CARDEAL GLEMP: JOÃO PAULO II ERA ESPIONADO INCLUSIVE NO VATICANO
Varsóvia, 06 set (RV) - O Papa Wojtyla era "espionado e como...", até mesmo
"no Vaticano havia espiões". "Moscou, de fato, tinha muito interesse em saber aquilo
que se passava em Roma com um papa polonês na cátedra de Pedro": foi o que disse,
numa entrevista à agência de notícias ANSA, o cardeal-primaz da Polônia, Jozef Glemp,
arcebispo de Varsóvia, recordando as restrições e o controle exercidos pelo regime
comunista sobre os padres.
"Vida dura" _ sublinha o cardeal. "Ninguém escapava
ao controle, cada padre na Polônia era fichado, como eu também fui; nos escritórios
do serviço secreto havia dossiers sobre cada um de nós. Cada religioso, cada pároco,
cada seminarista era objeto de cuidados... e essa palavra é um eufemismo." ''Infelizmente
_ acrescenta o cardeal _ nesse clima, havia sacerdotes colaboracionistas (...). Calcula-se
que, na Polônia, 15% dos clero mantinha relações com o serviço secreto, ao qual fornecia
informações. A maior parte do clero (85%) no entanto, resistiu."
"A documentação
recolhida pela polícia secreta sobre os padres poloneses _ diz ainda o Cardeal Glemp
_ foi enorme. Milhares e milhares de documentos. Se colocássemos em fila todos esses
dossiers, poderíamos cobrir uma distância de vários quilômetros."
O cardeal
considera como "um grave problema" o que está emergindo hoje, com a abertura dos arquivos
e a descoberta de tantos padres espiões.
"Esse fenômeno preocupa demais a Igreja
e surge como um escândalo na Polônia. Dois sacerdotes aparecem como os maiores envolvidos
nessa prática de espionagem: Pe. Michal Czajkowski, intelectual ligado ao sindicato
"Solidariedade", que admitiu ter colaborado com o serviço secreto polonês, por 24
anos. E o dominicano, Pe. Konrad Heimo, que sempre se ocupou, em Roma, de acolher
os peregrinos poloneses que iam às audiências com João Paulo II" _ diz o Cardeal Glemp,
confirmando que "as provas estão nos documentos e nas cartas publicadas no ano passado"
"Pessoalmente
_ sublinha _ estou convencido de que Pe. Heimo prestava informações, fazia relatórios".
O purpurado se mostra muito crítico frente a essa tendência de querer "condenar esta
ou aquela categoria, os médicos, os jornalistas ou os padres, esquecendo que se vivia
num período muito difícil".
A Igreja na Polônia tomou uma posição frente a
esses padres espiões, convidando os responsáveis ao arrependimento e a uma expiação
pública, por meio de um ''Memorando sobre a colaboração de alguns sacerdotes com os
órgãos de segurança da Polônia nos anos 1944-1989", publicado no dia 25 de agosto
passado.
O Cardeal Glemp faz votos de que esse capítulo possa ser superado
e o processo de verificação, completado. (MZ)