A esperança cristã que transparece do Livro do Apocalipse: a mensagem de Bento XVI
na audiência geral. O Papa evoca as dificuldades, incompreensões e hostilidades que
a Igreja sofre hoje em dia em várias partes do mundo.
Tendo, em semanas anteriores, comentado a figura do Apóstolo João, a partir do quarto
Evangelho, e seguidamente também das três Cartas a ele atribuídas, Bento XVI deteve-se
hoje no “Vidente do Apocalipse”, o “vidente de Patmos”, pequena ilha do Mar Egeu onde,
segundo o seu próprio testemunho autobiográfico, ele se encontrava deportado “por
causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus”. O Livro do Apocalipse deve
ser “compreendido tendo como pano de fundo a dramática experiência das sete Igrejas
da Ásia que no final do primeiro século tiveram que enfrentar grandes dificuldades
para testemunhar a Cristo. É a elas que João se dirige, revelando viva sensibilidade
pastoral em relação aos cristãos perseguidos, que ele exorta a permanecerem firmes
na fé, sem se identificarem com o mundo”. “ “Uma das principais visões do Apocalipse
– observou Bento XVI – tem por objecto o Cordeiro no acto de abrir um Livro que estava
fechado com sete selos que ninguém conseguia desligar. João é apresentado a chorar,
por não haver ninguém digno de abrir o livro e de o ler.”. “Este pranto de João
perante o mistério da história tão incompreensível exprime talvez o desconcerto das
Igrejas asiáticas pelo silêncio de Deus perante as perseguições a que se encontravam
expostas naquele. É um desconcerto no qual bem se pode reflectir o mal-estar perante
as graves dificuldades, incompreensões e hostilidades que também hoje a Igreja sofre
em várias partes do mundo. São sofrimentos que a Igreja não merece, assim como Jesus
não mereceu o seu suplício. Essas dificuldades, revelam não só a maldade do homem
quando se abandona às sugestões do mal, mas também como Deus conduz superiormente
os acontecimentos. Pois bem, só o Cordeiro imolado é capaz de abrir o livro selado,
revelando o seu conteúdo, de dar sentido a esta história, obviamente tantas vezes
absurda. É o Cordeiro que dela pode tirar indicações e ensinamentos para a vida dos
cristãos, aos quais a sua vitória sobre a morte traz consigo o anúncio e a garantia
da vitória que também eles sem dúvida obterão”. “O que João deseja instilar nos
seus leitores – sublinhou Bento XVI – é uma atitude de corajosa confiança. Com as
suas imagens fortes e por vezes difíceis, não pretende propor enigmas a resolver,
mas sim apontar o caminho de uma esperança segura, que se abandona serenamente a Deus
e a Jesus Cristo”. “O Apocalipse de João, embora repleto de contínuas referências
a sofrimentos e tribulações – a face obscura da realidade – está igualmente embebida
de frequentes cantos de louvor, que representam como que a face luminosa da história…
Estamos perante o típico paradoxo cristão, segundo o qual o sofrimento nunca é advertido
como a última palavra, mas sim como ponto de passagem para a felicidade, mais ainda:
o sofrimento é já misteriosamente embebida da alegria que brota da esperança”. Presentes
na Aula Paulo VI do Vaticano, nesta quarta-feira, certo número de peregrinos portugueses
que cantaram o Ave de Fátima e aos quais o Papa dirigiu uma saudação "Envio uma
particular saudação aos peregrinos de língua portuguesa aqui reunidos, mormente o
numeroso grupo de Portugal e os visitantes do Brasil. Faço votos por que esta passagem
por Roma “para ver a Pedro” reforce a própria fé na Igreja fundada por Cristo, e anime
a um maior compromisso de oração e de ação pela difusão do seu reino neste mundo".