Eucaristia, fonte da caridade; a acção da Igreja perde qualidade e sentido se não
brota e se exprime na Eucaristia, salientou o Patriarca de Lisboa na homilia da Missa
do Corpo de Deus
Milhares de pessoas estiveram ontem presentes na celebração do Corpo de Deus, que
decorreu em Lisboa, presidida pelo cardeal- -patriarca, D. José Policarpo, e que contou
também com a participação de autoridades locais e das forças de segurança. D. José
Policarpo alertou que a "Igreja só atingirá essa perfeição se toda a sua acção for
expressão da caridade".
As cerimónias decorreram na Praça do Município, frente
aos Paços do Concelho, com os primeiros fiéis a chegarem ao local bem antes do início
da celebração, cujo ponto alto foi marcado pela homilia de D. José Policarpo, a que
se seguiu a tradicional procissão pelas ruas da cidade organizada pelas paróquias
e irmandaddes da Baixa-Chiado.
O cardeal-patriarca centrou a homilia na questão
do amor, tema, aliás, da celebração do Corpo de Deus - "Deus é Amor". D. José Policarpo
justificou o tema na "interpelação feita por Sua Santidade o Papa Bento XVI na Encíclica
'Deus é Amor'", onde, segundo o cardeal-patriarca, o Santo Padre "deseja que toda
a sua acção pastoral seja expressão da caridade". E D. José Policarpo lembrou aos
fiéis que a "fidelidade da igreja consiste nisso, ser perfeita na caridade. Só então
ela será verdadeiramente a Igreja que Deus quer e que Jesus ama como uma esposa".
E essa perfeição é atingível pela Igreja "se toda a sua expressão for expressão da
caridade". “Este é o segredo da fidelidade da Igreja: beber na Eucaristia o amor
com que há-de fazer todas as coisas em que concretiza a missão e a resposta à própria
vocação e ao chamamento de Deus. É a partir da Eucaristia que Deus chama e envia:
o anúncio da Palavra torna-se expressão de amor, sentiremos então, que amamos a Deus
amando os irmãos, a nossa oração tende a ser êxtase de amor. Descobriremos que as
forças da nossa natureza são chamamento à plenitude da graça e que os ideais que prosseguimos
só se realizarão plenamente no amor-caridade. A partir da Eucaristia tudo se torna
possível, nada nos assusta. Renunciar por amor torna-se um grito de liberdade, sacrificarmo-nos
por amor identifica-nos com o próprio Cristo. E com que alegria agradecida damos graças
pelo amor amado e pela vida vivida, na próxima Eucaristia que celebramos. A acção
da Igreja perde qualidade e sentido se não brota e se exprime na Eucaristia: a evangelização
é mera proclamação de uma doutrina, o amor fraterno é mera solidariedade, a oração
limita-se à prece, a acção apostólica cheira a proselitismo. Só a Eucaristia reconduz,
de cada vez, a acção da Igreja à sua verdade fundamental.”