Transmitir a fé na família: a homilia de Bento XVI na missa conclusiva do Encontro
Mundial de Valência.O Papa pede que se respeite e promova a realidade do matrimónio
e salienta que a fé não é herança cultural mas sinal da liberdade do homem. O proximo
encontro mundial das familias será no México em 2009.
“A família, assente no matrimónio indissolúvel entre um homem e uma mulher, exprime
a dimensão relacional, filial e comunitária (do ser humano), (constituindo) o âmbito
onde o homem pode nascer com dignidade, crescer e desenvolver-se de um modo integral”.
“Os pais têm o direito e o dever de transmitir aos filhos o património de experiência
que eles próprios receberam”, iniciando-os também no encontro com Deus”. Recordou-o
com vigor o Papa Bento XVI, na homilia da Missa conclusiva do Encontro Mundial das
Famílias, neste domingo de manhã, em Valência, com a participação de um número incontável
de fiéis.
O pontífice começou por sublinhar que a família se apresenta “como
uma comunidade de gerações e garante de um património de tradições”. E isso porque
“nenhum homem dá a si mesmo o ser nem adquiriu por si só os conhecimentos elementares
da vida. Todos recebemos de outros a vida e as verdades básicas”. Todos “estamos chamados
a alcançar a perfeição em relação e em comunhão amorosa com os outros”. “Quando um
filho nasce, através da relação com os seus pais ele começa a fazer parte de uma tradição
familiar, que tem raízes ainda mais antigas.” “Os pais têm o direito e o dever inalienável
de transmitir aos filhos (esse património familiar): educá-los na descoberta da sua
identidade, iniciá-los na vida social, no exercício responsável da sua liberdade moral
e da sua capacidade de amar através da experiência de ser amados e, sobreuto, no encontro
com Deus”.
“Na origem de todo o homem e mulher, e portanto em toda a paternidade
e maternidade humana está presente Deus Criador. Por isso os esposos devem acolher
à criança que lhes nasce como filho que não é apenas seus, mas também de Deus que
o ama por si mesmo e o chama à filiação divina. Mais ainda: toda a geração, toda a
paternidade e maternidade, toda a família tem o seu princípio em Deus, que é Pai,
Filho e Espírito Santo”.
Bento XVI insistiu no facto de que o que está “na
origem de todo o ser humano” “não o acaso ou a casualidade, mas sim um projecto do
amor de Deus”, como nos foi revelado por Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus e
homem perfeito”, que “conhecia de quem vinha e de quem vimos todos nós: do amor do
seu Pai e do nosso Pai”..
“A fé não è, portanto, mera herança cultural, mas
sim uma acção contínua da graça de Deus que chama e da liberdade humana que pode
aderir ou não a essa chamada. Embora ninguém possa responder por outrem, em todo o
caso os pais cristãos estão chamados a dar um testemunho credível da sua fé e esperança
cristã”.
Com o passar dos anos, este dom de Deus… precisará de ser cultivado
com sabedoria e doçura, fazendo crescer nos filhos a capacidade de discernimento,
levando-os a fazerem seu o dom da fé, descobrindo juntamente com a comunidade cristã
o sentido profundo da existência”.
Como já recordara na vigília de sábado
à noite, também nesta homilia da Missa conclusiva do encontro das Famílias, o Papa
referiu a importância de educar a liberdade e para a liberdade”, advertindo porém
sobre os desvios em relação à verdadeira liberdade crista:.“Na cultura actual, muitas
vezes exalta-se a liberdade do indivíduo concebido como sujeito autónomo, como ele
se se fizesse a si próprio, independentemente da sua relação com os outros e alheio
à sua responsabilidade para com eles.”
“Pretende-se organizar a vida social
só a partir de desejos subjectivos e mutáveis, sem qualquer referência a uma verdade
objectiva prévia como são a dignidade de cada ser humano com seus deveres e direitos
inalienáveis, ao serviço do qual se deve colocar todo o grupo social. “A Igreja
não cessa de recordar que a verdadeira liberdade do ser humano provém do facto de
ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. A educação cristã é, portanto, educação
da liberdade e para a liberdade. Nós fazemos o bem não como escravos, que não são
livres de agir de outro modo, mas sim porque somos pessoalmente responsáveis em relação
ao mundo; porque amamos a verdade e o bem, porque amamos o próprio Deus e, portanto,
também as suas criaturas. É esta a verdadeira liberdade, à qual nos quer conduzir
o Espírito Santo”.
O Papa convidou os fiéis cristãos, antes de mais os esposos,
filhos e pais, a porem os olhos em “Jesus Cristo o homem perfeito, exemplo de liberdade
filial”. E sublinhou que reconhecer e ajudar a instituição (matrimonial) “é um dos
maiores serviços que se podem prestar hoje em dia ao bem comum e ao verdadeiro desenvolvimento
dos homens e das sociedades, assim como a melhor garantia para assegurar a dignidade,
a igualdade e a verdadeira liberdade da pessoa humana”.
Quase a concluir a
sua homilia, Bento XVI evocou a figura de Maria, “imagem exemplar de todas as mães,
da sua grande missão como guardiães da vida, da sua missão de ensinar a arte de viver,
a arte de amar”. O próximo encontro mundial das famílias será no México. A noticia
foi dada pelo próprio Bento XVI no final da celebração da Missa em Valência, saudando
em várias línguas.