Oração do Papa a Nossa Senhora, junto à "Coluna de Maria", na Praça central de Munique,pedindo
forças para a reconciliação e o perdão.
Nas palavras pronunciadas na central “Praça de Maria”, junto da Coluna coroada da
imagem de Nossa Senhora, Patrona da Baviera, Bento XVI declarou-se feliz e comovido
por voltar, agora “como Sucessor de São Pedro”, a esta “belíssima praça”, um lugar
ligado, já no passado, por duas vezes, a “viragens decisivas” na sua vida: há quase
trinta anos, quando ali foi acolhido – “com cordialidade e alegria” - pelos fiéis
de Munique, como seu novo Arcebispo; e cinco anos depois, quando - chamado pelo Papa
a Roma – se despediu da diocese, pronunciando então uma oração confiando à protecção
de Maria a Cidade e a Pátria. Agradecendo “a simpatia” manifestada no “caloroso
acolhimento” que lhe foi também agora dispensado, Bento XVI evocou a lenda do urso
de São Corbiano, bispo de Munique (animal que faz parte das armas episcopais da arquidiocese
e que o Papa Ratzinger adoptou no emblema papal). Uma lenda que o fascinou desde pequeno,
segundo a qual um urso teria despedaçado o cavalo com o qual o santo se encaminhava
para Roma. Como castigo, conta a lenda, o santo carregou às costas do urso a carga
que o cavalo levava antes. E o urso teve que a carregar, através dos Alpes, até Roma,
onde o santo o deixou finalmente partir em liberdade. “Em 1977 – confidenciou o
Papa – colocado perante a difícil opção de aceitar ou não a nomeação a arcebispo de
Munique, que me arrancava à minha amada actividade universitária, este urso com a
carga às costas recordou-me a interpretação que Santo Agostinho dá aos versículos
22 e 23 do Ssalmo 73. O salmista, interrogando-se sobre o porquê do sofrimento de
quem se encontra perante Deus, diz “Era insensato e não compreendia, estava diante
de ti como um animal de carga. Mas estou sempre contigo”. Agostinho, vendo no termo
“animal de carga”, uma imagem de si próprio com o peso do seu serviço episcopal”.
Ele tinha escolhido a vida de homem de estudo e Deus tinha-o chamada a fazer de besta
de carga, como um boi que puxa o arado no campo de deus que é este mundo… Mas precisamente
aqui o Salmo lhe dava a iluminação purificadora: como o animal de carga é o que está
mais próximo do lavrador e, sob a sua condução, realiza para ele o pesado trabalho
que lhe é pedido, assim o Bispo, no seu humilde serviço, está muito perto de Deus,
porque realiza um serviço importante para o seu Reino”. Assim, concluiu Bento
XVI, “o urso de S. Corbiniano sempre me encoraja de novo a realizar o meu serviço
com alegria e confiança – tanto há trinta anos como agora no meu novo cargo – dizendo
dia após dia o meu “sim” a Deus. Tornei-me como um animal de carga, mas precisamente
assim “estou contigo para sempre” (Senhor), como diz o Salmo. O urso de Sºao Corbiano,
em Roma, foi libertado. No meu caso, o “Patrão” decidiu de modo diferente. Aqui me
encontro, pois, de novo, aos pés da Coluna de Maria, para implorar a intercessão e
a bênção da Mãe de Deus, desta vez não só para a cidade de Munique e para a Baviera,
mas para a Igreja universal e para todos os homens de boa vontade”. Eis os termos
da oração aqui dirigida a Nossa Senhora, composta pelo Papa para esta ocasião e por
ele recitada: “Santa Mãe do Senhor, os nossos antepassados, em tempos de tribulação,
elevaram aqui, no coração da cidade de Munique, a tua imagem, para te consagrar a
cidade e o país. Nos caminhos das actividades do dia a dia, queriam cruzar-se repetidamente
contigo, para assim aprender a viver de modo justo a existência humana; aprender contigo
a encontrar a Deus e a encontrarem-se concordes entre si. Deram-te a coroa e o ceptro,
então símbolos da soberania do pais, porque sabiam que o poder e o domínio estariam
assim em boas mãos – nas mãos da Mãe. O teu Filho, pouco antes da hora da despedida,
disse aos seus discípulos Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servidor,
e quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos. Tu, na hora decisiva da tua vida,
disseste: Eis aqui a serva do Senhor e viveste toda a tua existência como serviço.
E o mesmo continuas a fazer ao longo dos séculos da história. Como outrora, em Caná,
intercedeste silenciosamente e com discrição pelos esposo, assim continuas sempre
a fazer: Tomas a teu cargo as preocupações dos homens e as apresentas diante do Senhor,
diante do teu Filho. O teu poder é a bondade. O teu poder é servir. Ensina-nos
a nós – grandes e pequenos, com ou sem poder – a viver deste modo a nossa responsabilidade.
Ajuda-nos a encontrar forças para a reconciliação e o perdão. Ajuda-nos a tornarmo-nos
paciente e humildes, mas também livres e corajosos, como Tu foste na hora da Cruz.
Tu tens nos braços Jesus, o Menino que abençoa, o Menino que é ao mesmo tempo o Senhor
do muno. Deste modo, levando nos braços Aquele que abençoa, tornaste-te Tu própria
uma bênção,. Abençoa-nos! Abençoa esta cidade e este país! Mostra-nos Jesus, o bendito
fruto do teu ventre! Roga por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Ámen!