Roma e Constantinopla: Igrejas verdadeiramente irmãs: Bento XVI, na audiência geral,
falando de Santo André.
Depois de, nas semanas anteriores, ter falado do Apóstolo São Pedro, foi ao seu irmão
Santo André que o Papa dedicou a catequese da audiência geral desta quarta-feira,
comentando as passagens evangélicas que a ele se referem. Bento XVI sublinhou a especial
“relação fraterna” que une as “Igrejas Irmãs” de Roma e de Constantinopla, correspondendo
à relação dos dois irmãos, aos quais estas duas antigas sedes apostólicas estão desde
sempre ligadas – tendo como patronos, respectivamente, Pedro e André.
Começando
por observar que André é um nome grego, não hebraico, o Papa fez notar que, num episódio
evangélico referido por S. João, André (juntamente com Filipe, também de nome grego),
serviram – junto de Jesus - de intérpretes e mediadores de um pequeno grupo de gregos
que queriam dirigir-se ao Mestre. Ora – prosseguiu Bento XVI - “tradições muito antigas”
consideram André” como “apóstolo dos Gregos”, “anunciador de Jesus para o mundo grego”.
“Pedro, de Jerusalém, através de Antioquia veio ter a Roma, para aí exercitar
a sua missão universal; André, por sua vez, foi o apóstolo do mundo grego: eles aparecem
assim, tanto em vida como na morte, como verdadeiros irmãos – uma fraternidade que
se exprime simbolicamente na relação especial existente entre as Sedes de Roma e de
Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs”. Bento XVI recordou que foi “para
sublinhar esta relação” que o seu predecessor o Papa Paulo VI, em 1964, restituiu
as relíquias de Santo André até então conservadas na basílica do Vaticano, ao Bispo
metropolita ortodoxo da cidade de Patrassos , na Grécia, onde, segundo a tradição,
o Apóstolo foi crucificado. Foi em resposta a uma pergunta apresentada por André
que Jesus referiu que “se o grão de trigo, que cai na terra, não morre, permanece
só; mas se morre, produz muito fruto”. Neste contexto concreto – considerou o Papa
– com estas palavras Jesus alude à fecundidade que a sua morte redentora terá no mundo
grego, entre os pagãos, como fruto da sua Páscoa. Como se Jesus dissesse: “Da minha
morte na Cruz virá a grande fecundidade: o ‘grão de trigo morto’ – símbolo de mim
crucificado (diz Jesus) – tornar-se-á na ressurreição pão de vida para o mundo; será
luz para os povos e as culturas. Sim, o encontro com a alma grega, com o mundo grego,
realizar-se-á àquela profundidade a que alude o caso do grão de trigo que atrai a
si as forças da terra e do céu e se tornar pão. Noutras palavras, Jesus profetiza
a Igreja dos pagãos como fruto da sua Páscoa” Na parte final da sua catequese,
em italiano, nesta audiência geral, sobre a figura do Apóstolo Santo André, Bento
XVI referiu ainda a tradição que refere a morte do irmão de Pedro, em Patrassos, crucificado
não numa cruz como a de Cristo, mas sim numa em forma de xis, desde então designada
precisamente como “cruz de Santo André”. Citado um texto do século VI intitulado “Paixão
de André”, que põe na boca do Apóstolo palavras de profundo amor à “Cruz bem-aventurada”,
entendida como “um dom”, que comunica grande alegria interior identificando com Jesus
crucificado. “Temos aqui uma profundíssima espiritualidade cristã que vê na Cruz não
tanto um instrumento de tortura mas sim o meio incomparável de uma plena assimilação
ao Redentor. Devemos aprender daqui uma lição muito importante: as nossas cruzes adquirem
valor se consideradas e acolhidas como parte da Cruz de Cristo, se banhadas pelo reflexo
da sua luz. Bem conscientes que só a partir daquela Cruz os nossos sofrimentos assumem
nobreza e o seu autêntico sentido”.
Presentes nesta quarta-feira, na Praça
de São Pedro, para a audiência geral, peregrinos de língua portuguesa. O Papa dirigiu-lhes
a palavra em português: "Amados irmãos, Nossa
Catequese de hoje se centra na figura do Apóstolo André, irmão de Pedro. A Igreja
bizantina honra-o com o nome de Protóklitos, ou seja o que foi “chamado por primeiro”,
por ter sido o primeiro entre os apóstolos a seguir o Senhor. Depois dele viriam todos
os demais, antes de mais Pedro, a quem o Messias confiaria a sua Igreja. André foi
o apóstolo do mundo grego; por isso, ele exprime uma simbólica aliança entre a Igreja
de Roma e a de Constantinopla. Ao recorrer à intercessão deste grande apóstolo,
peço a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa, especialmente os grupos
vindos de Portugal e do Brasil, que rezem pela unidade da Igreja e pela comunhão de
todos os cristãos. Com a minha bênção Apostólica. "