Protecção da criança desfasada da realidade na generalidade dos PALOP
A protecção jurídica dos direitos da criança nos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa precisa de ser actualizada, porque se encontra desfasada da realidade,
defenderam vários juristas que participam num simpósio internacional em Luanda.
“Em
termos práticos, estamos desfasados da realidade, já que temos grande leque de medidas,
mas não podemos aplicá-las. Não há meios nem estruturas”, afirmou Helena Barreto,
juíza do Tribunal da Praia. À margem do Simpósio Internacional sobre Protecção Jurisdicional
dos Direitos da Criança, que teve início esta segunda feira em Luanda, a juíza apontou
como exemplo o facto de não haver em Cabo Verde um centro de acolhimento. “Quando
chegamos ao fim de um processo, não sabemos o que fazer com a criança, porque não
temos meios para aplicar as medidas previstas”, disse, admitindo porém que a Constituição
de Cabo Verde se “aproximou muito” da Convenção Internacional sobre Direitos das Crianças,
havendo “boa cobertura legal”.
Por outro lado, mostrou-se convicta de que a
reforma legislativa em curso permitirá “criar os meios necessários” para assegurar
a protecção dos direitos da criança. A questão coloca-se também na Guiné-Bissau, onde
a protecção daqueles direitos “ainda é incipiente”, segundo o bastonário da Ordem
dos Advogados local, Armando Mango, para quem o problema resulta de ainda estarem
em vigor leis que remontam à época colonial, que são desactualizadas. “Embora se consiga
proteger os direitos da criança, há partes da legislação que devem ser actualizadas”,
avisou, frisando que a Guiné não dispõe de instituições para proteger os menores. O
simpósio termina quinta-feira e integra as comemorações do 10.º aniversário da Ordem
dos Advogados de Angola. Organizado pela estrutura e pelo Ministério da Justiça, com
apoio da UNICEF, destina-se a advogados, académicos, funcionários governamentais,
magistrados, legisladores e membros de comissões de reforma da Justiça.