Atenas, 28 ago (RV) - Um grupo de monges ortodoxos anciãos, que vive no mosteiro
de Esphigmenou _ um dos vinte mosteiros milenares do Monte Athos, na Grécia _ recebeu,
no dia 14 de agosto passado, uma intimação judicial, para comparecer ao fórum de Tessalônica
no dia 29 de setembro, para responder às acusações de "cisma e heresia".
Trata-se
de um grupo inofensivo de religiosos idosos e enfermos _ o mais jovem tem 73 anos
e o mais idoso, 103 _ que, com suas obstinadas posições ultraconservadores, acabou
desencadeando uma guerra (primeiramente teológica e agora também judicial) contra
o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I.
"Estamos sendo perseguidos, por
favor, ajudem-nos" _ é o pedido dos monges, publicado na Internet. Na rede, eles contam,
detalhadamente, o estado atual do conflito. A acusação que fazem contra eles _ de
"cisma e heresia" _ feita por um governo contra os próprios cidadãos, nunca foi vista
na história da Europa moderna _ se lê no site.
"Este capítulo da história européia,
no qual a Igreja acusa qualquer um e obriga o Estado a confiscar suas propriedades
(...), é um capítulo sombrio que voltou a fazer parte da vida da Grécia atual" _ diz
o site.
Os atritos antigos e já bem enraizados tiveram origem na atitude dos
monges _ considerados heréticos _ que se recusam a aceitar o ecumenismo e as posições
de abertura para com Roma e o Papa.
"O patriarca da Igreja Ortodoxa não é infalível"
_ dizem os monges. No entanto, a demanda legal, apresentada ao Tribunal, teve início
anos atrás, quando o patriarca teria querido confiscar algumas propriedades dos monges.
O governo grego "agindo sob pressão" se mostrou "vergonhosamente submisso" e induziu
o Ministério do Exterior (do qual depende o status autônomo do Monte Athos) a intervir
com uma ação de despejo, deliberada pelo Conselho de Estado. Assim, há meses os monges
vivem abusivamente confinados, pois lhes foram cortadas as linhas telefônicas, a eletricidade
e sua aposentadoria.
O site do mosteiro (administrado por alguns amigos dos
monges) denuncia que os monges não recebem mais alimentação, remédios, nem assistência
médica. Uma aguerrida advogada, Ifigenia Kampsidou, professora de Direito Constitucional
na Universidade de Tessalônica, se ofereceu para defender gratuitamente os monges.
"Quero fazer o máximo por eles _ disse ela numa entrevista ao jornal "Foglio" _ quero
levar o caso dos meus monges ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, em Estrasburgo,
pelo tratamento cruel ao qual estão sendo submetidos." (MZ)