BENTO XVI NA BAVIERA: "O HOMEM DE HOJE NÃO OUVE MAIS DEUS E CORRE O RISCO DE CAIR
NO CINISMO
Munique, 10 set (RV) - "O homem de hoje não consegue mais ouvir Deus: sente
a urgência do progresso e do desenvolvimento, mas não a urgência da fé, e corre o
risco de cair no cinismo e no desprezo por Deus": foi o que disse Bento XVI, na homilia
da santa missa que presidiu, esta manhã, na esplanada da Feira Nova, de Munique, diante
de mais de 250 mil pessoas, no segundo dia de sua viagem à Baviera, sua terra natal.
O
Papa convidou a colocar Deus no centro da própria vida: somente desse modo, a vida
muda verdadeiramente, porque o amor a Deus inclui o amor ao próximo. Então "a justiça
e o amor" se tornam "as forças decisivas na ordem do mundo".
Era visível o
entusiasmo do Papa que, acolhido pelo cardeal-arcebispo de Munique e Freising, Friedrich
Wetter, saudou a multidão no típico modo bávaro "Gruss Gott" (Deus te saúda).
No
palco, o mais antigo crucifixo do mundo, que remonta ao século IX e foi encontrado
na Baviera, como testemunha das raízes cristãs da Europa. Ontem, por ocasião de sua
chegada, Bento XVI havia convidado os alemães a permanecerem fiéis a Cristo.
"O
social e o Evangelho são inseparáveis entre si. Quando oferecemos aos homens somente
conhecimentos, habilidades, capacidades técnicas e instrumentos, oferecemos muito
pouco" _ disse o Santo Padre em sua homilia.
O Pontífice saudou a multidão
de féis provenientes de várias partes da Baviera, e de toda a Alemanha, como também
da Áustria, Polônia, Suíça, Romênia e República Tcheca.
"A Igreja Católica
na Alemanha é grandiosa nas atividades sociais" _ disse o Santo Padre _ mas "existe
em alguns, a idéia de que os projetos sociais devem ser promovidos com a máxima urgência,
ao passo que as coisas que dizem respeito a Deus ou à fé católica são coisas de menor
importância". Todavia, é a evangelização que "deve ter a precedência" _ prosseguiu
Bento XVI, citando a experiência dos prelados africanos, recebidos recentemente em
visita "ad Limina", no Vaticano.
"Às vezes _ contou o Papa _ algum bispo africano
diz: "Se apresento na Alemanha projetos sociais, encontro imediatamente as portas
abertas. Mas se venho com um projeto de evangelização, freqüentemente encontro reservas"."
"A experiência daqueles bispos _ precisou o Santo Padre _ nos diz exatamente
que a evangelização deve ter a precedência, que o Deus de Jesus Cristo deve ser conhecido,
acreditado e amado, deve converter os corações, para que também as coisas sociais
possam progredir, para que se consiga a reconciliação, para que _ por exemplo _ a
AIDS possa ser combatida afrontando verdadeiramente as suas causas profundas e curando
os enfermos com a devida atenção e amor."
"As populações da África e da Ásia
_ prosseguiu o Papa _ admiram as nossas capacidades técnicas e a nossa ciência, mas,
por outro lado, se assustam frente a um tipo de razão que exclui completamente Deus
da visão do homem. A verdadeira ameaça para a sua identidade, não a vêem na fé cristã,
mas no desprezo de Deus e no Cristianismo que considera o desprezo do sagrado como
um direito da liberdade e eleva a utilidade a supremo critério moral para os futuros
êxitos da pesquisa."
"Caros amigos, esse cinismo não é o tipo de tolerância
e de apertura cultural que os povos esperam e que todos nós desejamos! A tolerância
de que temos necessidade urgente compreende o temor de Deus _ o respeito por aquilo
que para os outros é coisa sagrada."
Esse senso de respeito _ explicou o Papa
_ pode renascer no mundo ocidental somente se crescer novamente a fé em Deus, se Deus
estiver novamente presente por nosso intermédio e em nós. Essa fé não pode ser imposta
a ninguém. Qualquer proselitismo desse tipo é contrário ao Cristianismo _ acrescentou.
"A fé somente pode se desenvolver na liberdade."
Nesse contexto, Bento XVI
fez um apelo à liberdade dos homens a abrir-se a Deus, a procurá-lo, a ouvi-lo: "Nós,
simplesmente, não conseguimos mais ouvi-Lo, em razão das tantas freqüências que ocupam
os nossos ouvidos. Aquilo que se diz d'Ele nos soa como algo pré-científico, não mais
adaptado ao nosso tempo."
Com a enfermidade do ouvido ou absolutamente a surdez
nas relações com Deus, se perde, naturalmente, também a nossa capacidade de falar
com Ele ou a Ele. Dessa forma, então, fica faltando em nós, uma percepção decisiva.
Os nossos sentidos interiores correm o risco de se apagar. A perda gradativa dessa
percepção vem determinado, de modo drástico e perigoso, o raio da nossa relação com
a realidade. O horizonte da nossa vida se reduz de modo preocupante, acrescentou o
Pontífice.
"Não faltamos com o respeito pelas outras religiões e culturas,
ao profundo respeito pela sua fé, se confessamos em alta voz e sem meios termos aquele
Deus que à violência opõe o seu sofrimento; que frente ao mal e ao seu poder, eleva,
como limite e superação, a sua misericórdia" _ disse ainda o Santo Padre.
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No
Angelus, logo após a celebração eucarística, o Papa reiterou a necessidade _ para
a convivência serena e pacífica entre os homens _ de se colocar Deus no centro da
realidade e da vida.
"O exemplo de atitude desse tipo _ disse _ é Maria, mulher
da escuta, Virgem com o coração aberto a Deus e aos homens." A ela si dirigiram os
fiéis de todos os tempos, na tribulação, invocando sua ajuda. As inúmeras igrejas
e santuários na Baviera são testemunhas disso.
O Pontífice recordou o santuário
de Altötting, onde amanhã, segunda-feira, irá em peregrinação, e a Coluna de Maria
"Mariaensule" aos pés da qual, ontem, viveu momentos intensos de "festa da fé", saudado
por 150 mil pessoas pelas ruas de Munique.
"Um entusiasmo maior e mais caloroso
do que o entusiasmo napolitano" _ comentou o Papa.
Após a celebração da santa
missa desta manhã, na Feira Nova, de Munique, o Santo Padre retornou à sede arquiepiscopal
da cidade, onde almoçou com a sua comitiva e cardeais convidados. (RL)