políticos encorajem
os fiéis a agirem desse modo.
Reconhecendo que ao longo dos séculos "surgiram
não poucos dissensos e inimizades entre cristãos e muçulmanos", Bento XVI recordou
que o Concílio Vaticano II exorta "todos a esquecerem o passado e a exercitarem, sinceramente,
a mútua compreensão, bem como a defenderem e promoverem juntos, para todos os homens,
a justiça social, os valores morais, a paz e a liberdade" (Nostra aetate, n.3).
O
Pontífice convidou "a se buscar novamente, o caminho da reconciliação… no respeito
pela identidade e liberdade de cada um", e citou João Paulo II que, em seu "memorável
discurso" aos jovens, em Casablanca, Marrocos, em 1985, afirmou que "o respeito e
o diálogo requerem a reciprocidade em todos os campos, sobretudo no que diz respeito
às liberdades fundamentais e, mais particularmente, à liberdade religiosa. Elas favorecem
a paz e o entendimento entre os povos".
"Estou profundamente convencido _ afirmou
ainda o Papa _ de que, na situação em que se encontra o mundo de hoje", na medida
em que "crescem as ameaças contra o homem e contra a paz", é "um imperativo para os
cristãos e os muçulmanos, se empenharem a afrontar juntos, os numerosos desafios"
da atualidade, "especialmente no que concerne à defesa e à promoção da dignidade do
ser humano e dos direitos que dela derivam", reafirmando "a centralidade da pessoa
e trabalhando sem cessar, a fim de que a vida humana seja sempre respeitada".
Por
fim, Bento XVI endereçou "cordiais felicitações" aos muçulmanos, que começaram a celebrar,
no último sábado, o Ramadã, fazendo votos "de coração, que Deus misericordioso conduza
os nossos passos nos caminhos de uma recíproca e cada vez mais verdadeira compreensão".
"Que
o Deus da paz _ concluiu o Papa, dirigindo-se aos representantes islâmicos _ derrame
abundantemente suas bênçãos sobre os senhores e sobre as comunidades que representam!"
(RL)