2006-09-11 20:07:36

BENTO XVI NA BAVIERA: "O HOMEM DE HOJE NÃO OUVE MAIS DEUS E CORRE O RISCO DE CAIR NO CINISMO


Munique, 10 set (RV) - "O homem de hoje não consegue mais ouvir Deus: sente a urgência do progresso e do desenvolvimento, mas não a urgência da fé, e corre o risco de cair no cinismo e no desprezo por Deus": foi o que disse Bento XVI, na homilia da santa missa que presidiu, esta manhã, na esplanada da Feira Nova, de Munique, diante de mais de 250 mil pessoas, no segundo dia de sua viagem à Baviera, sua terra natal.

O Papa convidou a colocar Deus no centro da própria vida: somente desse modo, a vida muda verdadeiramente, porque o amor a Deus inclui o amor ao próximo. Então "a justiça e o amor" se tornam "as forças decisivas na ordem do mundo".

Era visível o entusiasmo do Papa que, acolhido pelo cardeal-arcebispo de Munique e Freising, Friedrich Wetter, saudou a multidão no típico modo bávaro "Gruss Gott" (Deus te saúda).

No palco, o mais antigo crucifixo do mundo, que remonta ao século IX e foi encontrado na Baviera, como testemunha das raízes cristãs da Europa. Ontem, por ocasião de sua chegada, Bento XVI havia convidado os alemães a permanecerem fiéis a Cristo.

"O social e o Evangelho são inseparáveis entre si. Quando oferecemos aos homens somente conhecimentos, habilidades, capacidades técnicas e instrumentos, oferecemos muito pouco" _ disse o Santo Padre em sua homilia.

O Pontífice saudou a multidão de féis provenientes de várias partes da Baviera, e de toda a Alemanha, como também da Áustria, Polônia, Suíça, Romênia e República Tcheca.

"A Igreja Católica na Alemanha é grandiosa nas atividades sociais" _ disse o Santo Padre _ mas "existe em alguns, a idéia de que os projetos sociais devem ser promovidos com a máxima urgência, ao passo que as coisas que dizem respeito a Deus ou à fé católica são coisas de menor importância". Todavia, é a evangelização que "deve ter a precedência" _ prosseguiu Bento XVI, citando a experiência dos prelados africanos, recebidos recentemente em visita "ad Limina", no Vaticano.

"Às vezes _ contou o Papa _ algum bispo africano diz: "Se apresento na Alemanha projetos sociais, encontro imediatamente as portas abertas. Mas se venho com um projeto de evangelização, freqüentemente encontro reservas"."

"A experiência daqueles bispos _ precisou o Santo Padre _ nos diz exatamente que a evangelização deve ter a precedência, que o Deus de Jesus Cristo deve ser conhecido, acreditado e amado, deve converter os corações, para que também as coisas sociais possam progredir, para que se consiga a reconciliação, para que _ por exemplo _ a AIDS possa ser combatida afrontando verdadeiramente as suas causas profundas e curando os enfermos com a devida atenção e amor."

"As populações da África e da Ásia _ prosseguiu o Papa _ admiram as nossas capacidades técnicas e a nossa ciência, mas, por outro lado, se assustam frente a um tipo de razão que exclui completamente Deus da visão do homem. A verdadeira ameaça para a sua identidade, não a vêem na fé cristã, mas no desprezo de Deus e no Cristianismo que considera o desprezo do sagrado como um direito da liberdade e eleva a utilidade a supremo critério moral para os futuros êxitos da pesquisa."

"Caros amigos, esse cinismo não é o tipo de tolerância e de apertura cultural que os povos esperam e que todos nós desejamos! A tolerância de que temos necessidade urgente compreende o temor de Deus _ o respeito por aquilo que para os outros é coisa sagrada."

Esse senso de respeito _ explicou o Papa _ pode renascer no mundo ocidental somente se crescer novamente a fé em Deus, se Deus estiver novamente presente por nosso intermédio e em nós. Essa fé não pode ser imposta a ninguém. Qualquer proselitismo desse tipo é contrário ao Cristianismo _ acrescentou. "A fé somente pode se desenvolver na liberdade."

Nesse contexto, Bento XVI fez um apelo à liberdade dos homens a abrir-se a Deus, a procurá-lo, a ouvi-lo: "Nós, simplesmente, não conseguimos mais ouvi-Lo, em razão das tantas freqüências que ocupam os nossos ouvidos. Aquilo que se diz d'Ele nos soa como algo pré-científico, não mais adaptado ao nosso tempo."

Com a enfermidade do ouvido ou absolutamente a surdez nas relações com Deus, se perde, naturalmente, também a nossa capacidade de falar com Ele ou a Ele. Dessa forma, então, fica faltando em nós, uma percepção decisiva. Os nossos sentidos interiores correm o risco de se apagar. A perda gradativa dessa percepção vem determinado, de modo drástico e perigoso, o raio da nossa relação com a realidade. O horizonte da nossa vida se reduz de modo preocupante, acrescentou o Pontífice.

"Não faltamos com o respeito pelas outras religiões e culturas, ao profundo respeito pela sua fé, se confessamos em alta voz e sem meios termos aquele Deus que à violência opõe o seu sofrimento; que frente ao mal e ao seu poder, eleva, como limite e superação, a sua misericórdia" _ disse ainda o Santo Padre.

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No Angelus, logo após a celebração eucarística, o Papa reiterou a necessidade _ para a convivência serena e pacífica entre os homens _ de se colocar Deus no centro da realidade e da vida.

"O exemplo de atitude desse tipo _ disse _ é Maria, mulher da escuta, Virgem com o coração aberto a Deus e aos homens." A ela si dirigiram os fiéis de todos os tempos, na tribulação, invocando sua ajuda. As inúmeras igrejas e santuários na Baviera são testemunhas disso.

O Pontífice recordou o santuário de Altötting, onde amanhã, segunda-feira, irá em peregrinação, e a Coluna de Maria "Mariaensule" aos pés da qual, ontem, viveu momentos intensos de "festa da fé", saudado por 150 mil pessoas pelas ruas de Munique.

"Um entusiasmo maior e mais caloroso do que o entusiasmo napolitano" _ comentou o Papa.

Após a celebração da santa missa desta manhã, na Feira Nova, de Munique, o Santo Padre retornou à sede arquiepiscopal da cidade, onde almoçou com a sua comitiva e cardeais convidados. (RL)







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