Desvalorização da familia preocupa a Igreja : nota da Comissão Episcopal da educação
cristã, em preparação da semana nacional da educação cristã, em Portugal
A sociedade actual vive com a desvalorização da família institucionalizada e com a
equivalência à instituição familiar, de relações afectivas não apoiadas no vínculo
do matrimónio, com duração e grau de compromisso variáveis. Estas são questões que
podem influenciar a mentalidade das pessoas, incluindo a dos próprios cristãos. Torna-se
necessário olhar a realidade e a natureza da família não como resultado de meras circunstâncias
sócio-temporais, mas como espaço ideal do acolhimento da vida, do crescimento harmónico,
do desenvolvimento integral e da vivência do amor humano como reflexo do amor de Deus
pela humanidade. Será este o contexto da próxima Semana Nacional da Educação Cristã
a decorrer nos dias 1 a 8 de Outubro, sob o tema “Família, um bem necessário e insubstituível”.
Promovida pela Comissão Episcopal da Educação Cristã, esta Semana Nacional será uma
ocasião para que educadores cristãos, especialmente pais e todos quantos a eles se
associem, reflectirem sobre a importância da educação e assumirem as responsabilidades
próprias da missão que desempenham, num contexto de inicio de ano escolar. Em
Nota Pastoral, a Comissão Episcopal da Educação Cristã refere que o tema escolhido
para a Semana Nacional ganha permanente actualidade dada a sua relação com a educação,
e segue o repto dirigido por Bento XVI no recente Encontro Mundial das Famílias: “Proclamar
a verdade integral da família, fundada no matrimónio como Igreja doméstica e santuário
da vida, é uma grande responsabilidade de todos”. A educação é a base para o desenvolvimento
integral da pessoa. Sendo um processo cumulativo conta, primeiro que tudo, com o educando
que, no exercício da sua liberdade, faz opções, assume valores e descobre um sentido
para a vida. Mas, neste processo educativo, é também indispensável o contributo de
diversas pessoas e organismos, e em especial, a família é a instituição educativa
primeira e insubstituível. É o núcleo básico e estruturante da sociedade e dela depende
a vitalidade e a consistência do tecido social, a saúde e o equilíbrio da pessoa humana.
Na família, são os pais os primeiros responsáveis pela educação dos filhos, tanto
no campo meramente humano como no âmbito mais especificamente cristão. A eles se associam
outras instâncias que, numa linha de complementaridade e colaboração, contribuem para
a educação dos seus filhos. Esta educação realiza-se de forma natural e espontânea,
através da palavra e sobretudo da vivência cristã quotidiana que os pais proporcionam
no interior dos seus lares, testemunhando a fé, a esperança e a caridade, e rezando
em família, contando também com os avós, que com uma esperança de vida cada vez maior
e disponibilidade, são um valioso contributo para a educação, em particular no que
respeita ao despertar da fé e à transmissão das tradições religiosas e cristãs. Como
meio subsidiário à família, sobressai, pela sua importância, a escola. A cooperação
entre a família e a escola, traduzida numa conjugação de esforços que respeite a especificidade
e a autonomia de cada uma, é condição indispensável para o êxito formativo e o sucesso
escolar das crianças e dos jovens. Mas é necessário a manutenção do diálogo entre
a escola e os pais, com participação nas actividades. Os professores, particularmente
os de Educação Moral e Religiosa Católica e os responsáveis pela gestão escolar, devem
assumir especialmente as suas tarefas como serviço ao desenvolvimento e formação dos
alunos. Isso implica não uma postura de meros transmissores de conhecimentos, executores
de estratégias pedagógicas ou simples técnicos administrativos, mas antes uma atitude
de testemunho, que, por palavras e pela prática de vida comunicam uma sabedoria tecida
de valores e critérios éticos. Os cristãos encontram na comunhão com Deus a fonte
inesgotável dessa sabedoria. A educação na escola requer, acolhimento e diálogo
com as famílias, escuta e resposta às suas necessidades e propostas, e realização
de programas de cooperação com as famílias e a comunidade, dando especial atenção
às situações de risco, de pobreza e de marginalidade. É aos pais cristãos que,
em primeiro lugar, incumbe a educação dos filhos na fé. São eles que mais podem contribuir
pela palavra e pelo testemunho, para que os filhos despertem para a fé e progressivamente
a assumam como acto pessoal. Mas, se a transmissão da fé é um dever de que os
pais não podem abdicar nem simplesmente delegar, também é verdade que não o podem
nem devem cumprir sozinhos. Necessitam da ajuda da Igreja. Neste sentido, é indispensável
articular e alimentar a vivência familiar das crianças e dos jovens com a participação
na comunidade cristã e a cooperação com a acção dos catequistas e dos sacerdotes.
É necessário aprofundar o serviço eclesial que os catequistas prestam como testemunhas
de Cristo, procurando dar a formação adequada às crianças, aos jovens, aos adultos
e às famílias, proporcionando a experiência e a integração na vida da comunidade cristã,
sendo que a doutrina deve ser cimentada no testemunho de vida pessoal de intimidade
com Deus, alicerçada na oração e na frequência dos sacramentos, designadamente a Eucaristia.
Os párocos devem dar prioridade pastoral a três questões: à catequese em todas
as idades, atendendo à necessidade de acolhimento e de respostas adequadas à diversidade
de situações, apostando na formação de catequistas; dar especial atenção aos casais
jovens, que requerem propostas pastorais específicas e inovadoras; e ao ensino, empenhando-se
na sensibilização das crianças, dos jovens e das famílias para a matrícula em Educação
Moral e Religiosa Católica, e no diálogo com as escolas e acompanhamento dos professores.